Máscara

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O quarto era especial. Escolhido como um presente do príncipe ao seu melhor amigo, era o único entre os funcionários de tarefas consideradas básicas que se localizava no primeiro andar.

Era espaçoso, organizado, com pilhas de cartas e caixas lacradas muito bem posicionadas aos cantos. A decoração era agradável, tudo em tom de marrom e branco.

Os olhos castanho-escuros miravam o ser deitado em sua cama com certo receio. O corpo inerte e digno de atenção estava posicionado com o peito para cima e as mãos uniam-se sobre a barriga magra.

– A última vez que o vi deste jeito foi quando Sparkle te deu um coice na coxa...

– Eu o perdoei... na época era apenas um potro.

– E qual foi o potro que te atacou agora?

O visitante do quarto suspirou.

– Shepersfield.

– Shepersfield?!

– Shepersfield, Liam...

O carteiro se sentou no que sobrara da própria cama e encarou ao amigo, que mantinha sua face do mesmo modo.

– Hoje... é a festa do seu noivado.

– Já tive uma dessas – Styles levantou um dos ombros.

– Mas a lei implica que noivados perdem a validade se o casamento não aconteceu em até sete anos após o pedido.

Pela primeira vez desde que se deitara, Harry ergueu a mão direita no ar e abaixou os dedos, um a um, com o intuito de calcular alguma coisa.

– Ninguém me disse que eu estava solteiro aos dezesseis.

– E por que não está animado para se casar aos vinte e seis? Digo, será ano que vem...

O príncipe fechou os olhos lentamente, como se tentasse continuar com a ideia de acumular lágrimas, mas sem soltá-las. Estava acostumado a fazer aquilo, sequer se lembrava da última vez que chorou.

– Harry?

– Não há motivos coerentes, eu sei. – Engoliu a tristeza. – Sou tolo por não estar animado.

– Isto é porque está nervoso – observou Liam. – Tudo ficará bem, você vai ver.

O cacheado respirou fundo e deu de ombros. Não queria preocupar o amigo, pois o conhecia o bastante para saber que ele e seu pai eram idênticos quando se tratava de tentar deixa-lo em estado de perfeição.

– Os ensaios foram ótimos nesta semana – o carteiro voltou a falar.

– Sim, foram.

Os ensaios eram a pior parte. Harry não podia sequer fingir que não estava animado, tudo o que importava era aquela aliança gananciosa e frágil a ponto de precisar de um matrimônio para usá-la.

Teve que escrever um discurso de boas-vindas aos convidados – aqueles que não convidara de fato –, escrever seu pedido de casamento – aquele que não queria fazer –, teve que ensaiar danças e mais danças com sua noiva – para as quais a própria não dava a menor importância. Nem ele.

– E por que não está feliz, meu amigo?

– Liam... eu...

– Diga, posso ajudá-lo com isso – insistiu Payne com um olhar preocupado.

– Eu só estou cansado, saber que terei de ver todas essas pessoas me dá ainda mais cansaço. Além disso, estou com medo de um ataque da Interrupção acontecer.

Peculiar - ZarryOnde histórias criam vida. Descubra agora