Amora

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As mãos grandes seguravam a xícara de chá pelas laterais, ignorando a asa específica para isso e as aulas de etiqueta que frequentara ao longo dos anos. Não se importava, pois além de chocado, encontrava-se imerso em uma sensação libertadora.

Bebericou um pouco do líquido quente e pousou a xícara com cuidado no pires. O outro, que segurava o recipiente com apenas uma mão, usava a outra para dedilhar as linhas escritas no diário mais intrigante que ambos leram ao longo de suas vidas.

"Queria ter contado ao Will sobre meus sentimentos, os verdadeiros, aqueles que guardo comigo desde que ele me segurou em seus braços durante uma dança. Pensei que era cedo, tínhamos quinze anos, mas agora é tarde demais".

– Sentimentos são incontroláveis. Até quando ele viveu o luto?

– Ao que parece, eternamente... – respondeu Zayn. – Ele deixou de escrever por anos... só voltou quando chegou aqui.

E voltou a passar o dedo pelas linhas. Harry observou-o enquanto terminava de beber o chá. A concentração do mais velho era contagiosa, visto que os olhos verdes passaram a perseguir as palavras do tataravô.

– Achei! – Malik exclamou.

Styles deu um pequeno salto na cadeira e segurou a xícara com mais força, verificando se o líquido de dentro não tinha escapulido com a movimentação brusca.

– O que foi?

– Oh, não...

– Zayn, você disse que estávamos juntos nisso, me diga o que foi! – Harry reclamou.

O moreno riu e se aconchegou para mais perto do príncipe, beijando o rosto visivelmente estressado. Em seguida, puxou a cintura pela lateral e posicionou o diário de um jeito que ambos pudessem ler. O cacheado então começou:

Cheguei à Cheshire por volta das duas horas da tarde. Octavio me convidou para ficar no castelo, o que me deixou muito feliz, então não tive como recusar! No entanto, pedi que a carruagem viesse pelo início da noite até a estalagem em que estou. Pensei que seria uma boa ideia visitar o reino antes, somente para saber com o que estou lidando.

Zayn continuou:

– Visitei o porto, alguns museus e um restaurante movimentado. Enquanto esperava para ser atendido, um sujeito sentou-se comigo e me perguntou de onde eu vinha. Quando respondi que era nato da Inglaterra, ele riu de mim e acariciou a minha mão.

"Depois que me livrei do toque repentino, o sujeito sem nome teve a audácia de me perguntar se estava comprometido. Neguei, sugeri que fosse embora. Ele então perguntou-me diretamente se eu era heterossexual. Respondi que não, obviamente, e que o meu grande amor tinha passados seus últimos minutos naquele reino".

– Ele sorriu com ternura e me convidou para sair. Não posso negar, era um homem atraente. Estou há tanto tempo sem me envolver com ninguém, que resolvi dar uma chance ao amor. Acho que Will ficaria feliz em me ver feliz, pois acima de tudo, éramos melhores amigos.

– Enviei uma carta rápida para Octavio, avisando que iria ao castelo pela manhã. O sujeito misterioso disse que só revelaria seu nome ao final da noite, tanto que nem perguntou o meu. Pela primeira vez em quase onze anos, sinto que vou beijar na boca. Mal posso esperar!

Zayn então virou a página e ambos perceberam que estava preenchida em linhas tortas e fora de ordem. Esforçando-se a compreender, Harry começou:

– Estou tonto, cairei se não parar de escrever.

– Estou com dores em minha cabeça, meu corpo inteiro dói – Malik continuou.

Peculiar - ZarryOnde histórias criam vida. Descubra agora