Crenças

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Olá, rabias 🗼! Todas confortáveis no chão do P6 ?

Trago novidades, ok ?? Pela primeira vez teremos uma narração sob a perspectiva da Rafinha <333

Cuidem- se nessa quarentena e divirtam-se com o cap.

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POV RAFAELLA KALIMANN

Rafaella era um mulher nascida no interior de Minas Gerais nos anos 90. Numa época em que a TV era bem menos diversa que hoje e também não havia internet pra ampliar os horizontes, isso significava que realidade da Rafa era só aquele mundinho ali. E nesse mundo não existiam pessoas LGBTT*. Simplesmente não existia uma só pessoa. Ela até ouvia algumas histórias... sempre em tom de piada pervesa, mas tudo tão impessoal que mais parecia lenda urbana. Então, na cabeça da jovem simplesmente não lhe passava a possibilidade de se sentir atraída por alguém do mesmo sexo. Quando ela achava uma coleguinha muito bonita e encantadora, ela interpretava aquilo como desejo de ser como ela. Quando ela gostava muito de uma amiguinha e requeria sua presença constante, entendia aquilo como uma vontade de ser amiga dela. Basicamente, Rafaella seguiu o script padrão para a época: beijou um menino aos 12 anos e transou com um menino aos 16. Até que no no 3º ano se aproximou muito de uma amiga, "aquela amiga". É bem provável que toda pessoa não heterossexual já tenha tido "aquela amizade", que não é bem amizade (às vezes só se descobre isso anos depois) e muda tudo. Rafaella tinha um vontade incontrolável de ficar junto a garota, mas ok, né ? Normal, afinal eram melhores amigas. Rafaella tinha pavor que ela ficasse os meninos da sala, mas ok, né ? Normal, não queria dividir a atenção da menina. As coisas começaram a sair da "normalidade" quando ela começou a sentir seu coração disparar ao vê-la, quando começou a ter curiosidade em vê-la nua, quando começou a desejar sentir seus lábios, quando começou a ter sonhos "quentes".  E nesse momento ela começou a se questionar que caralho estava acontecendo consigo mesma. Mas tudo isso em silêncio, não podia contar a ninguém, lógico. Um dia numa nessas revistas de adolescente achou um questionário "você gosta de garotas?" e o resultado foi "você muito provavelmente gosta de garotas e está apaixonada pela melhor amiga". Sim, foi assim que Rafaella teve sua sexualidade confrontada pela primeira vez: através da revista Capricho. Ficou apavorada, principalmente por não poder contar a ninguém, nem a sua mãe a quem tudo confessava. Chorou por dias, olhava-se no espelho e não se reconhecia: que tipo de ET ela era? Todo mundo era hétero menos ela? Então, tomou coragem e levou essa questão para o dia de confissão da sua igreja. Sendo bem honesta ela não levou exatamente essa questão, censurou e omitiu tanto a história que no fim sua confissão basicamente foi "gosto muito de uma amiga, talvez tenha me tornando um pouco possessiva". O conselho que recebeu foi que devia rezar um terço diariamente e logo esses pensamentos pecaminosos sairiam da sua cabeça. Bom... a enquete da Capricho dizia que se a pontuação fosse entre 16-20; muito provavelmente a pessoa não seria hetero e caralho, Rafaella havia feito 19 pontos (a situação lhe parecia grave). Então, ela sabia que esse "logo" não era tão longo assim e seriam necessários muitos terços. Assim Rafaella o fez, desde os 17 anos até o momento, ela se ajoelhava e pedia a Deus que não permitisse que ela se apaixonasse por uma mulher. Entretanto, agora havia Bianca Andrade na sua vida.

" MEU DEUS ! A BIA !! O que que eu fiz ?" Primeiro pensamento que lhe ocorreu ao abrir os olhos.

Rafaella acabara de acordar em sua cama e já sentia sobre si todos os efeitos que uma majestosa ressaca proporciona. Mas aquele mal estar físico não era nada comparado a sua ressaca moral. Rafaella lembrava com precisão de tudo que lhe ocorreu no dia anterior. Do almoço com sua família. Do pedido de namoro emocionado de Leonardo. Do seu "sim" a contragosto. Das felicitações de sua mãe pelo namorado perfeito. Das doses de uísque em seu apartamento. Do choro desesperado durante o banho. Da chegada ao apartamento de Manuela. Do olhar preocupado e aflito de Bianca sobre si. Do sentimento de angústia e vergonha ao encara-la. Das repreensões das amigas pelas inúmeras taças de vinho. Rafaella lembrava também de cada palavra que falara... falara não, gritara para Bianca dentro do banheiro de Manuela. E elas pareciam ecoar em sua cabeça em replay, aumentando ainda mais seu martírio. Se antes havia Bianca, depois de tudo aquilo, agora não havia mais.

RaBia: Je suis iciOnde histórias criam vida. Descubra agora