Medos

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Olá, rabias 🗼! Como vocês tão ?

A situação que estamos vivendo tá muito foda, por isso não esqueçam de cuidar da saúde mental de vocês, ok ? Se cuidem ❤️

Divirtam-se com o capítulo.

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POV BIANCA ANDRADE

"Bia, você é uma menina muito forte". Bianca ouviu isso de Dona Mônica a vida inteira. Tantas vezes que essas palavras ecoavam na sua cabeça o tempo todo. Bia foi criada para ser forte e de fato, se tornou uma mulher assim. Esse era seu lema de vida. Entretanto, ela sempre interpretou a mensagem de Mônica de maneira equivocada. Bia entendeu que força significava ausência de medo. E bom... sabe-se que uma coisa não tem nada a ver com a outra, né ? Inclusive há sinal de força maior que justamente reconhecer o medo e enfrenta-lo ? Mas para Bianca Andrade era inadmissível ter medo, era sinônimo de vulnerabilidade e ela tinha que ser inatingível. Por isso, Bia não tinha medo, ou pelo menos era isso que acreditava... mas a verdade é que ele estava lá, a carioca só não permitia que chegasse ao seu consciente. E isso foi algo verdadeiramente prejudicial na formação da mulher. Aos 25 anos, Bianca ainda não sabia lidar com esse sentimento, simplesmente por ter vivido  isso pouquíssimas vezes. Uma dos episódios que se recorda foi aos 9 anos quando foi diagnosticada com apendicite. Ela não entendia o que era um apêndice, nem sua serventia nem seu tamanho. Sabia apenas que causava-lhe uma dor de barriga absurda e era necessário retira-lo. Foi ai que Bianca descobriu que cirurgia era uma das poucas coisas no universo capazes de lhe dar medo.

E agora, diante de toda essa situação com Rafaella e de todos os sentimentos envolvidos, Bianca estava novamente apavorada. Sentia-se tão aterrorizada, frágil e vulnerável quanto quando foi colocada em uma sala fria com pessoas desconhecidas com faces cobertas por toca e máscara para abrirem a sua barriga. Foi ai que Bianca descobriu que o amor também lhe provocava medo. E é interessante pensar que é possível traçar um paralelo entre amor e cirurgia. Todo procedimento cirúrgico é dividido classicamente em 4 fases, ou como os cirurgiões gostam de chamar: 4 tempos cirúrgicos. Diérese, Hemostasia, Exérese e  Síntese. No primeiro tempo, há a diérese que nada mais é que usar o bisturi para cortar a pele e os outros tecidos mais profundos. E não é isso que o amor faz primeiro ? Ele atinge o indivíduo criando uma fresta de vulnerabilidade que por mais que parecia pequena é sempre bem profunda. Lógico que ao cortar os tecidos, há sangramento e tudo vira uma pequena bagunça, por isso o cirurgião precisa procurar os vasos sanguíneos estanca-los e limpar o cenário para ter uma visão adequada do corpo. Esse é o segundo tempo, a hemostasia. E dá pra fazer hemostasia no amor também, diria até que é fundamental. É preciso olhar aquele sentimento que é tão caótico e organiza-lo de alguma maneira... buscar entender o cenário com clareza. Bom... Bianca já havia passado por esses dois estágios: se apaixonou e fez um trabalhão pra aceitar e compreender esse sentimento, agora estava pronta pro terceiro tempo, a exérese. Esse é o ponto crucial de toda cirurgia: quando o cirurgião expõe a cavidade completa e retira de lá o que é necessário. E era exatamente isso que Bianca pretendia fazer agora: se expor completamente e por pra fora tudo que estava sentindo. Então, chega o último tempo cirurgico, a síntese: suturar e reconstruir os tecidos para oferecer ao paciente um recomeço. Precisamente o que Bia mais almejava: ao se declarar, esperava se reconstruir e recomeçar ao lado de Rafaella.

- Claro que eu não estou preparada, Manu ! - Bianca falava ao telefone equilibrando-o entre sua cabeça e seu ombro enquanto usava as mãos para abotoar o fecho do sapato. Pra variar, estava de novo atrasada - Na verdade, eu nem sei se eu vou conseguir falar alguma coisa mesmo... Sei lá, a Rafaella tem algum poder que some com as palavras da minha cabeça. Será que ela estudou hipnose com o Pyong ? - esforçava-se para esconder seu nervosismo com tagarelices.
- Ei, fica calma, ok ? Vai dar tudo certo ! Estou mandando boas energias - Manu tentava uma voz suave mas era notória sua ansiedade - Agora, vai logo, Bia ! A Rafa já me ligou aqui perguntando se já pode por a lasanha no forno pra me esperar... Você sabe como ela fica estressada com atrasos ?
- Eu sei, eu sei, Manu. Já estou pedindo o uber. Em 10 minutos no máximo, estarei lá - havia colocado a chamada no viva-voz enquanto seus dedos trêmulos solicitavam uma corrida no aplicativo - Tu tem certeza que o porteiro vai me deixar subir, né Manuzinha ?
- Sim ! Tenho ! Tive lá pessoalmente mais cedo e tá tudo combinado.
- Posso saber que história você inventou ? - Bia não queria desligar a ligação, precisava de companhia pra impedir qualquer surto.
- Eu disse que hoje chegaria uma amiga nossa dos EUA e que não vê a Rafa há 3 anos... então, hoje será um almoço surpresa - seu tom era orgulhoso - O Igor me acalmou dizendo que aquele senhorzinho de 60 anos não é nada familiarizado com internet nem maquiagem, então não vai te reconhecer... mas sei lá, põe um óculos escuro bem grande por vias das dúvidas.
- Já que a amiga vem dos EUA, eu posso falar inglês também ? O que você acha ? Ajuda no disfarce - pôde ouvir a gargalhada da paulista - Tá rindo de que, darling ? I'm learning English now...
- Eu e o mundo sabemos. Você só fala disso no Instagram. Exibida - ainda em meio a risadas - Mas acho que você não precisa gastar seu inglês com o porteiro não, viu ?
- Poxa... já tava animada aqui - era uma brincadeira, lógico ! É possível que no caminho até o apartamento de Rafaella, ela desaprendesse até o português, quem dirá inglês...  - O motorista está chegando. Vou desligar, tá ? Beijos e obrigada. Muito obrigada.
- Ei, Bia - antes que a mulher desligasse - Estou torcendo por vocês duas, ok ? Boa sorte !

RaBia: Je suis iciOnde histórias criam vida. Descubra agora