The body

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John sentia a adrenalina percorrendo todo seu corpo enquanto encarava a tinta  naquim que compunha aqueles dizeres turbulentos.

 A bolsa fora parar nas costas em poucos segundos, deixando a papelada e o chefe boquiaberto de lado. Não se importaria de ser demitido, não se aquela mensagem de Doyoung realmente fosse verídica.

O jornalista não tinha muita ideia do que fazer, as mãos tremulas deslizavam sobre os fios negros enquanto andava sem rumo pelas ruas da cidade. O Seo com certeza se ateria a pedir desculpas por ter esbarrado nas pessoas se estivesse em seu estado normal, mas naquele momento John estava fora de si e mal pode perceber os resmungos de descontentamento quando seus ombros esbarravam com violência nos corpos de outras pessoas. John precisava encontra-lo, precisava encontra-lo o mais rápido possível.

O selo na carta o dava pistas de que esta havia sido enviada dos Estados Unidos, mas John ainda acreditava que tudo aquilo parecia muito irreal. Não queria se agarrar a uma esperança tão mínima, e por isso, aos seus passos largos e apressados, acabou no cemitério da cidade, bem a frente do túmulo do “irmão mais novo”.

John apertava os punhos enquanto encarava a lápide e as flores brancas que descansavam no túmulo do garoto. Sua garganta encontrava-se fechada enquanto uma lágrima solitária passeava por sua bochecha. O resultado não poderia ser outro, a carta do detetive acabara amassada e molhada. Mark não estava ali, ele sentia. Mark estava vivo.

O americano que tanto queria acreditar que Kim Doyoung estava certo, ainda não havia parado para se perguntar: se aquele corpo realmente não pertencia a Mark, a quem poderia pertence-lo?

XXX

Donghyuck esgueirava-se pelos vagões passeando com os olhos por cada janela que encontrava. As mãos entrelaçadas às do canadense seriam sua garantia de que Mark não acabaria fugindo enquanto Simon estivesse fora, e aquilo que mais lhe atormentava acabasse acontecendo.

O adolescente não era capaz de explicar, até porque nem mesmo Kun tinha respostas para tal, mas este já havia experienciado por mais de uma vez que a ausência do homem de cartola enfraquecia seus poderes psíquicos de modo que, vez ou outra, alguns artistas do Circo voltavam a si. Aquilo havia acontecido com Kim Jungwoo quando Simon os permitiu que saíssem para brincar, este que, de uma hora pra outra, convenceu Donghyuck de que deveriam fugir.

Haechan não sabia bem se o mais velho havia atingido seu objetivo, mas as palavras de Simon nunca lhe foram tiradas da memória: Simon prometera mata-lo e exibi-lo em uma apresentação como um dos bonecos ventríloquos que o Kim carregava.

Donghyuck sentia-se feliz por Simon nunca ter encontrado um novo ventriloquista, já que, lá dentro de si, ela ainda tinha muito medo de acabar vendo o corpo sem vida do antigo amigo no colo alheio.

— Haechan...você não tinha ensaio hoje? Por que tá olhando feito um maluco pras essas janelas? — Mark perguntou com um sorriso mínimo, não entendia bem o que outro tanto procurava, mas curtia o fato de que os dois estavam andando de mãos dadas.

O mais novo encarou o canadense com receio, não sabia bem como explicar a situação sem assusta-lo ou ser trajado como maluco. Só queria garantir que enxergasse os traços de Simon por perto, seja no rosto do próprio, seja no de Kim Doyoung.

— N-não é nada... Só fique comigo, está bem?

Nem mesmo o assentir de Mark com um sorriso bonito no rosto foi capaz de acalmar o mais novo. Pensava a todo tempo que Mark poderia acabar longe de si, assim como Jungwoo e Taeil.

Pensava que o mais velho poderia ficar com raiva e nunca perdoa-lo, afinal de contas ainda sentia-se culpado por ter sido idiota a ponto de ter enfiado o mais velho naquela furada. Nunca fora sua intenção, mas de alguma forma sentia que era o maior culpado por Mark ter perdido parte de si para Simon.

O coração de Donghyuck batia forte enquanto este percebia que os vagões, e consequentemente as janelas, estavam acabando e nada da familiar feição que costumava aterroriza-lo dar sinais de vida. Esta feição que agora trazia a si um novo tipo de sentimento o qual jamais havia experimentado antes: a esperança. Donghyuck não entendia bem os próprios sentimentos, mas o que queria era que Doyoung aparecesse e finalmente o salvasse como havia prometido.

Não conseguia deixar de pensar nas palavras do Kim, de que, assim como Mark, também possuia uma família. Não conseguia deixar de pensar de que talvez ele  também não houvesse sido abandonado... Talvez houvesse alguém procurando por ele, alguém que ainda estivesse esperando para tê-lo de volta. Alguém que o pudesse explicar porque  era tão diferente.

No meio de seus devaneios, enquanto o  apoiava-se em uma das últimas janelas que restavam, Donghyuck sentiu o calor das mãos do canadense desaparecerem. Mark havia soltado sua mão, causando espanto no monstrinho.

 O Lee mais novo acabou contorcendo o pescoço, buscando entender o porquê do garoto ter reagido de tal forma, mas o que encontrou foi ainda mais espantoso.

A expressão de Mark era de alguém que estava amendontrado, e o mais novo logo sentiu seu coração se apertar, absorvendo tal sentimento.

 Mesmo sem entender o que estava acontecendo e porque o mais velho agia assim, Donghyuck sentia que este havia visto algo muito ruim. Mal sabia ele que estava mais do que enganado.

O desespero havia o corrompido por completo quando notou que um líquido vermelho escorria do nariz de Mark, e que segundos depois seus olhos estavam brancos. Haechan nunca havia presenciado aquele tipo de coisa, mas sabia por todos os machucados que havia sofrido, que vermelho nunca significava coisas boas.

Os gritos esganiçados de Donghyuck tinham o intuito de chamar atenção para que alguém viesse ajuda-lo, no entanto, acabaram servindo para que a figura familiar que Mark havia visto se afastasse assustada para longe. Se afastasse para bem perto das garras asquerosas de Simon.

Naquela manhã, mais alguém que havia escapado das mãos de Simon, estava a ponto de sofrer com as consequências de ter o desafiado.

𝙲𝚒𝚛𝚌𝚞𝚜 𝙼𝚘𝚗𝚜𝚝𝚎𝚛 - 𝙼𝚊𝚛𝚔𝚑𝚢𝚞𝚌𝚔Onde histórias criam vida. Descubra agora