Capítulo Cinco

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Meu rosto estava molhado de lágrimas e a imagem do meu pai se repetia na minha cabeça, várias e várias vezes. Por um momento, minha cabeça esvaziou. Não conseguia pensar em nada. Meu corpo começou a tremer. Queria que o tempo voltasse, para que eu tentasse ajudar de alguma forma. Para que eu tentasse impedir o que acabara de acontecer. Mas eu ainda não acreditava. Nada disso poderia ser verdade. Não era real. Não era real.

Eu insistia em continuar olhando para o corpo, imóvel, enquanto tentava perceber algum movimento vindo do meu pai, mas ele não se mexia. Os homens começaram a correr em nossa direção e eu continuava parada. Não tinha reação alguma. Lágrimas escorriam pelo meu rosto, que já estava molhado com elas. Era como se eu tivesse congelado no tempo, esperando que meu pai se levantasse e tudo fosse uma grande mentira. Eu não entendia porque aquilo tinha que ter acontecido. Não com o meu pai. Não com a única pessoa que realmente podia chamar de família.

Ouvi mais um tiro. Olhei para a parede ao meu lado onde a bala havia se alojado. Eles continuavam atirando, mas eu ainda não conseguia me mover. Senti uma mão me puxando para cima. Era o James. Ele havia descido novamente do poço. De repente, toda a adrenalina voltou ao meu corpo de vez. Voltei a subir rapidamente, ao lado dele. Senti uma dor aguda no braço e acabei deixando um grito escapar. Tentei continuar subindo. James me puxou para fora do poço de iluminação.

Assim que pisei na neve, a claridade invadiu meus olhos e por um breve instante fui forçada a fechá-los, pois apesar de estarmos quase no fim da tarde, não estávamos acostumados a ter contato direto com o sol. Ouvi mais alguns tiros vindos de dentro da montanha. Aos poucos, meus olhos se acostumavam e eu podia ver com mais nitidez. Nós estávamos quase no topo de uma montanha coberta por neve e para qualquer lugar que eu olhasse tudo que podia ver eram mais montanhas como a nossa.

Eu estava correndo, meus pés estavam pesados por causa da neve que subia quase até as canelas e eu me esforçava para ir cada vez mais rápido. A sensação de pisar na neve era muito estranha, pois apesar de termos tido neve no chão da montanha algumas vezes, nunca tivemos aquela quantidade. Era como se pisássemos nas nuvens, ou pelos menos, era o que eu imaginava que seria pisar nas nuvens.

O medo tomava conta de mim e havia um único pensamento que não conseguia tirar da cabeça agora, mesmo depois de alguns minutos correndo sem olhar para trás. Eu tinha plena e absoluta certeza de que ainda estávamos sendo seguidos.

O medo era tanto, que eu me forçava a olhar somente para o que estava a minha frente e correr. Eu tinha que fugir e não podia olhar para trás. Meus cabelos estavam molhados com uma mistura de neve e suor. Estava nevando muito forte, mas não deixava que isso me impedisse de ir mais rápido. O ar preenchia meus pulmões em maior quantidade à medida que descíamos a montanha. E a adrenalina era maior a cada passo.

James ainda segurava a minha mão, mas de certa forma eu não queria que ele largasse. Era reconfortante, apesar do medo que eu estava sentindo.

Quando eu e James nos juntamos ao grupo, Vanessa e Alex estavam atrás, pois sempre foram os mais lentos. Apesar disso, Alex estava correndo muito mais do que o normal, e acabava tropeçando algumas vezes na neve pesada. Sua pele estava rosada, como sempre ficava quando ele fazia muito esforço. Mas eu sabia que não importaria o quanto ele corresse, ele não seria o primeiro a parar por cansaço. Assim como Vanessa e Liz, que mantinham um ritmo não tão rápido para conseguirem acompanhar os outros sem se cansar muito.

Aos poucos Alex começava a diminuir um pouco o ritmo e as meninas conseguiam alcançá-lo novamente. Luke estava correndo ao lado de Mitt e começava a correr mais devagar, deixando que Mitt liderasse.

Estávamos correndo há horas e nenhum de nós havia se certificado se ainda estávamos sendo seguidos. Talvez estivéssemos tomados pelo mesmo medo. Ou simplesmente não conseguíamos acreditar que estávamos finalmente livres e precisávamos parar o mais longe possível da nossa prisão, que fora por tanto tempo o que chamamos de lar.

Depois do Fim do MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora