Capítulo Um

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"Eu estava correndo. Mil coisas se passavam pela minha cabeça e tudo que eu conseguia fazer era correr, o mais rápido possível. Era como se tivesse uma energia dentro de mim querendo extravasar, estar livre. Passava por entre as árvores, sentindo o vento tocar meu rosto suavemente, passando por meus cabelos, que pareciam ainda mais loiros por causa do sol, e os jogando para trás, quase sendo impedidos de tocar as minhas costas. Já fazia um tempo que estava sendo acompanhada por uma única borboleta, que de certa forma me mostrava o caminho. Era tudo tão verde, tão lindo, mas eu não queria parar para analisar a beleza do lugar, pois sentia uma vontade imensa de ir cada vez mais longe. Eu sabia que não estava sozinha, mas não tinha medo, pois sentia que de alguma forma estava sendo protegida. Como se a adrenalina que corria por minhas veias me pedisse para ir mais rápido, para me aventurar por lugares que nunca estive. Eu estava correndo por horas, sem me cansar, quase como se estivesse livre. Eu estava fazendo a coisa que mais gostava. Correr... E me sentia bem. De repente, ouvi alguém me chamando, uma voz que ecoava dentro da minha cabeça e vinha de um lugar bem distante, repetindo-se e ficando cada vez mais próxima e mais alta".

— Lexi, Lexi! — Abri os olhos devagar, percebendo que a voz no meu sonho na verdade era James tentando me acordar. Balançando meu braço de leve, para que eu desse algum sinal de vida. — Levanta! Seu pai está aqui para falar com você.

Eu ainda pensava no sonho, não queria ter que voltar pra realidade tão rápido assim. Pelo menos, não essa realidade em que eu vivia. Não consegui focar nas palavras dele logo que as ouvi, mas quando me dei conta do que ele havia dito, levantei, apoiando os cotovelos no colchão e sentando logo depois, ainda meio cambaleante por causa do sono.

— O que ele está fazendo aqui essa hora? — Minha voz deixava transparecer a confusão que sentia. Meus olhos agora conseguiam focá-lo, e aquela sensação de adrenalina do sonho estava voltando, mas não era algo bom. Sabia que alguma coisa estava errada.

— Eu não sei. — Ele me respondeu. — Mas parece urgente.

— O sol mal apareceu. — Afirmei, olhando por uma brecha que se formava na entrada da tenda em que eu dormia.

Observei James por um instante, percebendo que seu semblante era tão preocupado quanto o meu devia estar. Os cabelos pretos estavam levemente arrepiados, mas era quase imperceptível devido ao comprimento dos fios, muito curtos. Pela sua voz sonolenta, havia acabado de se levantar da cama, ou nem tinha conseguido dormir, considerando o horário em que veio me acordar.

Eu não tinha certeza do horário exato, para falar a verdade, nos guiávamos apenas por uma pequena brecha na montanha que fazia com que o sol atingisse o chão a certas horas do dia. Podia dizer apenas que estávamos no começo da manhã e que meu pai nunca aparecia por aqui essa hora, ele dizia ser muito arriscado.

Além de relógio natural, a abertura na montanha era nossa única fonte de luz. Tirando pela luz da fogueira, é claro, que acendíamos durante a noite e durante o inverno, para que o frio da Montanha não nos atingisse tanto. Apesar de que tínhamos neve durante mais da metade do ano. Já estávamos tão acostumados que só sentíamos o frio quando as temperaturas estavam realmente baixas, ou seja, no inverno.

— Fala para ele me esperar, vou tentar ser rápida. — Esperei que James saísse para que eu pudesse começar a me arrumar.

Ao levantar do colchão, me esforçava para fazer o máximo de silêncio possível. Sabia que Liz acordava por qualquer coisa e tinha o sono muito leve, não queria acordá-la tão cedo e estragar os seus sonhos assim como já fizeram com os meus. Eu caminhava bem devagar, tomando cuidado para pisar nos lugares certos ao atravessar a tenda, que não era tão grande assim. Na verdade, tínhamos espaço apenas para três colchões improvisados e uma pequena área onde colocávamos nossos pertences, que não eram muitos.

Depois do Fim do MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora