— O que vai fazer com a gente? — Perguntei, na defensiva.
— Nada demais. — Ela sorriu novamente, um arrepio subiu pela espinha. — Só alguns testes rotineiros.
Entramos em uma sala que tinha algumas cadeiras espalhadas em uma organização que não fazia muito sentido. Algumas de frente para outras, algumas de costas. Pareciam cadeiras muito confortáveis.
— Preciso que vocês passem os seus nomes e alguns dados para ela. — Ela falou, abrindo uma porta e sumindo de vista.
Procurei por outra pessoa e não encontrei, parecia que estávamos sozinhos ali.
— Venham aqui, crianças. — Uma voz meio arranhada saiu de trás de uma mesa.
Nós nos aproximamos devagar, a voz chamou novamente. Engoli em seco.
— Preciso que vocês me digam seus nomes.
Era uma senhora, curvada por trás da mesa, agora podíamos vê-la, ela não parecia tão má. Tinha cabelos encaracolados, presos em um rabo de cavalo muito bagunçado. E o mais legal, seus cachos eram totalmente brancos, eu nunca tinha visto um cabelo assim.
— Vocês sabem falar? — Ela repetiu, ficando um pouco irritada. — Me digam seus nomes.
— Lexi. — Falei com um impulso.
— Só Lexi?
— Lexi... Trusckot. — Já fazia tanto tempo que não falava o meu nome completo. De certa forma, aquele nome tinha um peso, principalmente depois da morte do meu pai.
— Data de nascimento? — Ela já estava muito impaciente.
— Dia vinte e dois de abril, dois mil trezentos e sessenta e um. — Falei rápido dessa vez.
— Próximo. — A olhei por um instante, sem entender.
— James Peterson, quinze de maio de dois mil trezentos e sessenta e um. — James falou confiante.
E então, um por um, eles se apresentaram e deram os dias dos seus nascimentos. Mitt Clearwater, três de junho de dois mil trezentos e sessenta e dois; Luke Mulroy, seis de abril de dois mil trezentos e sessenta e cinco; Victoria Neustadt, oito de novembro de dois mil trezentos e sessenta e dois.
— Vejo que terminaram. — A doutora Gwin voltava depois de alguns minutos, com luvas brancas nas mãos, e empurrando a porta com os pés. — Venham comigo.
Olhei para Victoria por um instante antes de começar a andar, ela estava aterrorizada. Eu tinha percebido isso quando ela havia falado seu nome e até sua voz parecia estar tremida. Ela era tímida, mas eu sabia que aquilo não era por timidez, era por puro medo.
— Vai ficar tudo bem. — Sussurrei, enquanto passávamos pela porta, seguindo a doutora Gwin.
Era uma sala enorme, com umas dez camas, não tive tempo e nem concentração para contar o número exato. Minha cabeça estava girando e tentando buscar ideias para sair dali, devíamos ter acreditado no Mitt desde o começo. Aquele lugar não era tão confiável quanto estávamos pensando.
— Escolham uma cama e se deitem. — A doutora falou e por um momento hesitei.
— E se a gente não quiser fazer isso? — Ouvi o James perguntar e respirei fundo, a voz dele era ríspida e impaciente.
A doutora abriu um sorriso ainda maior, caminhando na direção dele. Mas dessa vez, seu sorriso transmitia um pouco de impaciência. Eu me preparei para ter que ajudar o James. Fechei as mãos, com raiva, ela não podia nos obrigar a fazer aquilo.
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Depois do Fim do Mundo
Science FictionHá trezentos e cinquenta e nove anos, houve um apocalipse onde tudo que a humanidade conhecia foi destruído. Era o ano de 2020. Países foram engolidos pela água que os invadiu sem piedade, levando tudo em seu caminho, vulcões entraram em erupção, ho...