Fénix

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"Ela conquistou os seus demónios e usou as cicatrizes como asas. "

                                         Atticus poetry


Acho que está na hora de ir embora Artur.

Pois eu acho que você não tem de achar nada. Eu é que sei quando devo ir embo...

Basta Artur! - a minha voz é fraca mas firme. Sinto o corpo todo pisado e não tenho a certeza de não ter alguma coisa partida - saia da minha casa ou chamo a polícia.

Dá uma gargalhada e aproxima-se de mim a passos largos, agarrando-me os cabelos.

Como se atreve?

O que vai fazer? - encaro-o o mais firmemente que consigo - bater-me mais? Vai arriscar deixar marcas visíveis desta vez? Tenho a certeza que o meu corpo tem nódoas negras suficientes para um caso de agressão. - suspiro e falo mais calmamente - Artur... não há nada mais que me possa fazer.

Olha-me incrédulo. A minha falta de medo deixa-o desconcertado. Solta-me o cabelo bruscamente, afastando-se para junto da porta.

Vou embora porque eu assim decido.

Sim... muito bem. Como queira. - viro costas e sento-me na beira da cama, agarrando-me às costelas que ardem quando respiro.

Não se atreva a contar isto a quem quer...

Artur não se canse. Não faço questão de falar com ninguém. Saia, por favor. - sei bem que o meu tom é autoritário e isso o vai deixar furioso, mas chega de me deixar humilhar.

Você não manda na...

Saia agora - levanto-me no mesmo instante em que o sinto aproximar e olho-o decidida. - se não sair, faço questão de contar toda a minha história ao primeiro jornalista que atender o telefone. - a minha voz não treme, o meu olhar não foge. Quero que ele perceba que não estou a brincar.

Vejo-o recuar e o olhar perder-se no meu, como o de uma criança assustada. Depressa reassume a postura que lhe conheço e regressa para junto da porta, agarrando o puxador.

Isto...não fica por aq...

Não vale a pena continuar Artur. Não há mais ameaças que possa fazer, não há mais nada que me possa tirar nem mais nada para me oferecer. Só quero que saia. Agora!

Volto a sentar-me na beira da cama agarrada às costelas e viro-me de costas para ele. Oiço a porta bater com força e expiro devagar. Tudo me dói, até a alma. Deixo-me cair no colchão e reprimo um grito de dor.

Menina, está tudo bem?

Não abro os olhos mas sinto que ela se prepara para abrir a porta.

Está tudo bem Maria. Pode ir...

Desculpe menina mas vou entrar. - e se bem o diz assim o faz. Entra e atravessa o quarto tão rapidamente que quase não tenho tempo para me tapar com o lençol. - eu sabia! Eu sabia que ele lhe devia ter feito alguma quando saiu com aquele ar de cão sarnento a mandar-nos ficar longe do seu quarto!

Afasta o lençol e tenta levantar-me o casaco do pijama mas encolho-me e gemo, fazendo-a parar de imediato.

Vou ligar à polícia menina.

Não vai fazer nada disso!

Mas menina...

Já lhe disse que não vai fazer nada Maria.

Menina - a voz mansa faz-me abrir os olhos para a encarar - aquele homem merece ser castigado pelo que lhe tem feito estes anos todos...

O que é que você sabe disso? - não quero soar arrogante, mas sei que a tentativa é infrutifera.

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⏰ Última atualização: Jun 07, 2020 ⏰

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