CAPÍTULO XII

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17 de março de 2021.

No ateliê, eu estava provando o meu vestido da noite, desenhado por mim mesma e para mim mesma, enquanto Bianca falava sem parar sobre o fato de eu estar demorando demais para ter o segundo bebê.

- Você fala isso, mas Rebecca tem quase cinco anos e só agora que você resolveu engravidar de novo... - rolei os olhos.

- Na verdade eu tento desde que ela largou meu peito... Mas aparentemente eu não sou muito fértil, então demorou um pouco. - deu de ombros.

- Esse é o meu primeiro dia dos namorados de verdade desde que Sara estava para nascer, inclusive, ela não para de falar da festa de aniversário da Rebecca...

- Nem me fale em festa! Becca faz aniversário em dois meses e quer porque quer uma bem grande pelo visto... e o mole do pai dela já disse que vai fazer do jeitinho que ela quer.

- Boa sorte contratando princesas encantadas. - ri de sua careta.

- Muito engraçada você!

Fui buscar Sara no meu horário de almoço e que surpresa a minha chegar e encontrá-la chorando.

- Oh meu Deus, o que aconteceu amorzinho? - não demorei a me abaixar em sua frente.

- Dodói mama. - diz fungando.

- Hoje eles foram brincar no parquinho e a Sara acabou caindo com o joelho em uma pedrinha. - finalmente reparei no pequeno curativo que tinha em seu joelho. - cortou um pouquinho.

- Oh sim, obrigada pelo curativo. Você viu filha? É das princesas, não precisa mais chorar meu amor. - a ajudei a levantar da cadeira. - Vem, vamos almoçar. Dê tchau pra professora.

Só consegui acalmá-la no carro mas ela ainda fungava baixinho na cadeirinha presa ao banco de trás quando eu saí do estacionamento da escola.

- Se acalme meu amor. Foi só um tombo, vamos almoçar e depois tomar sorvete, que tal? - a olhei pelo espelho dentro do carro.

- Não gosto da ecolinha. Faz dodói.

- Escolinha, meu amor. - corrigir a menina em algumas palavras já havia se tornado rotina, e Sara se esforçava para não errar novamente. Achava isso fofo e incrível nela, a dedicação. - Às vezes a gente cai, é normal.

- Nom quelo mais.

Apenas suspirei e seguiu em direção ao shopping para encontra com Shawn. Deixar essa questão com ele foi mais fácil para mim e minha, suposta, dor de cabeça.

- O que houve?

- Primeiro tombo na escola. - torci os lábios.

- Não vou mais pra escola.

- Claro que vai Cerejinha. Temos que ir pra ficarmos mais inteligentes do que já somos. - tocou seu braço tentando tirá-la do meu colo.

- Mas fez dodói lá. Eu nom vou.

- Vamos almoçar... Depois a gente fala sobre isso filha. - confesso estar levemente impaciente.

Deixei Sara na casa da minha mãe o dia todo, não estava pronta para lidar com mais um problema e queria que o dia fosse bom, sem reclamações.

Mandei meu presente a Shawn por um entregador, diretamente ao seu trabalho.

- Não acredito que você fez isso. ‐ sua voz soou animada do outro lado da linha.

- Queria que você o usasse essa noite... - mordi o lábio inferior rodando na cadeira.

- A sua ideia foi maravilhosa, meu bem. Não acredito que não pensei nisso antes. - riu levemente.

- Não se preocupe, ainda está em tempo. - brinquei tamborilando os dedos na mesa.

- Você tem razão. Espere apenas uns minutinhos. - desligou.

A sensação estranha de chateação e ansiedade tomou conta de mim. Ele desligou sem me dizer um tchau descente e, de fato, não cria que receberia um presente em poucos minutos.

- Você não fez isso! - exclamei assim que o toque de chamada soou.

- Gostou? - seu tom convencido me fez revirar os olhos.

- Na verdade, achei bem pouco autêntico... - dei de ombros, mesmo que ele não visse.

- Bem, eu esperava algo mais como meu amor, eu amei. Não acredito que pensou em algo tão lindo assim! - zombou com uma voz aguda.

- As flores são lindas. - levei o buquê até o nariz. - Realmente lindas.

- E o cartão? - ele parecia nervoso. - Pedi que escrevessem com uma letra bem bonita.

- Oh, eu ainda não li...

- Preciso desligar. Leia!

- Tchau, meu amor.

- Tchau, vida.

Tirei do meio das flores amarelas o pequeno cartão escrito em letras garrafais muito bem desenhadas.

"Para a mulher mais linda, incrível, apaixonante, perfeita e boa em presentes do mundo!
Eu te amo, querida. Tudo o que desejo é que essa data se repita por anos e anos e que, quando estivermos bem velhinhos ainda possamos olhar para esse cartão e lembrar de tudo o que vivemos com alegria.

Com amor, seu Shawn."

Cheguei apressada em casa para tomar um banho e escolher uma roupa decente para usar nesta noite. Não é todo dia que temos uma noite livre de filhos...

Deixamos Sara na casa dos meus pais e meus sogros garantiram que também dormiriam lá. É incrível como eles se uniram ainda mais com a chegada dela. Cada pequena novidade parecia encará-los tanto que eu podia ver as faíscas de emoção saltitando dentro de suas orbes oculares. Incrível.

- Você está simplesmente linda!

- Faz um tempo que não me arrumo assim. - apertei as mãos ansiosa. - Acho que precisava fazer uma graça já que estaria sem filha por hoje...

- Você sempre está linda. - pegou meu queixo com carinho. - Você sempre será linda, meu amor.

Comemos comida cubana, dançamos ao som animado da minha terra e curtimos a noite como duas crianças apaixonadas. Nós somos duas crianças apaixonadas...

Não é incrível?

Pudemos observar um casal de velhinhos em um encontro tão igual ao nosso e em uma idade tão diferente. Aquilo me acendeu, me transformou. Senti como se eu estivesse fazendo a coisa certa, como se estivéssemos no caminho correto para a felicidade.

Me contive ao máximo para não levantar e perguntar a eles qual é o segredo para continuar daquela forma. Em encontros casuais depois de um tempo, com o brilho nos olhos depois de tantos anos vividos... mas, quando olhei para Shawn, sentado ali de frente para mim, apenas me observando observar o casal de idosos, encontrei todas as respostas que eu precisava para toda e qualquer pergunta que eu tivesse, o amor!

C.C.

Apenas mais uma história clichê sobre o que é amar...Onde histórias criam vida. Descubra agora