27 de junho de 2021.
Os dias não vêm sendo os mais fáceis e, por mais que eu tente, sinto que a qualquer momento as férias podem ser arruinadas. As de Camila parecem já ter sido.
- Onde ela está? - Camila questionou assim que adentrei o quarto. Sozinho.
- Sua mãe a pegou. Ela disse que estava com sono. - Camila piscou algumas vezes, atônita e balançou a cabeça de cima para baixo em concorrência. Mas ela não concordava com nada.
Me senti péssimo por não saber o que fazer em relação a isso.
- Vou buscá-la. - não vi sua resposta, tampouco a ouvi.
Da maneira que a deixei, deitada de costas para a porta com a coberta chegando até a altura de seu ombro, eu a encontrei quando voltei ao quarto.
Parei na porta do quarto com Sara no colo, de costas para a mãe, impedindo-a de vê-la.
- Sara?
- Oi papai.
- A mamãe quer te ver. - ela ergueu o rostinho me olhando seria.
- O imãozinho vai 'tá lá junto?
- Vai, meu amor, ele anda junto com a mamãe. - alisei seu cabelo.
- Então eu não quelo papai.
A situação era realmente estressante e o eu tinha que me controlar cada vez mais para não gritar. Respirei fundo e se dei um paço para dento do quarto observando que Camila nos escutava.
- Olha, a mama te ama muito. - ela me olhou atenta com a sobrancelha levemente erguida. - Além do mais, ter um irmão é muito legal.
- Mas a mama pediu outlo bebê pro papai do céu.
- Pra você ter com quem brincar. - argumentei. Toda criança quer ter um irmão. Por que com Sara é diferente? - A mama jamais te trocaria. A vovó Karen não me trocou pela tia Aali e a vovó Sinuh não trocou sua mãe pela tia Sofi. Irmãos são muito legais.
Sara era transparente. Podia ler sua mente apenas pelos seus olhos levemente estreitos. Ela sentia que eu não a compreendia.
- A mama tá chorando. - apelei para seu lado emocional. - Ela está com saudade de você.
- Ela tá cholando? - seus olhinhos se esbugalharam. - Eu não quelo. Tem que dar beijinho. - sorri com minha vitória.
Entrei no quarto e a mulher ainda estava com as costas viradas para nós.
Soltei Sara e ela correu para a cama passando as mãozinhas no rosto da mãe e beijando a bochecha dela. Camila se encolheu com o contato e virou o corpo para o outro lado da cama. Seus olhos vermelhos e molhados fizeram Sara soltar um grunhido.
- Oi meu amor, a mama estava com saudade. - a voz saiu tremula. Sara se lançou em seus braços.
- Você não vai me tloca né, mamãe? Mamas não tlocam bebês, não é?
- Não amor, mamas não trocam seus bebês, só ganham outros. - pegou a mão da menina e colocou sobre sua barriga - Ele vai te fazer companhia e você pode ensinar um montão de coisas pra ele.
- Posso? - se animou instantaneamente. - O que?
- Eu ensinei a sua tia Sofi a comer sozinha. - me aproximei delas na cama.
- E eu ensinei a tia Aali a jogar damas. - seu rostinho se virou para mim e ela sorriu.
- Ele vai ser meu amigo?
- Sim, meu amor, ele vai ser seu companheiro. Para o resto da vida. É muito bom ter irmãos. A mama ama a tia Sofi. - Sara escutava tudo com extrema atenção ainda, levemente, contrariada mas, no entanto, bem mais receptiva.
- Eu também amo a tia Sofi. - é claro que ama. Sofia brinca como se tivesse a idade dela. - Talvez eu vou dosta dele. - tirou a mão da barrida de Camila que, imediatamente, me lançou um olhar apreensivo.
- Eu tenho certeza que vai Cerejinha.
- Ele já te ama filha. Até te deu um presente, lembra?
- O amigo do mingau, mama. - bradou.
- É meu amor, o amigo do mingau.
Estava de noite, e Camila se animou em colocar Sara para dormir. As duas se deitaram na cama de solteiro posta em nosso quarto. Uma de frente para a outra.
- Mama, quando o neném sair da sua baiga, ele vai mamar no seu peito. Ingau eu fiz? - ela estava sonolenta chupando sua chupeta enquanto recebia um carinho na cabeça.
- Vai sim meu amor. Bebês precisam mamar no peito para crescerem e ficarem fortes e lindos. Igual a você.
- Então eu deixo ele mamar no seu peito.
A mais velha sorriu e vi Sara fechada lentamente os olhinhos até, finalmente, adormecer.
S.M.
30 de junho de 2021.
Camila tem passado muito mal durante a viajem, inicialmente, eu pensei que fosse por conta de Sara estar rejeitando o irmão mas... depois que ela passou a aceitar, as coisas não diminuíram.
- Quando chegarmos em casa, você vai ao médico.
- Shawn. - protestou. - Grávidas vomitam.
- Você já ficou grávida antes. - acentuei me aproximando dela na cama. - Me lembro de você passando mal mas não me lembro de ter ficado tão fraca assim. Além do mais, está tomando remédio e nada, há algo errado. - franzi o cenho.
- Se for te deixar mais tranquilo, amanhã mesmo eu vou ao médico. - sorriu para mim lutando contra o sono.
Era meio dia e tudo o que ela tinha comido eram algumas rodelas de abacaxi.
- O que a mamãe tem? - Sara adentrou o quarto dentro de seu traje de banho cor de rosa. Pronta para aproveitar o último dia de férias.
- Eu estou dodói. - sussurrou.
- É culpa do irmãozinho? - seus olhos se estreitaram. - Eu posso falar com ele, mama. Posso dizer que não pode judiar.
- Então fale com ele, Cerejinha. - a pequena menina estava ansiosa em ensinar ao irmão alguma coisa. - Ensine a ele que não pode judiar da mamãe. - vi pelo canto dos olhos sua boca de erguer em um leve sorriso.
- Irmãozinho. - chamou próximo à barriga. - Não pode judiar da mama. Isso é feio e você não quer ser um bebê feio. Tem que ser bonito, que nem eu. - ergueu os olhos para Camila que alisava seu cabelo. - O que você está sentindo mama?
Sara pareceu decidir que falaria toda e qualquer palavra de maneira extremamente correta depois de dizermos que ela poderia ajudá-lo a falar. Seu esforço era notório em cada palavra. Era como se sua língua precisasse fazer uma grande manobra para que as coisas saíssem corretamente.
- A mama só está enjoada e com um pouco de cólica.
Sara murmurou um sonoro "ata" e saiu do quarto como se tivesse entendido absolutamente tudo o que foi dito a ela.
- Pois bem, gravidinha. - me deitei puxando-a para mim. - Vou cuidar de você.
Sobre seus protestos permaneci no quarto com ela até o horário do almoço. Fomos embora depois das quatro e, em momento algum, ela apresentou melhora. Estou começando a ficar preocupado de verdade.
S.M.
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Apenas mais uma história clichê sobre o que é amar...
FanfictionMemórias de uma história que tinha tudo para dar certo...