CAPÍTULO XX

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Finalmente estávamos do lado de fora da casa mas logo escureceria as chances de seguir os rastros seria menor.

Olhei para Vítor me certificando que ele estava ao meu encalço e corri. Corri o máximo que pude até que os latidos se cessaram e eu já não pudesse ver a casa. Deus eu estava livre e não sabia o que fazer ou para onde ir.

Segurei a pequena mão de Victor e a apertei. Ele estava ofegante, nós dois estávamos, só que não podíamos parar agora.

As primeiras gotas de chuva começaram a cair quando eu avistei a estrada. Já estava escurecendo e meus pés estavam cansados, a vontade de parar e descansar era grande mas Golias poderia sair atrás de mim a qualquer momento.

Pisei no asfalto e Victor logo agarrou meu vestido.

– O que foi, meu bem?

– Eu estou cansado. - murmurou.

Suspirei o pegando no colo logo após decidir que caminho tomar. Os rastros de terra no asfalto me ajudaram na escolha.

Nós dois estávamos encharcados pela garoa fina que caia e a noite já se fazia presente. Meus braços doíam pelo pouco peso encima deles e a única iluminação presente era a da lua e o barulho dos animais à beira da estrada me causava arrepios.

A luz forte de um carro se fez presente e não pude evitar o pavor que tomou conta de mim. Aconcheguei mais Victor ao meu corpo e apressei meus passos até que o carro parou.

Continuei andando ignorando completamente o carro que me acompanhava de modo lento.

– Ei. - o homem do lado de dentro me chamou. – Entre aí. Você está toda molhada, vai ficar doente.

Continuei andando.

– Vamos, não vou te fazer mal. Eu prometo. - olhei pelo canto dos olhos para a janela aberta. – Veja só, tudo bem você não se preocupar com você mas o menino... ele pode pegar uma pneumonia. - parei. Não quero que ele fique doente.

– Pode me levar até a praça da cidade? - questionei baixo. Nem sei se ele ouviu.

– Posso te deixar até na sua casa, se quiser.

– Não, alguém vai me buscar na praça, não se preocupe.

– Tudo bem. Até a praça então. - ele sorriu. – Vamos, entre. - o barulho da tranca se fez presente mostrando que ele destrancou o veículo.

Me sentei no banco de trás torcendo para que ele não fizesse perguntas e não nos fizesse mal. Como saber em quem confiar agora?

– Qual o seu nome? - sua voz demonstrava interesse.

– Me chamo Sara. - respondi baixo batendo levemente os dentes pelo frio.

– Ok Sara, me chamo Miguel.

Ele ligou o ar quente e logo senti o frio indo embora aos poucos. Aconcheguei Victor que dormia tranquilo em meu colo e virei o rosto para a janela.

– É seu filho? - ele estava destinado a fazer questionamentos.

Não o julgo, não é todo dia que se encontra, no meio da rua, uma mulher grávida já com uma criança no colo tomando chuva à boca da noite. Até onde ele sabe, eu posso ser uma grande mau-caráter e, até onde eu sei, ele também.

Apenas mais uma história clichê sobre o que é amar...Onde histórias criam vida. Descubra agora