CAPÍTULO XVI

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15 de julho de 2021.

Me preparar e cumprir à risca tudo o que a Dra. Clara havia me recomendado não me ajudou em absolutamente nada.

A dor continuou aqui, ela não sumiu e só fez aumentar.

A dor aumentou.

A sensação de acordar assustada não sai do meu peito, a sensação dos lençóis molhados não sai da minha pele. Não sai de mim. Mas ele saiu.

Meu bebê não está mais aqui.

A dor da perda é tão grande, tão dilacerante que não tive coragem de contar a Sara até hoje. Pensei que ela não entenderia toda a situação, como poderia? Ela tem menos de quatro anos e, até dias atrás, nem se quer conseguia compreender que eu a amo independente de tudo.

Shawn agiu automaticamente quando viu a cena. Os dois sabiam o que estava acontecendo.

Ligou para Sinuh, Karen e até mesmo para Aali, enquanto trocava tanto a sua, quanto a minha roupa, mas era madrugada... todos estavam dormindo.

Não tendo outra escolha, levou Sara ainda dormindo para o carro depois de já ter me acomodado no banco do carona.  Tudo isso durou menos de dez minutos, mas pareceu a eternidade.

No caminho para o hospital mais próximo ele conseguiu avisar à Dra. Clara que eu estava sangrando e ela já estava a caminho.

Não consegui proferir uma palavra se quer durante todo o caminho, eu só sabia orar em silêncio pedindo que tudo não passasse de um sonho ruim. Shawn não parecia estar diferente, sua mão em minha coxa tremia e seus olhos pareciam perdidos, mesmo que eu soubesse que estavam atentos à estrada.

Em minutos, que pareceram horas, eu estava sendo direcionada a uma sala específica, a qual Shawn não fazia ideia de qual era e nem se quisesse poderia entrar. Sara estava ali. Fui sozinha para minha tortura particular, apenas eu, Deus e um bebê pouco formado dentro de mim.

Não sei em qual momento, mas ele ligou para a mãe e conseguiu falar com ela. Tenho certeza que ele chorou mas seu rosto não parecia inchado quando o vi, finalmente.

Karen e Manuel vieram buscar Sara ainda enquanto eu estava sendo examinada. Shawn me garantiu que ela não acordou em momento algum. Não queríamos que ela visse todo o alvoroço. Prefiro contar a ela quando eu já tiver entendido o que aconteceu comigo.

– Eu estou aqui, meu bem. Não se preocupe, - ele beijava e apertava minha mão repetitivamente. – eu estou aqui.

Sentado ali do meu lado, sem derramar um lágrima se quer, com os olhos cheios e a boca machucada de tanto morder tive a certeza de que Shawn precisaria de mim tanto quanto eu precisaria dele.

– O que houve? - mamãe falou assim que atendi o celular.

– Eu não sei, acordei assustada e quando eu vi, estava sangrando. Eu nem sei como consegui me vestir. - a dor de relembrar as horas que se passaram não foram mascaradas como eu queria que tivessem sido. Minha mãe não precisava ter ouvido tanto pesar, mas eu não consegui, simplesmente, disfarçar.

Olhei para Shawn — enquanto minha mãe falava sem parar coisas com o intuito de me ajudar a ficar calma e crer que Deus fez a melhor escolha — se a situação não fosse tão séria, seria engraçada.

Ele usava a blusa com a frente para trás. Pensei em avisá-lo, mas a médica apareceu para dar notícias. A esperança se acendeu dentro de mim novamente e tudo que eu pude fazer foi me despedir da minha mãe às pressas.

– A Camila está bem. - iniciou assim que me acomodei na almofada. – Mas, infelizmente, não conseguimos reverter a situação. - meu coração errou uma batida, toda a esperança se esvaiu de mim. Eu perdi o meu bebê. – Ela teve um aborto espontâneo e a curetagem já foi realizada. - ela olhou para mim. Os olhos transmitiam pena.

Apenas mais uma história clichê sobre o que é amar...Onde histórias criam vida. Descubra agora