3 de Outubro de 2014
Papai não era o maior adepto de me deixar sair de casa durante a noite. Sempre precisei explicar tudo muito bem e mais de uma vez antes de alcançar a maçaneta. Hoje não seria diferente...
- Sim papa, eu vou sair com o Shawn hoje, te vejo amanhã. - revirei os olhos por estar explicando mais uma vez.
- Como assim me vê pela manhã? - esbravejou. – Está achando que vai dormir na casa de um menino que eu nem se quer conheço?
- Não papa, só estou dizendo que eu posso chegar tarde, afinal é sexta à noite. - suspirei. – Não me espere acordado, eu tenho as chaves de casa. - balancei o molho ouvindo o tilintar do metal em contraste com o metal.
Ele forçou um sorriso educado me permitindo, finalmente sair de casa mas não estava contente, estava enciumado e nem um pouco contente em ter que me dividir com outro homem.
Imaginar que eu cresci o assustava.
- Sua mãe sabe disso? Que você vai sair com só Deus sabe quem... - enrugou os lábios já próximo à porta.
- Shawn, papa, eu vou sair com o Shawn! E sim a mama está sabendo.
Ele precisava de algo pra me manter dentro de casa naquela noite. Não queria ser, por si só, o responsável por não me permitir viver a adolescência. O responsável por empatar a minha vida.
A buzina tocou do outro lado da porta — Eu disse pra Shawn não descer do carro — .
- Papa, não se preocupe, ele é muito gentil e engraçado assim como você. Eu adoraria me despedir da mama, mas ele está me esperando lá fora e ela ainda está no banho, você pode dizer tchau por mim? - apressei a explicação doida para sair porta à fora.
- Tudo bem querida! - beijou o alto da minha cabeça. – Está frio, não quer levar uma jaqueta a mais ou algo assim? Você me parece pouco agasalhada...
Neguei. Apesar de eu estar pouco agasalhada, tudo era estratégico. Se eu sentisse frio e ele me cedesse sua jaqueta, isso iria significar que ele, de fato, era um cavalheiro. Eu queria que ele fosse um cavalheiro. Deus, como eu queria.
Além do mais, quanto menos blusas eu estivesse usando, mais eu sentiria seu corpo perto do meu. Nosso contato humano seria maior.
– Não, papai. Hoje nem está tão frio assim.
Naquela noite eu saí pela porta de entrada da minha casa de um jeito diferente de todas as outras vezes. Eu estava cheia de esperança, expectativa e ansiedade. Sentia que seria diferente das outras.
– Ai meu Deus, você está linda! Valeu à pena quase congelar aqui fora enquanto esperava você ficar pronta lá dentro, a pena não, valeu a galinha toda! - ri de sua piada tosca.
Risos. Era isso que ele mais tirava de mim. Risos frouxos e risadas sinceras.
– Não seja retardado, quer dizer, obrigada. Mas não seja tão retardado. Eu estava apenas apreciando a crise de ciúmes e preocupação do meu pai.
– Será que eu vou ter problemas com o futuro sogro?
Não respondi a pergunta dele. Shawn vinha jogando indiretas como essa há um tempinho e eu tinha medo de dizer sim. Mas eu queria muito aquilo.
Fomos, mais uma vez, até uma lanchonete no centro da cidade. Uma daquelas cheias de adolescentes e famílias felizes comendo lanches gordurosos e incrivelmente deliciosos também.
– Sabe, eu estou apaixonado por você. E... apesar de saber que você também está apaixonada por mim, quer dizer, eu te dou comida, quase congelo do lado de fora da sua casa esperando você sair e além de tudo, sou lindo. O cara mais lindo que você já teve o prazer de conhecer. Mas... caramba, mesmo assim estou nervoso.
– Você está nervoso?! Deveria mesmo. Acabou de me chamar de morta de fome... quer dizer, eu poderia levantar daqui e ir embora exatamente agora.
Era só um drama, eu não estava cabendo em mim. Ri e ele riu também.
– Tudo bem, vou reformular. - fez um som engraçado com a garganta como se estivesse prestes a mudar o tom da voz. – Karla Camila Cabello, eu estou mais que apaixonado por você. Você é linda, engraçada, fresca no ponto certo, é animada, comelona, inteligente e, merda, eu podia dizer mais uns... não sei, quinze adjetivos mas não vou.
Ele respirou profundamente e me estendeu as mãos para que eu as pegasse. Elas estavam suadas.
– Não me interrompa. Não sei se conseguiria continuar se você fizesse isso. Eu não comprei um anel ou algo assim, eu nem se quer sei se você vai querer usar um mas... eu preciso saber. Mila, quer namorar comigo? Eu sei que somos modernos e tudo mais, mas eu gosto dessas coisas da antiguidade... quero falar com o seu pai. E então, o que me diz? Quer ser minha namorada?
A emoção foi interessante. Me senti como um pássaro sendo liberto da gaiola. Com medo e vontade de voar.
Não era novidade pra mim que eu já me imaginava com Shawn, mas era novidade a ideia de amar alguém como meu pai ama minha mãe e minha mãe ama meu pai.
Assim como o passarinho, eu decidi me arriscar.
– É claro que sim.
C. C.
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Apenas mais uma história clichê sobre o que é amar...
FanfictionMemórias de uma história que tinha tudo para dar certo...