CAPÍTULO XIV

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21 de junho de 2021.

Contei sobre o novo bebê para Shawn enquanto ele ainda estava em viajem. Não consigui, simplesmente, guardar segredo sabendo que ele ansiava por isso tanto quanto eu. Amanhã é dia de viajem em família e decidimos que Sara saberia do irmão agora, antes que contassemos a todos.

A menina entrou no quarto já de calcinha, mas ainda enrolada na toalha macia. Sorridente por ter tomado o tão esperado banho com o pai. Sorri e estendi o pijama para Shawn que a vestiu estrategicamente ao lado do embrulho bonito em cima da cama.

Os olhinhos brilharam ao ver o papel colorido com um laço em cima.

- É pra mim mama? Mais já foi meu vevesalio. - ela parecia animada, meu coração começou a palpitar com a hipótese de tudo dar certo.

- Cerejinha, uma pessoa muito especial que te mandou. - a sentou na cama pegando o embrulho nas mas. - Que tal abrir?

Sara sentou na cama e levou o embrulho em seu colo o abrindo com extremo cuidado. Metódica e perfeccionista.

- É um amigo plo mingau mama! Papai olha! - mostrou o ursinho que eu escolhi a muito custo para nós. - Outlo gatinho. - passou a mão por ele com cuidado sussurrando sua preciosidade.

- Você gostou meu amor? - Shawn riu do entusiasmos da filha.

- Quem te deu é muito especial Cerejinha. Você sabe quem é?

- Quem? Tem que fala bigada.

Shawn sorriu para mim, crendo que a batalha já estava ganha. Demos as mãos na frente da menina, eu claramente mais nervosa que ele.

- Foi seu irmão, meu amor - ele tinha tanta certeza que seria um menino.

- Ou irmã. - o corrigi, não quero que Sara se apegue a gêneros antes da hora. E se vier uma menina? Eu faço o que? - Ele ainda está na barriga da mama. Não é legal?

Sara foi soltando aos poucos o aperto que seu pequeno braço fazia em torno do ursinho e seus olhos se encheram de água. Ela estendeu a pelúcia para mim e se jogou nos braços do pai.

- Eu não quelo esse pesente. Eu não gosto dele. - os soluços da menina agoniavam meu coração que, a cada tentativa de aproximação falha, via seu choro ficar mais intenso. - a mama não gosta mais de mim! Ela pediu papai do céu outlo bebê! - seus soluços nos impediam de ouvir toda a sua fala. Ela tremia nos braços dele com o impulso do choro e eu não podia fazer mais nada se não olhá-la de longe com ele.

Não tinha como não chorar, eu estava quase para soluçar, as lágrimas caindo sem controle, mas Shawn se mantinha firme. Com o olhar ele pediu que eu saísse e logo entendi seu pedido. Eu precisava de um ar também.

Fui até a cozinha pegar um copo d'água e preparar uma mamadeira para a minha filha. Tarefa tão fácil no dia a dia, mas, hoje em específico, as lágrimas estavam me atrapalhando.

Enquanto o micro-ondas girava, com a mamadeira dentro, meus soluços escapavam dos lábios e eu tentava me acalmar ao mesmo tempo. Demorei tempo o suficiente para derramar leite dente dentro da maquina e ter que fazer um novo.

Quando finalmente consegui estar calma o suficiente, retornei ao quarto e vi Shawn sussurrando no ouvido dela. Ela parecia bem mais calma agora.

- Olhe lá Cerejinha. A mama te ama, ela até fez o seu leitinho.

- Eu não quelo papai. - virou o rosto ainda agarrada ao pescoço do homem.

Eu simplesmente não conseguia ver aquela cena. Deixei a mamadeira na mesinha e sai, quase que correndo, em direção ao meu quarto.

Não há como você ouvir o seu filho falar que você não o ama e, simplesmente, ficar ali, ouvindo. Deus, eu não troquei um filho pelo outro, troquei?

C.C.

22 de junho de 2021.

Camila, definitivamente, não estava bem. Podia ver em seus olhos o quanto ela estava sofrendo por Sara tê-la rejeitado.

Guardei toda a bagagem no porta-malas do carro enquanto ouvia Sara gritar em excitação com os avós no lado de dentro da casa.

- Vamos, vovó. Eu quelo chegar cedo.

- Sara, venha trocar a roupa. - ouvi a voz de Camila e logo me apressei em entrar na casa.

- Não! - cruzou os braços voltando a andar em direção à avó que nos olhava em completa confusão.

- Sara. - respirou fundo. - Venha por a roupa!

- Eu não quelo. - gritou de volta.

- Eu estou mandando você vir aqui por a roupa. - ralhou.

- Sara. - chamei sua atenção. - Vá com sua mãe. - ordenei com o dedo em riste. Compreendo a sua frustração, no entanto não compactuo com ela.

- O que está acontecendo? - Sinu questionou assustada.

- O irmão vai junto? - com a cabeça baixa ela se aproximou da escada.

- Ele vai, filha. Não tem como ele se separar de mim agora. - a voz voltou a ser calma e terna.

- Eu queria que ele não estivesse aí dento. - concluiu subindo as escadas na frente da mãe.

- Camila está grávida? - minha sogra perguntou depois que as duas sumiram escada acima.

- Não planejamos contar assim... - diminui o tom de voz. Provavelmente minha mãe estava ali por perto. Provavelmente ela também ouviu. - Me desculpa. Era pra termos contado no resort. - torci o lábio em desgosto.

É sempre assim, quando planejamos algo, nunca sai como o esperado. Sempre há algo para balançar a estrutura.

- Não fique assim. - pousou a mão no meu ombro. - Ainda podem fazer surpresa para Alejandro e seu pai. - olhou atrás de mim.

Eu sabia que mamãe estava por perto.

Me reestruturei e fui em busca das minhas meninas. Tudo poderia estar bem ou poderia estar tudo um caos.

Bati na porta antes de entrar estranhando o silêncio instalado lá dentro.

- Ela dormiu? - observei o pequeno corpo deitado na cama de maneira confortável. Camila analisava o rosto sereno dela enquanto acariciava, delicadamente, seu cabelo.

- É. - sussurrou. - Não resistiu ao sono.

Me aproximei pronto para acolhe-la em qualquer minúsculo sinal de desabamento. Mas o sinal não veio, Camila permanecia forte.

- E você? - ela me olhou sem tirar as mãos do cabelo da filha. - Está bem? Sei que não foi como planejamos mas

- Foi péssimo. - me impediu de terminar o raciocínio. - Ela acha que eu não a amo mais! - sua voz baixa não escondia seu desespero. - Isso é um absurdo, mas na cabecinha dela faz sentido. - seu olhar se voltou para a menina. - Eu estou sem chão, Shawn. Ganhei um bebê e perdi outro... Isso não me deixa feliz.

- Quer dizer que se arrepende da gravidez?

Camila arregalou os olhos e pareceu querer gritar. Não tive reação para a sua.

- Claro que não Shawn, por Deus... Você ouviu o que disse? - levou a mão ao ventre. Algo dentro de mim se acalmou. - É claro que não me arrependo. Eu só não quero perder a minha pequena. E preciso achar uma forma de recupera-la.

- Estamos juntos nessa. Eu e você. - levei minha mão de encontro às suas. - Vai dar tudo certo, você vai ver.

- Eu espero que você tenha razão.

S.M.

Apenas mais uma história clichê sobre o que é amar...Onde histórias criam vida. Descubra agora