Um dia qualquer de agosto de 2014.
Parecia ser só mais uma bela manhã de inverno. Ou talvez não tão bela assim. Acho que a chamo de bela porque ganhei um presente muito bom aquele dia.
O céu estava escuro, nublado, era como se o sol tivesse esquecido que precisava aparecer no céu para completar o dia.
Inverno.
Tudo estava branco, cinza e parecia sem vida. A única coisa que eu queria era ficar embaixo das minhas cobertas, quentinha, quietinha e sem professores me enchendo o saco com toda aquela história de vestibular e formatura.
O primeiro dia de aula não é tão legal quanto se está no ensino médio.
- Vamos filha. Você vai se atrasar.
Enfiei a cabeça no travesseiro buscando abafar a voz da minha consciência que me mandava obedecer a mamãe.
- Vamos hija, você não vai se arrepender. Prometo que valerá a pena.
Espantei um pouco da preguiça que rondava meu corpo e me levantei antes de pensar demais.
Eu ainda queria ser alguém na vida.
Era estranho, tudo no frio parecia ser mais difícil. Lavar as mãos, escovar os dentes. É tudo tão gelado. Eu gostava do verão.
Desci as escadas quase me arrastando e encarei a mamãe com um olhar pidão.
Eu precisava da minha própria carteira de motorista.
- Não, você vai de ônibus.
- Por que? - minha voz se arrastou como se eu estivesse prestes a chorar.
Mama não estava a fim de me ver implorar e ceder uma carona não iria atrasar o dia dela. Mas com certeza, melhoraria o meu.
O meu armário sempre foi bagunçado, eu achava bonito admirar a sua organização do primeiro dia. Nunca mais o veria arrumado tão cedo. Talvez quando eu perdesse meu livro de química ou quem sabe o de matemática eu resolvesse organizá-lo.
Desviei os olhos da pilha organizada de livros dentro da caixa de metal e puxei para fora apenas o que eu ia usar na primeira aula antes de fechar o armário.
Meu coração deu um solavanco e por um momento acho que esqueci de respirar. Meu vizinho de armário era um gato.
Gato, eu com certeza usaria essa palavra se ainda estivéssemos em 2014.
Ele sorriu pra mim e fechou seu armário indo atrás da sua sala de aula.
Senti como se meu estômago fosse sair pela boca e dentro dele tivessem pequenos seres cutucando. Borboletas, talvez?
Não dá pra se apaixonar assim.
Na verdade dá, mas isso nunca foi o tipo de coisa que acontecia comigo.
Entrei na sala da minha primeira aula e o avistei. Não é que eu quisesse sentar ao lado dele, mas, incrivelmente, era o único lugar disponível.
Vistoriei toda a sala em busca de outro canto qualquer pra que eu pudesse me sentar mas não achei. Sentei ao seu lado e ele sorriu outra vez para mim, devolvi o sorriso.
- Oi, eu sou Shawn.
- Oi, sou a Camila.
Ele era inteligente e, de fato, eu já estava apaixonada. Uma daquelas paixões clichês de adolescentes. Onde tudo conspira ao meu favor.
Nunca quis tanto que meu professor passasse um daqueles trabalhos sem nexo algum sobre "conheça o seu colega do lado, saia da sua zona de conforto". Mas o trabalho não chegou e, tudo o que me restou foi, de fato, ouvir sobre vestibular e como o futuro da minha vida está nas minhas mãos.
Merda.
Não me aborrecer com a falta de incentivo por parte dos nossos professores pra realização de uma história de amor foi quase impossível pra mim.
Confesso que só não me aborreci, de fato, porque Shawn era um homem de atitude. Eu por outro lado não queria que ficasse estampado em meu rosto que queria o mesmo que ele, conhecê-lo.
Fazer amizade com ele não foi difícil. Ele sempre foi gentil, engraçado e espontâneo. Em menos de duas semanas estávamos tendo nosso primeiro encontro.
- Qual é a sensação de sair com o homem mais lindo que você já conheceu?
Ele era convencido. Mas não era exagerado.
Me fazia rir.
- Não sei, ainda estou procurando por toda essa beleza.
Aquele dia ele riu e me fez sentir como se eu fosse uma princesa. Não tinha como ser diferente.
Andar de mãos dadas pelo corredor era algo quase que inevitável e, por um momento, eu parei de ser conhecida pelo meu próprio nome e passei a ser conhecida como "a garota que namora o novato do terceiro ano".
Nunca fui muito popular mas também nunca passei totalmente despercebida por todos.
Lembro da sensação, aquele frio na barriga e a voz irritante que me dizia que todos voltariam sua atenção pra mim e Shawn. A ideia me apavorava.
Shawn estendeu sua mão a primeira vez e eu estremeci por dentro antes de pegá-la mas quando adentrei as portas grandes e largas tudo parecia estar no lugar, era como se existisse apenas ele e eu.
Mesmo que todos estivessem nos olhando."
C. C.
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Apenas mais uma história clichê sobre o que é amar...
FanficMemórias de uma história que tinha tudo para dar certo...