CONFLITO INTERNO

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— argh. Que dor de cabeça. Onde eu tô? — perguntou Yeol confuso em meio a escuridão.

Preso novamente em seus pesadelos, Yeol se encontrava vagando sem rumo no vazio. As vozes que assolavam sua mente cessaram. Não haviam corpos, não haviam gritos. Restava apenas escuridão. Yeol não estava ciente de sua perda de controle. Sua mente estava desconexa de seu corpo em frenesi.

— oi, tem alguém aí? — gritava Yeol buscando alguém na imensidão.

Em meio a escuridão uma pequena chama vermelha surgiu. Quanto mais Yeol se aproximava mais ela crescia. O formato da chama começou a mudar, ela se contorceu e assumiu uma forma humanoide. Então a chama se apagou deixando um corpo de costas para ele. Yeol se aproximou lentamente, o corpo se virou e o deixou espantado. Era como se estivesse olhando no espelho, mas algo chamou sua atenção. Os olhos da réplica eram totalmente negros.

— quem é você? — Perguntou Yeol.
— eu? Eu sou Seth. O verdadeiro dono desse corpo. Respondeu ele.
— você é louco. — disse Yeol desacreditado.
— louco? Ha ha ha. Você está discutindo com alguém igual a você na sua cabeça e eu que sou o louco. —
— como assim? Do que você tá falando? — perguntou Yeol assustado.
— serio? Onde pensou que você estava até agora? Você tá apagado; Eu vi o que você fez. Foi um belo show, pena que acabou tão rápido. — disse Seth sorrindo.
— o‐ o que eu fiz? — perguntou Yeol precucupado.
— nada tão impressionante. Só perdeu o controle e desmembrou a robozinha. É triste por que eu estava começando a gostar dela. — disse Seth com ironia.
— não... não pode ser... — disse Yeol se ajoelhando.
— pra que todo esse drama? Você mal conhecia ela. Vocês estão juntos a uns dois dias, nem deu tempo de se apegar. Além do mais é só uma máquina, existem milhares iguais por aí. Você arruma outra. — disse Seth
— não fale assim dela. — disse Yeol irritado.

Uma expressão de raiva surgiu no rosto de Seth. Ele agarrou Yeol pelo pescoço e o levantou.

— olha bem pra mim. Eu criei você. Não ouse me desafiar. Você pode ter as minhas memórias mas você não é nada. Eu te criei por causa dela... Você me fez ter lembranças desnecessárias. Você é o último vestígio de amor e empatia que existia em mim. Eu não preciso mais de você. — disse Seth sem expressão.

Ele soltou Yeol, mãos negras surgiram do chão e o agarraram. Elas lentamente o puxaram ate ser totalmente engolido pela escuridão.

Seth abriu seus olhos. Ele se encontrava preso pelas garras mecânicas, porém com facilidade as amassou e se libertou. Emilly se assustou e se preparou para ataca-lo, mas percebeu que ele não estava mais fora de controle.

— Yeol? Está tudo bem? — perguntou Emilly preocupada.
— esse não é meu nome. — disse Seth irritado.

Emilly ficou assustada com a resposta que recebeu.

— como eu deveria te chamar? — perguntou ela.
— Seth. Meu nome é Seth. —
— ok... — respondeu Emilly cabisbaixa.

Ela estava triste. Yeol estava agindo de uma forma totalmente diferente e havia rejeitado o nome que ela lhe dera.

— ei, onde estão as minhas roupas? —
— eu não sabia se você acordaria, por isso não as fiz. Me desculpe. — explicou Emilly.

O rosto de Seth foi tomado por uma expressão de desprezo.

— robô inútil! — sussurrou ele.

Emilly não escutou seus resmungos mas percebeu a hostilidade direcionada a ela.

— eu vou fazer suas roupas agora. Espere um pouco. — disse ela
— só me mostre como se faz. Pode deixar que eu mesmo faço as minhas roupas. — disse Seth impaciente.

Emilly mostrou o processo de criação apenas uma vez, mas foi o suficiente para ele aprender. Seth demonstrava uma inteligência e velocidade de aprendizagem espetacular. Ele fez suas roupas e mais algumas peças de roupa feminina. O que deixou Emilly curiosa, porém ela estava receosa em perguntar o porquê.

— vamos indo. Quero que você me leve as câmaras de contenção. Disse Seth.
— eu não tenho acesso a aquele área. Me desculpe. — respondeu Emilly.
— mas eu te dei o cartão vermelho. —
— ele não funciona naquele setor. É necessário uma senha para acessa-lo. Seria muito perigoso deixar a chave de um dos maiores bancos de matéria biológica nas mãos de um mero oficial de segurança. Mas acredito que a senha possa ser encontrada no computador central. — explicou Emilly.
— esse computador central de novo... ok, vamos lá. Me mostre a rota mais rápida. — pediu Seth impaciente.
— certo. A rota mais curta é utilizando o elevador da ala oeste. Mas ele foi derrubado durante o conflito com a primeira criatura. — explicou Emilly.
— sem problema. Eu consigo escalar. Só mostre o caminho. — respondeu Seth.
— entendido. Vamos indo então. — disse ela.

Ao passar por alguns corredores Emilly detectou sinais de vida mas eram diferentes dos sinais emitidos pelas criaturas.

— inimigo a frente. — avisou Emilly.
— não precisa me avisar. Eu já detectei todos. — disse Seth.
— como você fez isso? É mais algum dos seus "poderes"? Perguntou Emilly.
— eu não tenho tempo pra ficar explicando. Só faça o seu trabalho como guia. Estamos entendidos? — respondeu Seth cortando qualquer possibilidade de diálogo.

Ao virarem o corredor avistaram o inimigo.

— um soldado? — perguntou Emilly.
— é o que sobrou de um. — respondeu Seth.

Ele correu em direção soldado, que atirou. Porém Seth desviou dos tiros com facilidade. Projéteis disparados por armas de fogo comuns eram muito lentos para acerta-lo. Ele saltou e atingiu a cabeça do soldado com um chute, que a lançou a alguns metros de distância.

— só por precaução... — disse Seth arrancando o coração do soldado e o esmagando entre os dedos.
— por que você o matou? Ele era humano. — disse Emilly.
— não era e você sabe disso. Os sinais que ele emitia eram diferentes de de um humano. E mesmo se fosse que diferença faz? São todos inimigos no final. — disse Seth

Emilly ficou assustada com o comportamento de Seth.

— não temos tempo pra ficar parados nos encarando. Vamos continuar agora. Quero chegar a esse computador o mais rápido possível. —
Disse Seth.
— certo. Pode seguir em frente, logo chegaremos ao elevador. — disse ela.

Durante o caminho para o elevador Seth enfrentou mais criaturas e soldados controlados por loki. Todos foram fáceis de matar, mas algo o incomodava.

Eu não estou forte o suficiente. 
Minha regeneração está muito
lenta. Levou horas pra reconstruir
uma cabeça que antes levaria
segundos. Dessa forma nunca vou
matar aquele desgraçado do loki.
Mesmo que eu absorva todas as
coisas que eu enfrentar ainda não
vai ser o suficiente. Eu preciso de
uma fonte maior e preciso disso
rápido.

Pensou ele. De repente Seth parou, pôs as mãos na cabeça demonstrando uma grande dor.

— me soltem! Me deixa sair! — gritava Yeol na escuridão.

Sua tentativa de se libertar estava causando uma imensa dor a Seth. Yeol conseguiu se soltar de suas amarras e começou a correr em direção a luz em meio a escuridão. Porém as mãos foram mais rápidas e o agarraram novamente. Ele gritava e se debatia buscando se soltar.

— cala a boca! — gritou Seth.

As mãos negras cobriram sua boca para que não fizesse mais barulho. Elas o puxaram com mais força e o trouxeram ao chão, onde ele foi novamente engolido.

— qual o problema? — perguntou Emilly assustada com o grito.
— não foi nada. Continue andando. — respondeu Seth.

Esse desgraçado já me irritou   
demais. Preciso encontrar uma  
forma de me livrar dele.

Cygnus - AOnde histórias criam vida. Descubra agora