⌈ capítulo 8 ⌋

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Amélie Fontainelles

          Não foi fácil lidar com tudo o que aconteceu ontem. Não me lembro sequer de ter adormecido, só sei que isso aconteceu durante as horas a fio em que chorei e depois de ter tomado banho por longos minutos, de ter esfregado o meu corpo tantas vezes que quase arranquei a minha própria pele, apenas para tirar qualquer vestígio do Leon de mim. Estar novamente vulnerável ao seu toque, senti-lo tentar fazer comigo o que já fez uma vez, trouxe-me mais uma vez todos os sentimentos péssimos à memória e seria de esperar que eu quisesse desistir de tudo, mas não, isto apenas aumentou ainda mais o ódio pelo alemão e por tudo o que ele e os outros me fizeram. Quanto a Cancelo? Com certeza ele apenas não quis escândalo.

          Tudo o que eu mais queria era ter ficado no meu quarto a ver um filme e a encher-me de gelado e chocolates, mas o trabalho chama por mim e, aqui estou eu, presa num comboio na direção de Livorno. Espanha defronta hoje a Polónia e para ser sincera o que eu estou mais ansiosa é com o facto de que vou conhecer o Fernando Torres. Tal como o Sérgio tinha prometido, ele falou com o seu amigo e o mesmo acedeu ao pedido de vir ver o jogo com a Polónia e não outro, dizendo ainda que estava ansioso por me conhecer, já que o atual capitão espanhol frisou o meu amor pelo ex-avançado.

          - Peço desculpa, preciso de ir atender. – Informo, levantando-me do banco ao lado de Sérgio Ramos, e sorrindo educadamente para Asensio e Morata que estão na sua companhia. – Eu volto já.

          Percorro rapidamente o corredor até a uma cabine do comboio que está completamente vazia e atendo a videochamada que a minha irmã iniciou comigo. Os meus olhos enchem-se de lágrimas ao ver o rosto animado do meu filho e confesso que isto só acontece por estar com demasiadas saudades dele e porque os acontecimentos de ontem à noite me deixaram mais sensível. Ele é fruto da pior memória da minha vida, mas é a coisa mais linda que eu tenho e é a minha fonte de felicidade.

          - Porque estás com a boca cheia de chocolate, menino? – Interrogo com a testa franzida ao notar os restos do alimento no canto dos seus lábios. – O que eu já te disse sobre chocolate?

          - Foi só um bocadinho, mamã, eu juro! – Gargalho baixinho quando ele me mostra o mindinho como se fosse possível eu apertá-lo com o meu, através do telemóvel. – Quando voltas para casa?

          - Quando acabar o campeonato meu amor, quer dizer, depende do que acontecer com as seleções que eu acompanho. – Olho para a minha irmã que revira os olhos ao ver o meu filho confuso e com a testa franzida. – A mamã neste momento está com Portugal, Espanha, Inglaterra e Alemanha e eu vou ficar até a última destas seleções ir embora. – Explico lentamente vendo-o concordar com a cabeça e sorrir ligeiramente. Aquele sorriso, aquele modo de mover a cabeça, não enganam, ele mostra bem de quem é filho. – Se uma delas for à final, eu vou ficar na final.

          - Ele está sempre a dizer que quer que Espanha seja campeã e eu já lhe disse que ele tem de apoiar França. – Rio baixinho com a repreensão que a minha irmã lhe dá na brincadeira e vejo o meu filho bufar. – Jonathan, não me revires os olhos, eu vou-te bater.

          - A minha mamã não deixa. – Controlo-me para não rir do jeito engraçado e firme como ele fala, abanando negativamente a cabeça. – Eu sou pela Espanha por causa do Bartra e do Bellerín. – Engulo em seco ao ouvir o segundo nome por ele proferido. A verdade é que por acompanhar comigo e com o seu tio a liga inglesa, ele desenvolveu um amor enorme pelo Arsenal e tem como jogador favorito o próprio pai, sem saber que ele o é. Eu não posso fazer nada, mesmo que tente, eu não o posso incentivar a odiá-lo, sem lhe apresentar uma razão plausível para isso. – Já falaste com um deles para me dar a camisola, mamã?

revenge ⌈ cancelo • goretzka • bellerín •  loftus-cheek  ⌋ ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora