⌈ capítulo 11 ⌋

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❛  Amélie Fontainelles  

          Sinto a minha cabeça latejar com a falta de sono que me atinge. A noite de ontem foi recheada de momentos que me marcaram. Começando pela minha tentativa falhada de me entregar a André, acabando na conversa com João. Está tudo a acontecer ao mesmo tempo e eu sinto que o relógio a qualquer momento vai disparar e a bomba rebentar. Tudo o que o Cancelo me disse na noite passada, surge na minha cabeça de forma repetida. Como ele pode ser tão bom e ao mesmo tempo tão mau? Como posso estar eu arrependida de o ter roubado mas ao mesmo tempo tão feliz? Enterro a cabeça na almofada e solto um grito alto, arrependendo-me quando percebo que posso ter estragado a maquilhagem e também porque ouço alguém bater na porta, alguém esse que só pode ser André.

          - Bom dia. – O português profere assim que eu abro a porta e, olhando para ele, eu sinto-me envergonhada pela noite de ontem. – Posso entrar?

          - Claro claro. – Bato com a mão na própria testa e dou espaço para que o jogador consiga entrar. O rapaz senta-se na ponta da minha cama e parece tão constrangido quanto eu. Sento-me ao lado dele, fitando o chão e respiro fundo no intuito de ganhar coragem para iniciar a conversa. – Há algumas coisas que eu preciso de te contar e depois de as ouvires, vais entender o porquê da minha reação ontem.

          - Amélie, tu não precisas de te justificar. – André agarra uma das minhas mãos e sentindo o seu olhar em mim, viro o meu olhar para ele, sentindo todo o meu corpo quente e a tremer. – Não vou mentir, dizendo que não me apetecia e que não fiquei sentido, porque realmente senti-me mal, mas tu estás no teu direito.

          - Há dez anos, quando eu ainda era uma mísera adolescente de quinze anos, eu era bem diferente do que sou agora. – Começo a contar a história da minha vida, num tom de voz calmo e suave. É claro que eu lhe vou contar a mesma versão que contei a Luis, porque não posso em momento algum, contar a verdade sobre os verdadeiros violadores, pelo menos enquanto não me vingar corretamente. – Eu era muito extrovertida, divertida, simpática e passeava sempre sem problema algum, por todos os locais do centro da Córsega. – Vejo o rosto do meu companheiro ficar confuso e roço os meus lábios um no outro. – O meu nome de nascença é Ambre Yves, mas, por favor, André, tu não podes em momento algum dizer isso a alguém! Eu juro que tu vais entender, mas primeiro promete que não falas. – Logo o jogador concorda com a cabeça, notando-se claramente que ele está confuso e curioso. – É da Córsega que eu sou natural e vivi lá por toda a minha vida, até aos dias de hoje. – Balanço o olhar entre o rosto do português e as nossas mãos. Suspiro levemente e volto a fixar-me nele. – Numa das noites de verão, eu fui violada.

          - Amé...

          - Eu fui violada e dessa violação resultou um filho. – Vejo a sua maçã-de-adão mover-se, sinal que ele engoliu em seco e está em choque. – Quando eu descobri, era tarde demais para abortar, então, eu mentalizei-me que o iria dar para a adoção mas quando ele nasceu, André, eu não consegui, eu simplesmente apaixonei-me e soube naquele momento que eu teria de ultrapassar toda a minha dor para criar o meu filho, porque no final de contas, apesar de ser o resultado do maior trauma da minha vida, ele é meu também. – O moreno concorda com a cabeça e sem nada dizer, puxa-me para um abraço forte, sendo possível ouvi-lo fungar ao meu ouvido. – Então?

          - Tu és incrível, sabes? Tu és a porra de uma força da natureza e eu sinto-me tão mas tão orgulhoso de ti e da mulher que tu és, sinto-me feliz por ter alguém como tu ao meu lado. – Confessa com os olhos fixos nos meus tendo os seus completamente marejados. – Porque não me contaste antes? – Encolho os meus ombros, não sabendo muito bem o que responder e mais uma vez ele abraça-me. Pouso apenas o meu queixo no seu ombro e suspiro pesadamente. – Eu entendo a demora, entendo que tenhas de ter ganho coragem porque não é fácil, mas se foi por medo da minha reação, eu quero que saibas que eu nunca iria reagir mal.

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