Capítulo 22

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Capítulo de domingo pago hoje 😂 estamos crescendo bastante gente. Quero agradecer muito, e mais ainda pelo apoio que estão me dando. Escrever esse livro está sendo uma luta! 

Erika

Sentada no banco de trás do carro, eu tinha apenas o copo de água em mãos e meus pensamentos. Alguns minutos atrás deixamos um prédio em chamas, ainda assim mal acredito que vovó esteja morta. Santo Deus, a única família que me restava. O sangue seco nas minhas mãos causam uma sensação ruim, quero chorar mais e mais. Pedi que parassem o carro, precisava de alguns minutos em silêncio.

Pelo vidro vi Lukas conversando com Ansel. Daryl está à alguns metros, o celular contra a orelha. Então era eles a quem vovó se referia. Um pequeno sorriso brotou em meus lábios, tão curto quanto um vento passageiro. Bebi toda a água, queria deixar de sentir essa dor angustiante. Queria deixar de sentir muitas coisas. Bati no vidro, precisava falar com Daryl. Mas quem veio foi Lukas. Falar com ele era o último item da minha lista inexistente. Ele sentou no banco ao meu lado, mantive meu olhar para minhas mãos. Parte era porque não queria olhar para ele, e a outra era que ele não me olhasse. A vergonha falando mais alto naquele momento.

Me salvando de questionamentos que eu não estou afim de responder, Ansel assumiu o volante, Daryl ocupou o banco do passageiro.

— Sabe em que lugar Briar pode estar? — pergunto olhando para Daryl.

— Dardan disse que ela deu entrada no hospital hoje de manhã.

A leucemia consumia rápido a vida da minha irmã. Podíamos ser semelhantes, mas o fato de não sermos irmãs não mudava nada. Ela ainda era minha irmã. A menina com quem eu brincava todos os dias. Briar dissera que não acreditava em Deus, mas eu sim, e todo o mal que plantamos, colhemos em dobro.

Foi por esse motivo que o carro mudou a rota do aeroporto de Vágar para o hospital. Fiz de tudo para não olhar para Lukas e sua presença marcante. Até mesmo o perfume dele me chamava. Olhei para as ruas repletas de casas com telhados de relva e madeira, cores vibrantes e harmoniosas.

Ao ver o grande prédio azul sideral, tive algumas lembranças antigas. Falar feroês foi o mais difícil, meu medo era Patrick ter passado por aqui e levado Briar. Ansel disse que ele fugiu, deixou um de seus soldados para trás com o recado de em breve ele voltaria. Quando a recepcionista disse que minha irmã estava em um quarto e que as visitas tinham começado, pedi para vê-la. Tentaram me levar pelo estado catastrófico ao qual me encontro, foi duro enganar as enfermeiras.

— Quero ir sozinha. — coloquei minha mão sobre o peito de Daryl. Sabia que ele me seguiria. Portanto, preciso fazer isso sozinha.

Ele suspirou e entregou-me uma arma. Guardei por dentro do terno de Ansel, que recebi após acordar.

— Não sei se tem alguém que trabalhe para o Patrick aqui. — justifica. Aceno para ele e sigo as instruções da recepcionista sobre onde Briar está.

Depois de errar o quarto por diversas vezes, finalmente consegui encontrar o certo. A mulher magra sobre a cama foi uma visão que fez meu peito apertar. Dei alguns passos até ela, Briar tinha vários tubos e agulhas conectados ao corpo, até máscara de oxigênio usava. A temida fase terminal de um câncer.

Segurei a mão gelada dela.

— Daria tudo para que as coisas não fossem desse jeito. Não sei quais foram suas motivações para todas as atrocidades que cometeu. — com cuidado tiro o travesseiro que apóia sua cabeça. — Mas nada disso justifica tudo o que fez, por esse motivo eu não te perdôo, Briar.

Algumas lágrimas vieram, limparia cada uma pelo resto da minha vida. Dei um beijo no rosto magro da minha irmã. 

— Independente de tudo, você ainda é minha princesinha.

Coloquei o travesseiro sobre o rosto dela, abafando o som do tiro que disparei. As máquinas começam a apitar. Sai do quarto aos prantos, por anos sempre fomos ela e eu brincando no jardim, fazendo artes pela casa. Por anos eu fugi dela. A contradição que só partia meu coração.

Encontrei os irmãos na recepção, notando meu estado eles não disseram nada, Daryl andou ao meu lado até estarmos fora do hospital.

Deixar a Dinamarca nunca trouxe tanto alívio. Vovó seria enterrada em Nova York, um pedido meu que Ansel prontamente aceitou ajudar.

Em todas as tentativas de Lukas para tentar falar comigo, esquivei e ignorei. Ele desistiu fácil, e agradeci mentalmente.

Daryl foi minha âncora, lá no fundo sei que tem algo por trás de todo esse carinho e preocupação, ele não me deixou só em momento algum. A pauta sobre enxerto de pele foi iniciada por Ansel, vi que ele se sentia incomodado com aquilo, talvez com medo de eu reagir mal. Respondi o necessário, queria sim fazer o que pudesse para ter a pele das minhas pernas de volta.

Horas depois pousamos em Nova York. Um carro levou Ansel e eu para sua casa. Daryl e Lukas foram para outro lugar. O caminho foi feito em silêncio, o grande homem ao meu lado parecia absorto em seu próprio mundo. Ansel é um belo homem, o porte altivo e olhos azuis expressivos. Danielle tirou a sorte grande, ou talvez não.

Foi ela que nos recebeu na porta.

— Sinto muito.

Suas palavras vieram com um abraço apertado. Os cortes nas costas doeram, mas não me importei.

— O que podemos fazer por você, até os outros dois voltarem? — Ansel pergunta.

— Uma cama já é o suficiente.

Danielle levou-me até o quarto de hóspedes. É delicado com cores claras, a cama parecia macia e eu era o que eu realmente precisava. Por alguns minutos ela fez os curativos nas minhas pernas, aliviando um pouco da dor.

— Qualquer coisa que precisar, não hesite em chamar.

Aceno para ela, que sorri e segura minhas mãos.

— Seja luz, até mesmo na pior escuridão.

Quando Danielle saiu eu fechei a porta e tirei o paletó de Ansel. Sentia meu corpo cansado, porém o sono ainda não tinha dado às caras. Deitei na cama e suspirei olhando para o teto.

O que viria a seguir?

Mais sofrimento?

Ainda tinha Natasha, minha filha, Patrick solto por aí.

— Droga.

Duas batidas na porta e aos poucos ela foi se abrindo. Sentei na cama e o sorriso que dei foi inevitável.

— Acho que ele pode te dar um pouco de paz.

Danielle entrou no quarto com Victor nos braços. O pequeno me olhava curiosamente, eu o peguei e vi que ela deixou o quarto.

Victor ainda me olhava, lembrei que meus cabelos antes grandes agora estão curtos demais. Talvez fosse por isso.

 — Ei pequeno. Sou eu, sua babá.

Victor deu sua risada contagiante, abracei o garotinho e sorri.

Mama! Mama!

Fiquei emocionada, mesmo nesse estado ele me reconheceu. Não é novidade, sem nem mesmo uma peruca loira conseguiu driblar esse pequeno.

Aos poucos sentia que tudo ficava mais tranquilo no meu interior.

Até breve meus amores 😍 não esqueça de votar e comentar bastante.

Lukas - Trilogia Sombras da Noite #2✔Onde histórias criam vida. Descubra agora