Cicatrizes

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POV. Camila.

As luzes passavam rapidamente pelo lado de fora do carro enquanto eu não conseguia controlar minhas lagrimas e meus soluços, que ficavam cada vez menos constantes. Dinah me apertava como se eu fosse algo importante e pudesse quebrar a qualquer a momento. O que ela não sabia era que eu já estava quebrada.

Nem quando eu havia torcido o pulso quando mais nova havia doído tanto. Era uma dor dilacerante. De dentro pra fora e de fora pra dentro. Horizontal e vertical.

As palavras de conforto que ela dizia não me serviam de nada e eu pude notar que ela chorava também, junto comigo. Seu vestido já estava bastante molhado e sujo por conta das minhas lagrimas amargas que destruíram a maquiagem.

O taxi parou e eu desci como uma fera, deixando minha amiga para trás da maneira que pude. As luzes da casa ainda estavam acesas, o que significava que meus pais não estavam dormindo. Abri a porta com uma força descomunal e passei correndo pela sala enquanto as lagrimas voltavam a ficarem em um fluxo mais frequente novamente.

- Filha? Filha? – Pude ouvir minha mãe me chamar, mas tornei a subir as escadas na velocidade máxima.

Assim que cheguei ao ultimo degrau, praticamente pulei para dentro do meu quarto e corri para o lado do guarda-roupa pegando uma mala e já abrindo os armários e tirando todo tipo de roupa.

Escutei passos apressados e afobados mas continuei guardando as coisas dentro da mala. Vi duas sombras chegarem rápido. Era Dinah e minha mãe, que também tinha os olhos marejados quando viu meu estado. Eu não precisei dizer nada e dona Sinu se aproximou me abraçando tão apertado quanto a minha amiga durante todo o trajeto. Eu chorei copiosamente.

- Vai ficar tudo bem, meu anjo. Vai ficar tudo bem. – Ela dizia enquanto meu corpo sacolejava diante dos soluços fortes. – Dinah, pega um pouco d'água com açúcar pra ela?

Por mais que tivesse que o rosto enfiando no colo de minha mãe, pude notar a ausência temporária da polinésia. Minha mãe afagava minhas costas com carinho.

- Mama, tá doendo tanto! – Eu sussurrei, enquanto ainda chorava.

- Eu sei, querida. Isso vai passar!

- Por favor, faz isso parar! – Supliquei.

Minutos depois eu já estava sentada na beirada da cama com as mãos da minha mãe e da minha amiga segurando as minhas. Eu não soluçava mais, porém as lagrimas ainda escorriam mesmo contra minha vontade. Minha tristeza transformando-se em raiva, assim como meu pai, que cuspia fogo e maribondos no primeiro andar da nossa casa.

Dinah explicou superficialmente o que havia acontecido, e ainda assim ele queria pegar o carro e ir até o local da festa apenas para dar uns bons cascudos no motivo de sua filha estar daquele jeito.

- Eu vou matá-lo. Matá-lo com minhas próprias mãos. – Ele grunhiu alto e devido ao nosso silencio foi possível ouvir sua voz em alto e bom som.

- Dorme comigo hoje, Chee?

- Não precisava nem pedir, Chancho. – Ela respondeu com a mão livre afagando meus cabelos.

- Tem certeza de que é isso que você quer, querida? – Minha mãe perguntou olhando para as duas malas bagunçadas, agora no pé da cama e eu suspirei antes de assentir. – Okey. Eu vou... comprar as passagens e acalmar seu pai.

Pagar o Shawn pra ele namorar a esquisitinha do colégio?

Sério?

Tão clichê...

A Aposta - ShawmilaOnde histórias criam vida. Descubra agora