Perdoar é pros fortes

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POV. Camila.

O relógio marcava seis e quinze. Ashlee, Taylor e Keaton já tinham ido embora e a clínica estava vazia e fechada. Eu terminava de organizar alguns papeis que ainda estavam espalhados sobre a grande mesa branca da minha sala.

Do lado de fora caía o mundo, literalmente. Depois de almoçar com minha irmã voltei para a clínica e ela quis vir comigo, mas como eu teria que ficar um pouco mais ela pegou uma carona com as meninas e foi para o hotel.

Eu estive a tarde toda ali em corpo e alma, mas minha falta de atenção nas coisas era perceptível. Os bichinhos que recebemos haviam sido consultas, então não tive problemas grandes com isso. Suspirei pela vigésima vez sentindo um latejar na nuca e massageei as têmporas buscando algum tipo de alivio. Um trovão ecoou do lado de fora e a claridade repentina invadiu um pouco o ambiente através das janelas e partes de vidro.

Ash deixou a luz da frente acesa, mas já estava tudo devidamente trancado e avisado que estávamos fechado. A luz ficou acesa apenas para que eu pudesse sair. Organizei os papeis e ouvi barulhos de batidas, mas pareciam abafados por conta da chuva.

Levantei curiosa aparecendo no pequeno corredor, na verdade colocando apenas o rosto para que pudesse ver o que se passava ou se era apenas a tempestade. Do lado de fora havia um homem completamente encharcado com um animal no colo. Parecia ser um cachorro.

- Alguém me ajuda, por favor.

Não dava pra ver muita coisa, porque ele estava com a cabeça abaixada e a luminosidade do lado de fora não era das melhores naquele momento, havia realmente muita água caindo do céu. Eu olhei rapidamente para o balcão e a chave pareceu brilhar, mesmo que já estivesse "fechado" e eu estivesse cansada não poderia deixar aquele bichinho sofrer, ainda mais naquelas circunstâncias, então antes que pudesse raciocinar direito já estava com o molho de chaves em mãos abrindo a porta.

- Entra, entra!

Abri a porta por alguns centímetros e senti uma rajada de vento super gelado entrar ali. O homem estava com a cabeça baixa e alguns fios de cabelo caiam sobre sua resta. O cachorro em seu colo era apenas um filhotinho e certamente era de raça.

- Ele não... – sussurrou tremendamente nervoso. – Eu acho que não está respirando! – Eu conhecia aquela voz. Estava um pouco desesperada, mas jamais irreconhecível.

Congelei.

Senti cada terminação nervosa dar indicio de alguma coisa e abri os lábios em descrença. Exatamente na mesma hora ele levantou o rosto deixando de olhar o animal desacordado por alguns segundos e foi como se a tempestade lá de fora estivesse acontecendo ali dentro naquele momento. Era como se raios e trovoadas estourassem bem ali sobre nossas cabeças.

Mas eu não tinha tempo à perder.

- Coloque ele ali. – Apontei para uma sala onde havia mesas exatamente para que cuidássemos dos animais. Ele não tardou em praticamente correr e colocar o animal cuidadosamente.

Não tardei em pegar tudo que eu precisaria, pelo menos para ter uma primeira impressão ou uma ideia mais concreta do que seria. Eu não poderia realizar uma cirurgia ali sozinha, de qualquer maneira. Comecei a examinar o animal, que fazia certo esforço para respirar, mas ao menos ainda respirava.

- Ele está assim desde quando?

- Eu não sei... – Parecia perdido. Como assim ele não sabia?

- Você precisa se lembrar para que eu te ajude. Ele está respirando, mas está fazendo muito esforço. – Observei a barriga do animal subir e descer freneticamente. – Qual o nome dele?

A Aposta - ShawmilaOnde histórias criam vida. Descubra agora