Ainda há amor

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POV. Camila.

O quarto encontrava-se um pouco escuro, por conta do horário e do tempo fechado lá fora. Agora chovia menos, mas o barulho das gotas que respingavam na janela por conta do vento forte eram um tanto quanto perceptíveis.

Além disso, a única coisa possível de ser escutada ali eram nossas respirações, tranquilas. Eu ainda podia ouvir o coração dele bater acelerado, pois eu estava com a cabeça apoiada em seu peito nu e quente. Um de seus braços estava em volta do meu corpo. Eu sentia como se cargas enérgicas fossem jogadas sobre mim.

Abraçando-me e aquecendo-me.

Uma de minhas mãos estava apenas apoiada em sua barriga, estacionada. Suspirei e sem recolher a mão ou me movimentar um centímetro disse.

- Acho melhor você ir embora.

Fui mansa. Falei calma, sem gritar e sem sussurrar. Ele havia entendido, tanto que seu corpo pareceu recolher-se minimamente. Seu peito deu uma sacolejada. Ele estava rindo.

- Você está brincando, não é?! – A voz grossa também saiu mansa, porém um pouco mais agitada do que a minha. E não. Eu não estava brincando. Shawn mexeu-se um pouco tentando olhar nos meus olhos. Eu devolvi a mirada. – Isso é sério, Camila?

- Sim, é.

Ele me olhou desacreditado, porque minhas palavras não saíram tão confiantes quanto num primeiro momento. O que acontece é que eu estava lutando mais uma vez com um dilema em minha vida. Passado o momento "emoção" eu resolvi dar trelas à "razão". Naquela altura absurda do campeonato.

Shawn puxou o braço que estava me enroscando antes no corpo quentinho e eu senti um frio na mesma hora. Ele passou os olhos pelo quarto, provavelmente procurando por suas peças de roupas jogadas pelo chão. Virou-se de costas, ainda sentado e começou a vestir sua cueca. Num pulo não estava mais na cama e procurava por sua calça como se precisasse disso pra viver.

- Eu vim aqui disposto à colocar um ponto final nisso tudo. – Ele começou a dizer baixo, como se falasse para si mesmo, ou simplesmente seus pensamentos passaram a sair sem que ele ao menos percebesse. – Eu vim aqui pra recomeçar a minha vida, então você me beija, nós transamos e eu sou despachado.

- Shawn, não é isso.

- Não é isso? É o que então? – Ele virou-se pra mim enquanto revirava a camisa para coloca-la rapidamente. Senti que não deveria explicar nada, apenas fazer. – Inacreditável. – Ele resmungou e depois de já colocar a blusa e passar as mãos pelo cabelo revolto olhou pra mim enquanto enfiava a mão no bolso da calça mais uma vez. – Isso é seu. – Jogou o cordão com o anel em cima da cama. – Faz o que quiser. Joga fora, coloca fogo, enterra...

Eu puxei o lençol pra cima tampando meus seios e fiz menção em sentar, mas antes que pudesse fazer alguma coisa ele saiu porta afora completamente apressado. A última coisa que ouvi foi a porta da sala bater, não tão forte quanto eu esperava e então um silencio ensurdecedor.

Ele não me deixou explicar, e tampouco eu faria aquilo sem ter exatamente algo concluído. Porque por um instante eu me senti liberta para fazer o que eu quisesse, mas eu não havia terminado definitivamente com Justin, e me igualar a ele com traição definitivamente não estava nos meus planos.

Então eu voltaria para York, colocaria um ponto final com Justin e iria procura-lo para que pudéssemos de fato colocar as coisas em ordem e ver o que poderia rolar dali pra frente. Eu estava disposta a fazer isso, porque percebi naquela mesma tarde, no meio daqueles braços que apesar de muitas coisas terem mudado com os anos, aquele time que nós tínhamos não tinha mudado. Tampouco o que eu sentia por ele, e o que ele dizia sentir por mim.

A Aposta - ShawmilaOnde histórias criam vida. Descubra agora