Túnel do tempo

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POV. Shawn.

Oito anos depois...

O sol brilhava no céu acinzentado amenizando, um pouco, o frio intenso que se fazia presente na cidade de Nova York. As pessoas passavam rapidamente de um lado para o outro, como formigas num formigueiro, apenas seguindo a mesma rotina sem graça de sempre.

Ou talvez o sem graça tenha sido apenas ilusão da minha cabeça. Há muito tempo eu não via cores nas coisas, não via vida nelas e o tempo havia apenas me tornado um homem meio amargurado. Maltratado pelas escolhas feitas e pelo caminho que minha vida tinha tomado.

Mas não importava. Não mais!

Atravessei a rua de forma desajeitada, enquanto tentava desviar de algumas pessoas e escutava ao longe a buzina de alguns carros que transitavam numa avenida ali ao lado.

Suspirei e bocejei ao mesmo tempo, pela quinta vez no dia e olha que ainda era apenas... sete e quarenta da manhã. Respirei profundamente e dobrei a primeira esquina entrando no Alice's Coffee, que era praticamente minha segunda casa naquela altura do campeonato.

Por conta do horário ainda não estava cheio, então não fiz cerimonias e me apressei em sentar-me apoiado, ou praticamente jogado, no balcão. Tirei os óculos escuros do rosto e esfreguei o mesmo tentando afastar aquele sono miserável que emanava da minha pessoa. Eu tinha cochilado por algumas horas, ou alguns minutos. Isso também não importava.

- Nossa Senhora... – escutei aquela voz mais do que conhecida e tirei a mão do rosto – Mais um pouco e isso que você chama de olheiras vai sair pela sua nuca.

- Obrigado pela parte que me toca. – Resmunguei.

- Noite difícil? – Ela perguntou escorando-se parcialmente na minha frente e eu dei de ombros.

- Vinte e dois anos, alemã e estudante de publicidade. – Ela assentiu, muda – Mesmo de sempre. – Franziu o cenho. – O café, eu quis dizer.

- Eu sei, idiota. – Ela riu e se afastou alguns metros enchendo o copo com o líquido que me manteria acordado pelas próximas horas. – Um pra viajem também?! – Foi mais uma afirmação do que uma pergunta. Eu apenas assenti.

- Obrigado. – Agradeci quando ela voltou e depositou o copo na minha frente. Só o cheiro do líquido escuro já havia acordado parcialmente meu corpo.

Ela parou e sentou-se, diferentemente das outras vezes que tornava a andar por ali vendo se tudo estava certo com alguns clientes que resolviam madrugar. Seus olhos, verdes e insistentes foram depositados em mim e eu pude enxergar um tipo de sentimento que já era comum: pena. – O que foi? – Mesmo a contragosto perguntei.

- Já faz anos...

- Li, por favor... – Resmunguei de novo.

- Por favor não, Shawn. Olhe pra você! – Apontou para mim com um olhar triste. Eu odiava aquele olhar. – Você não dorme direito há tempos. Sai toda noite, enche a cara e dorme cada noite com uma garota diferente praticamente. Você está se autodestruindo.

- A vida já fez isso por mim. – Senti um gosto amargo descer pela minha garganta e não soube dizer se era do café, ou se era o gosto da derrota.

- Não. Não é porque você fez escolhas erradas no passado que você tem que fazer a mesma coisa agora. – Ela respirou fundo pousando a mão sobre a minha, agora em um gesto terno – Você precisa superar.

A Aposta - ShawmilaOnde histórias criam vida. Descubra agora