Perder-se

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POV. Camila

Diferentemente dos outros dias Miami resolveu acordar fria naquela manhã. O sol escondia-se envergonhado atrás das nuvens escuras que pairavam no céu.

Dois dias haviam se passado desde que eu cheguei aqui na casa dos meus pais. Precisava espairecer, pensar melhor e abdicar um pouco dos problemas que me rondavam. Uma possível traição, mais do que comprovada na verdade. Uma possível gravidez e todo um relacionamento de anos prestes a ser jogado no lixo.

- Você quer conversar, querida? – Dona Sinuhe perguntou.

Era de manhã. Meu pai havia saído para o trabalho e Sofia já tinha ido para o colégio, então estávamos apenas nós duas. Compartilhávamos o silêncio e um pouco de café.

Assim que cheguei em Miami expliquei por alto o que tinha acontecido. Por alto. Minha mãe me conhecia e não fez perguntas, apenas me deu um abraço apertado e eu sabia que independente do que eu fizesse ela estaria do meu lado. Sempre.

- Eu não sei, mãe.

O celular da minha mãe tocou pela terceira vez só naquela manhã. Ela olhou no visor de identificações e saiu para atender, eu sabia que era o Justin, porque ele estava tentando fazer contato comigo há dias. Respeitando meu espaço no máximo que ele conseguiria. Dona Sinu voltou menos de três minutos depois de que saiu.

- Na hora certa, você saberá. Mas sou sua mãe, se quiser conversar comigo eu não irei de julgar, hija.

- Era ele, não era? – Fiz uma pergunta mais do que óbvia. Minha mãe sorriu sem mostrar os dentes e voltou a sentar-se no mesmo lugar enquanto dizia sem palavras que sim, era Justin.

Ela escorregou a mão pela mesa até que tocasse a minha e juntou nossas mãos. Seus dedos eram quentes e os meus estavam gélidos.

- Sim, era. – Um instante de silêncio. – Meu amor, posso te fazer uma pergunta? Eu acho que já sei a resposta, mas preciso ouvir da sua boca. – Assenti. – Você não o ama, não é mesmo?!

O tom não saiu exatamente como uma pergunta. Dentro da minha cabeça se passava uma coisa, mas dentro do meu coração passava-se outra completamente diferente. Eu sentia que gostava muito, muito mesmo dele. Justin foi importante pra mim na fase mais difícil da minha vida. Ele tinha sido o meu melhor amigo e me apoiado em tudo. Comigo nas vitórias e nas derrotas, então eu sentia algo por ele sim. Mas amor?

- Eu gosto dele. Realmente gosto.

- Mas você não o ama, querida. E isso não é uma pergunta dessa vez. – Confirmou o que eu já suspeitava. – Eu posso ver nos seus olhos.

- Dizem que os olhos são os espelhos da alma. – Foi minha vez de sorrir sem dentes, os meus olhos ficaram úmidos e minha mãe logo tratou de apertar um pouco mais firme os meus dedos juntos aos seus.

- Sim, e tem algo que você não quer me contar. – Pressionei os lábios pensando se falaria ou não, mas ela logo me interrompeu. – E não precisa me dizer se você não se sentir à vontade, mas caso precise eu estou aqui.

Dona Sinu sorriu mais uma vez, os olhos pequeninos escondidos por trás dos óculos inseparáveis e agora algumas rugas apareciam pelo canto de suas amêndoas. Apertou levemente minha mão e eu percebi que ela iria se levantar e me deixar ali, pensando comigo mesma sobre o que eu realmente sentia ou não.

- Eu vi o Shawn. – Ela não pareceu surpresa quando eu disse.

- Sim? E o que você sentiu?

Confesso que estranhei o fato dela não ter se mostrado surpresa ou ter tido uma reação mais "violenta", pois minha mãe amava o Shawn, mas depois que as coisas aconteceram ela o odiou mais do que tudo. Falar sobre ele era tão proibido pra mim quanto pra ela.

A Aposta - ShawmilaOnde histórias criam vida. Descubra agora