Fogo que queima

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POV. Camila

Deixei o pano de prato sobre a mesa enquanto pegava o prato esfumaçando. Andei bem devagar para que não fizesse alguma lambança. Eu era desastrada num nível absurdamente alto. Cheguei na sala e pude ver o garoto de olhos fechados deitado sobre sofá, agora com uma camisa de algodão e com uma coberta por cima.

Como ele estava com febre acabou por suar, molhando o casaco todo e eu tive que subir para pegar outra roupa pra ele, procurando por algo mais fresco.

Franzi o cenho enquanto observava Shawn se tremer todo por debaixo das cobertas. Me aproximei colocando o prato sobre a mesa de centro e estendi minha mão em sua direção, pousando-a em sua testa mais uma vez. A febre não estava abaixando e eu estava prestes a surtar de preocupação.

- Shawn...

Chamei ele baixinho passando a mão e afastando alguns fios de seu cabelo que caiam sobre sua testa. Ele murmurou alguma coisa antes de abrir os olhos, meio grogue. Nossa tarde de estudos havia ido pelo ralo. A chuva intensa do lado de fora parecia destruir o mundo e meu único medo agora era que faltasse luz ali, coisa que não estava longe de acontecer.

- Hm...

- Eu fiz uma sopa pra você comer. Senta melhor, vou te ajudar.

Ele se sentou abaixando a coberta até a altura de sua cintura, o braço todo arrepiado não passou despercebido por mim, assim como a pequena marca em sua bochecha, que eu pude perceber quando havia me abaixado para lhe explicar que iria fazer algo para que pudesse comer e melhorar. Muito a contra gosto consegui que ele ficasse quieto e pude ir fazer algo.

Shawn suspirou e eu coloquei uma almofada no coloco dele, depositando o prato quente bem em cima. Ok, a sopa não estava com uma cara muito boa, mas o importante era que o gosto estivesse. E mesmo que não estivesse mais importante ainda era ele enfiar alguma coisa na barriga.

O garoto fez uma careta e segurou no talher rodando de um lado para o outro, apenas enrolando para comer.

- Come! – Permaneci sentada observando ele grunhi em desespero. Ok, se ele não queria por bem iria ser por mal.

- Camila!

Uma voz esganiçada saiu de sua boca quando retirei o prato de seu colo e enchi uma colher com os legumes que tinha ali estendendo em sua direção e parando bem na frente da boca. Se ele não queria comer sozinho como um adolescente normal, então eu iria dar na boquinha dele, como um bebê.

- Olha o aviãozinho. Abre a boca!

Tentei brincar e ri sozinha. Conforme eu aproximava a colher ele simplesmente virava o rosto e aquilo já estava começando a me irritar. Bufei, já impaciente e ele fixou os olhos em mim por alguns longos segundos.

- Por favor...

Uma palavrinha mágica e um suspiro. Ele abriu a boca e eu empurrei a colher devagar, como se realmente estivesse dando comida para um neném, até mesmo porque estava quente eu não seria uma boa ideia ter uma boca queimada naquela altura do campeonato. Se eu soubesse que falar "por favor" e uma carinha meiga resolvia o problema eu teria feito muito mais cedo.

Ele comeu metade da comida que tinha ali e começou a fazer as mesmas caretas que estava fazendo no início.

- Que foi?

- Tô ficando enjoado – Relaxou a cabeça sobre o sofá e eu afastei o prato.

Que beleza! Agora eu também teria que arrumar um comprimido pra enjoo. Legal!

A Aposta - ShawmilaOnde histórias criam vida. Descubra agora