Capítulo 8

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Ducan tentava inutilmente se arrumar para o baile da condessa de Boltness, seu valete e mordomo era o pior funcionário que já tivera na vida. Balançou a cordinha que o chamava ao quarto pela décima vez e esperou alguns segundos. O homenzinho não apareceria, concluiu. Se vestiu às pressas, sua gravata estava esquisita jogada para o lado esquerdo, o colete estava mal passado e o casaco parecia que tinha visto um dilúvio. Mataria Jhon. Ainda hoje aquele empregado impertinente e decorativo se veria de frente com Deus, esperava ardentemente que fosse condenado ao inferno.

Seria sua segunda noite de festas e ainda não conseguira pensar em uma dama com quem poderia se casar. O baile de máscaras foi um fiasco, as damas cochichavam ao seu respeito e fugiam de sua presença, foi horrível. Desejou ir embora de Londres o mais rápido possível, não se humilharia correndo atrás de mulheres que tinham pavor dele, não era burro, sabia que tinham-lhe asco. Se não fosse Windsor o lembrando que deveria cumprir com sua obrigação de nobre e dar continuidade ao ducado, já estaria em sua propriedade na Escócia. Mau se passaram duas semanas que estava em Londres e já sentia saudades de casa. Precisava arrumar logo uma esposa.

Colocou a mascara em sua face esquerda e caminhou em direção ao espelho, com um suspiro observou o homem que o encarava do outro lado com uma cara de poucos amigos, seu reflexo. Ajeitou o cabelo o melhor pode e foi em direção a porta para mais um dia do que ele sabia seria decepcionante. Antes de chegar à maçaneta Jhon o mordomo valete entrou a passos de tartaruga. Oh era uma visão bem vinda, descontaria toda sua frustração naquele pequeno homem magricela, mau sabia ele que caminhava em direção à forca.

-Já cansou de me ignorar?

Jhon o olhou confuso.

-Ora, não se faça de bobo, sabe que te chamei!

Ele continuou o olhando com um ar inocente, como se não soubesse de nada.

-Vou matá-lo! - Ducan avançou no pobre mordomo e este pareceu despertar de seu estado vegetativo correndo ao redor da cama no centro do quarto.

-Vossa alteza, não ouvi a campanhia, mantenha a calma, pense em coisas boas. -Duacan o olhou rancoroso. Vendo que não tinha melhoras no estado de raiva do duque apelou para sua carta na manga- Não fico mais jovem, já nao ouço direito e...

-Não diga tolices, é mais ágil que uma serpente, seu velho salafraio! -  o criado continuou como se não tivesse escutado nada.

-...e o senhor é rico como um rei, deveria contratar mais alguém se quer que lhe coloquem as calças...

-Não quero que me coloquem as calças!

-Mas um valete faz isso, meu senhor - disse a sentença de sua morte em uma verdadeira cara de inocência.

-É um homem morto. - Com isso saiu mais uma vez em busca do pescoço do velho. Jhon passou atrás da cama e correu em direção à lareira e disse a última coisa que deveria naquele momento.

-Milorde, se tem dificuldade para vestir calçolas e calçar os sapatos -apontou os cadarços desamarrados do duque- deveria me chamar, não o julgo, não há vergonha em ser ignorante.

Nesse momento Ducan já enxergava em uma cor bonita de vermelho. Um grito grito brotou em sua garganta e mais uma vez saiu em busca de seu sangue, dessa vez não pouparia sua vida. John prevendo seu fim avançou para a porta e saiu em disparada escada abaixo, quando o duque chegou ao saguão, já não havia sinal do mordomo em lugar algum. Da próxima ele não lhe escaparia.

Caminhou resignado e possesso de raiva em direção à porta da mansão e saiu em busca de sua carruagem. Essa noite seria longa.

Chegou ao baile da condessa um pouco mais calmo, contou até mil na carruagem quatro vezes antes de começar a pensar em coisas boas e borboletas em jardins, sim, depois disso estava leve como uma pluma.

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