O Lobo Selvagem

Capítulo 16

A primeira coisa que Lilian notou quando cruzou as portas francesas de Lady Badford para o jardim, foi o delicioso ar fresco que se instalou em seus pulmões, aquilo era de certo revigorante. A segunda coisa era que o duque, ao contrário do que sua aparência a levava a acreditar, era muito lento. Isso ou ele estava tentando irrita-la. Desconfiou que seria a segunda opção. A terceira coisa que percebeu foi que este mesmo jardim estava milagrosamente vazio. Exceto talvez por uma pequena fonte um pouco mais a frente, próxima a esquina da casa, se é que isso poderia ser considerado algo perigoso para a reputação de uma dama. Certamente ser flagrada no jardim com o duque por uma fonte não deveria ser motivo de preocupação.

Olhando para trás examinou a área e percebeu que o duque ainda não aparecera. Francamente, se ele pensa que ao demorar fará com que ela desista está redondamente enganado.

Decidida, Lilian começou sua expedição em volta da mansão a procura de um quarto com as cortinas em vinho. Estava certa de que Eduard iria para lá, afinal era a sala de música e seu irmão como amante das melodias, não poderia escolher outro cômodo. Só esperava que ela também estivesse tão convicta por dentro quanto se mostrava por fora. Do contrário, temia pelo futuro de Angelinne.

Começou sua busca pela esquerda, lembrava-se vagamente de um verão em que estivera ali em um concerto e foi apresentada a sala de música para os convidados. Se não lhe falhava a memória, assim que virasse a esquina se veria de frente para a primeira janela com as procuradas cortinas vermelho vinho.

Já estava quase na virada quando um movimento a direita lhe chamou a atenção.

Próximo a fonte escorados em uma árvore, estavam dois cavalheiros. Ela cerrou os olhos tentando ver de quem se tratavam. Era Sr. Desmond Badford, o filho mais novo da condessa e Sir Roderick que acabara de ser consagrado cavalheiro pela própria rainha por menção honrosa nos campos de batalha.

Estavam tão próximos um do outro que chegavam a se tocar. Aquilo devia ser uma conversa sigilosa e não queria ser pega em flagrante bisbilhotando a pessoa errada.

Já estava saindo quando notou Roderick se aproximar do outro e sussurrar algo em seu ouvido, ela poderia ter achado que fosse apenas um segredo mais perigoso, se um segundo depois não tivesse visto Sr. Desmond agarrar o rosto dele em suas mãos, e Lilian não conseguia acreditar, eles se encontraram em um beijo voraz, cheio de desejo reprimido e paixão proibida. Ela só via braços e suspiros. Sir Roderick tomou o controle da situação, prensou Desmond contra o tronco da arvore que estava antes e o envolveu em seus braços musculosos acariciando seu dorso e perna com a pratica de um exímio romancista, tudo isso enquanto continuava o beijo violento. Desmond recebia tudo que lhe era dado e em troca oferecia tudo que conseguia.

Os homens estavam em total entrega e ela ficara tão absorta com a cena que não vira o duque sair pela porta.
-Lilian! – Rutland gritou, claramente perdido no jardim.

Ouvindo aquele rugido, os homens se separaram bruscamente e em um movimento quase ensaiado viraram-se e a viram.

Observando-os.

Pega em flagrante.

Seu rosto estava completamente tomado por uma coloração vermelho escarlate.
Se não fosse a lua brilhante acima de suas cabeças ela não teria notado o completo horror que dominou as faces dos cavalheiros. Estavam aturdidos e claramente amedrontados.

Ela entendia o porquê. As pessoas não deveriam se relacionar com outros indivíduos do mesmo sexo. Era pecado. Você estaria condenado ao inferno caso o fizesse, nesse ponto a igreja foi bem clara.

E essa era a parte branda da questão.

Se alguém soubesse do caso amoroso eles seriam, em uma maneira educada de se dizer, humilhados. Não só pelas pessoas, mas também pelo governo. Seriam banidos e nunca mais passariam a ser vistos outra vez, viveriam à margem da sociedade.