Em um movimento cortante e totalmente não feminino Angelinne pegou seu cartão de danças e apontou para Eduard obviamente dividida entre dar uma surra em seu irmão ou lhe quebrá-lo em pedacinhos... em Eduard. Para sua decepção ela o o entregou forçadamente. Ele não se intimidou, com um floreio exagerado pegou o leque/cartão em mãos e tentou puxa-lo para si. Sua amiga não largava o leque e pelo seu senho franzido e boca apertada, não estava certa de que largaria. Eduard tentou outra vez puxar o leque e quando ela o segurou mais firme, seu irmão fez que ia soltar o cartão e então, com um puxão forte o retirou da mão da amiga derrotada. Ainda olhando para a dama enfiou a mão no paletó em busca de sua caneta preta horrivelmente cara. Isso seria mal.
Com as mãos enfiadas no paletó ele observou o cartão aberto a sua frente, seu sorriso aumentou ainda mais, isso significava que a valsa estava vaga.-Sabe, ouvi falar que as valsas são as melhores danças para um casal apaixonado.
-Ou inimigos declarados - respondeu sua amiga. -Eduard riu, notoriamente divertido com o comentário.
-A senhorita é muito sanguinária. - disse ele olhando para ela e aproximando a caneta do cartão. Em um momento ele desviou a atenção para o cartão fazendo pressão com a pena e no instante seguinte a caneta estourou em sua mão em uma chuva de tinta preta. A tinta esguichou para todos os lugares, o terno estava arruinado, suas luvas outrora branca, agora estavam tingidas de preto e seu rosto, Lilian segurou o riso, seu rosto estava pincelado em todos os lugares de tinta preta.
Ele estava lá parado sem saber o que fazer, ainda registrando o que havia acontecido. Cabeças girando por todo o salão em sua direção tentando ver o espetáculo que era Eduard na sua versão mais envergonhada. Então levantou sua vista na direção de Lílian em um olhar assassino que ela ficaria com medo se Rutland não houvesse entrado na sua frente em um gesto protetor, também segurando o riso.
Ela inclinou o corpo para o lado, sem querer deixar as costas do duque e constatou o que já sabia. Eduard estava da cor de um pimentão por baixo de toda a camada preta, supunha que era ódio.Ótimo, ela estava satisfeita quase vingada.
-Um sapo- Angelinne apontou na direção do punho de seu irmão. Ele desviou o olhar do duque e dela e mirou a dama a sua frente que também estava salpicada de tinta preta. Angelinne... Lilian não queria que ela saísse assim. Um sentimento de arrependimento se instalou em seu peito.
-O que? - perguntou Eduard com um pontada de pânico na voz.
-Um sapo - ela continuava com o dedo trêmulo na direção dele. Ele voltou sua atenção temerosa no caminho que ela apontava. Uma minúscula rã estava agarrada no punho de seu paletó, tão tranquila quanto um raro dia de sol. De repente ela saltou em seu peito, olhou em seu rosto com os olhos pretos esbugalhados e fez um daqueles coachar altos solicitando sua atenção, aqueles que sinalizavam a presença dos sapos. Era o que faltava para seu irmão sair do transe. Com um grito assustado ele deu um tapa no bicho jogando-o longe no chão dando início ao pandemônio no jantar impassível de lady Badforth.
As damas gritavam, cavalheiros sacavam suas bengalas, serviçais corriam e Lady Lílian ficou lá parada junto a um duque incrédulo, uma amiga assustada e um irmão apavorado. O que ela tinha feito?
Eduard ainda controlando suas emoções e respirando pesadamente agarrou o braço de Angelinne e saiu tentando abrir caminho, arrastando-a pelo caos. Lílian fez menção de ir mas ele a parou.-Você não!
-Mas ela... -queria dizer que ela estava desacompanhada e que não poderia ser vista com ele a sós.
-Vou limpar a sujeira que você fez. -apontou o vestido de sua amiga e seu rosto com algumas pintinhas pretas.
-Eduard! - mas ele já estava longe, surdo a seu lamento desesperado.
Então se virou para o duque esperando um incentivo, ele a olhava especulativo, esperando uma explicação pra a rã.
Ela não estava no repertório.
Mas por nada nesse mundo deixaria sua amiga indefesa nas mãos de Eduard.Depois resolveria com o duque.
Viu a rã em um canto espremida e amedrontada, coitadinha, ela a pegou e saiu em disparada pelo salão tentando encontrar a saída para o jardim dos fundos.
-Não deveria estar acompanhada? - disse o duque parando- a atrás dela. Era estranhamente engraçado escutar isso, uma vez que estava indo salvar a reputação de sua amiga justamente por esse mesmo problema.
-Sinto dizer, milorde, que o papel de irmão mais velho já está ocupada... pelo meu irmão.
-Ah sim?
-Oh sim, e sua performance é especialmente encantadora.
-Preciso pedir que volte para o salão imediatamente. Os jardins são perigosos. - ela já ouviu isso antes.
-Está me dando uma ordem?
-Receio que sim. Deveria ao menos chamar sua dama de companhia que provavelmente está dormindo por aí. Você se deu ao trabalho de explicar a ela seu ofício?
-Acho que o senhor é de uma coragem gingante. -O fuzilou com o olhar- Ainda mais porque não vou chamar a senhora Davies coisíssima nenhuma. Daria qualquer coisa para ver Eduard agora.
-Não, você não daria.
-É um desafio?
-De jeito nenhum.
-Eu acho que sim.
-Pois eu tenho certeza que não.
-Claramente se trata de um desafio, milorde.
-Lílian, não é um desafio- Ele a chamou pelo nome. Sentiu o coração dar uma cambalhota, mas decidiu ignorar. Estava em uma missão.
-Sei exatamente onde está meu irmão. -Disse começando a andar novamente.
-Você não vai a lugar algum, já fizemos o bastante por hoje.
-Sim, e o senhor pode seguir seu caminho sem graça pela vida, milorde. Eu estou indo ver Eduard agora mesmo.
-Não está. - Ele começava a ficar com raiva.
-Eu mereço isso! - Ela poderia ter espalhado o caos em um dos bailes mais chiques da temporada, mas não ia perder um minuto sequer de ver Eduard em toda sua ira. Também iria tirar sua amiga das garras dele, é claro.
-A única coisa que você merece são umas boas palmadas.
-Ora por favor, se está tão curioso devia vir comigo!
-Alguém já disse que você é muito irritante?
-Inúmeras vezes. -Graças a Deus, as portas estavam logo ali.
-E não se interessa em ser- fez uma pausa fuzilando sua nuca- menos irritante?
-E que graça isso teria? -Ele a encarou pesando seu argumento - Então vamos la! - disse atravessando as portas.
-Que Deus me ajude...- escutou ele murmurando atrás de si.
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O Lobo Selvagem
RomanceSeria o amor capaz de curar as feridas da alma? Ducan MacRae, o duque de Rutland teve sua vida transformada após um terrível dia de caça. Seu rosto um dia foco de admiração, agora se tornara alvo de nojo e dó, as damas correm de sua presença. Até c...