Turbilhão de Sentimentos

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                       POV ANNE

Mais de 10 anos depois, recebo uma ligação que traria um misto de sensações novamente para minha vida. Wendy Finerman, produtora do filme, me convida para a continuação de "O Diabo Veste Prada". Me animei com a possibilidade de dar vida novamente a minha Andy, afinal ela é uma das personagens mais marcantes da minha carreira, mas confesso que fiquei receiosa quando soube do enredo para o novo filme. A continuação irá abordar o romance de Miranda e Andrea. Meu coração acelera só de pensar em todas as cenas que teremos que gravar. Não pela rotina de gravações, mas pelo medo de reviver sentimentos que por anos tentei esquecer. O que o destino reserva para nós? Bem, eu não sei. Mas não irei fugir. Me permitirei viver cada experiência que a vida me propuser. Não quero pensar muito nas possibilidades, nem nos possíveis encontros. "Um problema de cada vez, Anne"-pensei, respirei fundo e segui em frente como sempre fiz, afinal, sobre nós duas, ninguém nunca vai saber tudo.

                       POV MERYL

Não posso negar que aquela ligação trouxe a tona sentimentos que eu não sentia há anos. Já tínhamos nos encontrado algumas vezes depois de gravar o filme, mas nossos encontros sempre foram cercados por inúmeras pessoas ao redor, câmeras, jornalistas, flashs... como ótimas atrizes que somos, não permitíamos demostrar algo mais do que uma parceria entre colegas de trabalho. Por fora fingimos que nada acontecia, quando por dentro existia um caos de incertezas e um misto de sentimentos. Da última vez que a vi, eu estava acompanhada pelo Don, meu marido, quando a vi se aproximando de mim, meu coração errou as batidas, senti as famosas borboletas no estômago e até ouso dizer que corei só de ter meu olhar correspondido pelo olhar dela. Mas é claro que não podia deixar transparecer esse mar de incertezas que pairava sobre minha mente e meu coração.
Uma das coisas que aprendi com o Don é ser estável. Sempre tínhamos tudo planejado e muito certinho. Fomos felizes, ou melhor, somos felizes, mas não posso negar que todas as vezes que penso nela ou que olho para aqueles lindos olhos castanhos, sinto-me guiada pelo "e se". E se eu tivesse me permitido viver aquele sentimento? E se eu tivesse deixado de lado toda essa certeza e ter me jogado de paraquedas em uma nova história repleta de incertezas? E se eu tivesse ficado naquele deque, o que será que tinha acontecido? E se eu me permitisse viver tudo o que de fato eu queria?
Todos esses "e se" me assombram por todos esses anos. Tenho a sensação que poderíamos viver tantas coisas lindas...mas eu mesma sou a culpada por esse impedimento.
A brisa fria da noite me desperta dos meus pensamentos, eu resolvo fechar a janela e por fim me entregar ao sono.
Me deito cuidadosamente na cama macia forrada por lençóis azul marinho, apago a luz do meu abajur, respiro fundo e fecho meus olhos, quando de repente, sinto me abraçada pela mão do meu marido, ao mesmo tempo que o corpo dele se aproxima mais do meu, e mais uma vez meus pensamentos me traem e me levam novamente aquela noite no deque.

                     FLASHBACK ON

Meryl: Perdida em pensamentos, senhorita Anne? (Fala se aproximando dela, que estava olhando a vista da noite estrelada de Nova York)

Anne: Confesso que sim, dona Meryl.(Elas sorriem) Lá dentro está cheio demais, e eu quis aproveitar a companhia do silêncio das estrelas.

Meryl: Me desculpe, não quis atrapalhar. Vou voltar para o salão.

Anne: Ei, espere... Eu gosto muito da sua companhia. Pode ficar. (Meryl se aproxima e fica do lado dela, admirando a vista)

Meryl: O que tanto te aflige? Percebo que já faz algum tempo que você anda distante e mais calada, logo você que ama falar. (Um sorriso surge nos lindos lábios da morena)

Anne: Acho que estou apaixonada.(O sorriso se desmancha)

Meryl: Ô, que maravilha! Isso é ótimo. Deveria estar feliz. O amor é uma das melhores coisas que podemos sentir nessa vida.

Anne: Sei que sim, mas dessa vez é diferente. É um amor impossível.

Meryl: Impossível? O que impede vocês de ficarem juntos?

Anne: Tantas coisas... É muito difícil, você não iria entender.

Meryl: Experimente...

Anne: Primeiro, estou completamente apaixonada por uma mulher. Segundo: essa mulher é casada e tem uma linda família e por fim: ela é mais velha do que eu. Eu disse que era uma história difícil.

Meryl: Ela sabe dos seus sentimentos?

Anne: Creio que ela desconfia.

Meryl: Quem quer que seja essa mulher, ela é muito sortuda por ter seu amor. Você é uma pessoa maravilhosa, é um prazer poder ser dona do seu coração e dos seus sentimentos. (Anne vira ficando frente a frente com Meryl e os olhares se encontram)

Anne: Você acha que devo me declarar para ela? (Era notório a tensão que estava entre as duas)

Meryl: Sinceramente? Não sei. Você disse que ela é casada, e creio que ela deva amar o marido. Mas se em algum momento você achou que ela deu algum indício que sinta algo por você, então acho que deva falar o que sente. É como dizem, o não você já tem. (Se vira novamente para olhar a vista, enquanto a morena se aproxima mais dela)

Anne: Ela e eu estamos muito próximas nos últimos meses, e acredito que ela já percebeu que o que sinto por ela é mais que uma simples amizade. Ela nunca me disse nada relacionado a isso, mas posso perceber como ela fica quando me aproximo dela. Sinto que ela se arrepia só de sentir meus toques acidentais em sua pele, da mesma forma que sinto sua respiração se tornando mais urgente quando falo próximo ao seu ouvido. Talvez, no fundo, ela deva sentir algo também. (Pouco centímetros afastava o corpo das duas)

Meryl: Talvez ela sinta, mas talvez ela tenha medo de viver a incerteza de um sentimento novo, e talvez ela acredite que seja loucura viver tudo isso. (Fala nervosa)

Anne: Todo amor carrega consigo um bom fado de loucura. (O silêncio paira sobre elas) Você sabe de quem estou falando, não sabe?

Meryl: Desconfio.

Ela se vira lentamente, ficando frente a frente com Anne, os olhos castanhos invadem a imensidão daqueles olhos azuis. As respirações se tornam mais urgentes e naquele momento o mundo parece parar e só existir as duas. Os lábios estão indo calmante de encontro um do outro, e quando eles estão prestes a se encaixarem perfeitamente, a mais velha se afasta.

Meryl: É o medo da incerteza desse sentimento. Eu preciso entrar. (Diz isso e sai deixando uma Anne frustrada)

O Silêncio Das EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora