O Silêncio Das Estrelas

Inesquecível Julieta

Há exatamente uma semana nos mudamos para essa casa nas montanhas.
Nos dois primeiros dias Adam até tentou manter as aparências. Era carinhoso, calmo, prestativo... mas nos últimos dias foi se mostrando de verdade. Era cada vez mais ignorante, bruto e até agressivo.
Nos primeiros dias tentou carinhosamente me levar para cama, mas eu não cedi. Só de pensar em ter suas mãos pelo meu corpo me embrulha o estômago. Não me entregaria para ele. Não tenho forças para isso.
Porém ele cansou de esperar e em uma das noites quando eu menos esperava, fui surpreendida por ele. Me agarrou, me jogou no chão, rasgou minhas roupas e consumou o ato em meio aos meus gritos e choros.
Foi nessa noite em que lembrei de tudo.
Ao se satisfazer, levantou, acendeu um cigarro , serviu uma dose de whisky e sorriu cinicamente. Saiu batendo a porta e sumiu. Por sorte meus filhos não ouviram nada. Nesse momento agradeço ao fato de Adam mantê-los em um quarto afastado do meu.
Me sinto suja. Me sinto invadida. Me sinto destruída.
As lembranças rondavam minha memória e me acertaram em cheio.
Meryl, Emily, meus amigos.... como fui tola em não ter acreditado nelas....
Agora estando ali, sem saber exatamente minha localização, sinto as perguntas matutarem novamente meus pensamentos...

E agora? O que fazer?

Eu tinha duas escolhas. A primeira: Me acomodar e esperar que alguém me ajudasse, e a segunda: eu mesma salvar a mim e a meus filhos.
Sinto uma raiva percorrer por minhas entranhas. Ele tem o poder de aflorar o pior de mim, mas nesse momento, isso é um poder arriscado demais para ele.
Garanto que Adam irá conhecer a sua pior inimiga.

Aproveito que ele já estava finalmente dormindo e pelo teor alcoólico que se encontrava, só iria acordar no dia seguinte e a força, me aproveito dessa situação para agir. Não há tempo para perder.

Anne: Jonathan, filho acorde! (Fala suavemente enquanto fazia um carinho nos cabelos do garoto) Preciso falar com você.

Jonathan: Mamãe, está tudo bem? Papai fez algo ruim?

Anne: Temos que evitar antes que ele faça, não é? Você ainda estuda com a Violet, filha da tia Emily?

Jonathan: Estudo sim, mamãe. Ela e eu sempre conversamos na escola.

Anne: Ótimo! Você precisa ajudar a mamãe com uma coisa. Precisamos entregar esse bilhete para Violet. Você pode me ajudar com isso? (Ele confirma com a cabeça) E você também precisa dizer que ela tem que entregar para tia Emily, entendeu?

Jonathan: Bilhete para Violet e depois tia Emily. (Fala tentando memorizar) Pode deixar, mamãe! Vou guardar bem para o papai não ver. (Diz colocando o bilhete na bolsa)

Anne: Esse é meu garoto! Boa noite, meu amor! (Beija a testa dele e sai)

Horas depois o dia amanhece. Anne não havia conseguido dormir. Sua mente não parava em um só minuto. Estava ansiosa e com medo, mas ela precisava ser firme e precisa. Ela precisava dar uma lição nele. Apesar de não ser o tipo de pessoa que pensa em vinganças, ela é uma ótima atriz e usará disso para seu próprio benefício...
Ela, as crianças e Adam, já estavam na mesa tomando café, quando de repente Adam levanta e começa a mexer na bolsa do filho. O coração de Anne chega a errar as batidas. Ela encara o filho, que por sua vez continua se deliciando com sua tigela de cereais.

Anne: Para, Adam! O que está fazendo?

Adam: Me certificando que ele arrumou suas coisas direito. Que papel é esse aqui? (Anne trava)

Jonathan: Desculpa, papai. Acabei esquecendo. Vamos ter que preparar uma receita com nossos papais e levar para a sexta do piquenique. (Anne respira aliviada)

Adam: Sua mãe se encarrega disso. (Olha o papel para ter certeza que o filho fala a verdade) Vou pegar a chave do carro e já te levo para a escola.

Anne: Suba para escovar os dentes, querido. (Fala com o filho)

Adam sai, Jonathan vai logo atrás dele, mas ao chegar no lado da morena, ele da um sorriso lindo e levanta a camisa, dando para perceber que ele havia guardado o bilhete dentro da roupa. Pisca para a mãe e sai.

                     ....... Itália......

Depois de alguns dias em Florença, Meryl e Don decidiram conhecer mais um lugar encantador da Itália.
Quem não conhece a história de Romeu e Julieta? Umas das histórias de amor mais conhecidae no mundo inteiro. E é no cenário dessa linda história, e nas ruas estreitas de Verona, conhecida como a cidade mais romântica do mundo,  que Meryl sentou em frente a famosa casa de Julieta e admirou as paredes da entrada que carregam consigo inúmeros bilhetes de amor de pessoas que por ali passaram e deixaram suas alegrias amorosas, seus receios, e seus pedidos de conselhos para Julieta.
Decidiu enfim se entregar aquele momento. Pegou uma caneta e um papel, e enquanto Don conversava com um amigo, ela escreveu.

Inesquecível Julieta,

Me encontro completamente dividida entre dois amores.
Eu e o Don estamos juntos há anos, temos 4 filhos, e agora estamos esperando nosso primeiro netinho. Todos os sonhos que sonhei, dividi com Don. Hoje quando olho para trás, lembro das inúmeras vezes que planejávamos o nosso futuro juntos. Como seria nossa casa, quais os nomes dos nossos futuros filhos, como seria nossas viagens de férias... São mais de quatro décadas que divido minha vida ao lado dele. Confesso que algumas coisas saíram como planejamos, outras nem tanto, mas foi uma delícia viver cada aventura e cada descoberta ao lado dele.
Ele apareceu na minha vida, quando eu pensei que já não tinha mais como eu amar outro alguém, e foi com ele que aprendi que a vida não só nos tira, como também nos presenteia e cabe a nós estar prontos para receber.
Ele é, assim como costumo chamá-lo,  meu bem. Meu porto seguro, meu abrigo. Durante todos esses anos seguimos juntos de mãos dadas desbravando essa loucura que é a vida. Não somos perfeitos, mas aprendemos a respeitar o espaço e o momento do outro. Durante todos esses anos, não teve uma noite sequer que não desejamos boa noite para o outro. É nossa tradição. Nosso momento. Todos os sorrisos que me guardam sempre dividi com Don, meu companheiro de vida. Meu imenso amor renovado. Meu amor genuíno. Aquele que sempre foi minha certeza em meio há tantas dúvidas, se tornou o meu maior questionamento quando Anne reapareceu em minha vida.
Anne... o que falar de Anne? Ela nasceu no frio, eu no calor. Ela é agitada, eu sou calma. Eu não tenho pressa, ela quase tropeça. Eu sou aquela do "deixa acontecer naturalmente", ela é aquela do "não deixe para amanhã o que pode fazer hoje". Ela é morena, eu sou loira. Ela está no auge da sua vida, eu já estou quase na parada. Somos tão diferentes que quando vemos somos uma só. Minha parceira de danças malucas no meio da sala. Minha prazerosa ventania.
Ela chegou devagarinho mais me tomou por completo.
Hoje, me pego dividida entre dois grandes amores, entre duas lindas histórias de amor.
O que faço Julieta?
Meu coração está em uma completa desordem. Conto com sua ajuda para tomar uma decisão segura.

Confusa de amor,
           
                    Meryl