Sopro de Vida

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Alguns dias se passaram, Meryl continuava fielmente suas visitas a Anne. Alguns dias tinha a sorte de passar horas ao lado dela, em outros eram poucos minutos.
Sentia uma raiva percorrer suas entranhas todas as vezes que de longe via Adam no hospital. Enquanto ela estava ali porque amava e se preocupava de verdade com a morena, ele estava lá apenas para manter uma pose de marido exemplar. Mas o que a motivava era saber que apesar de tudo ainda conseguia vê-la e sempre que a visitava levava lírios laranjas.
Se reverzava entre sua família e Anne. Fazia tempo que não conseguia dormir mais que 4 horas por noite. Apesar do cansaço sua mente não parava. Era Anne, era seus filhos, seu marido, seu trabalho... já sentia seu corpo pedir descanso, mas fingia não ligar.

Meryl: Minha vida, como você está? Vim o mais rápido que pude. (Diz entrando no quarto)

Mamie: Onde você estava quando mais precisei? Você tem noção que eu podia ter pedido meu filho?

Meryl: Eu sinto muito. Estava no hospital e assim que soube eu vim correndo.

Mamie: Mas é sempre assim. Você só se preocupa com aquela mulher, enquanto sua família fica em segundo plano. EU PODERIA TER PERDIDO MEU FILHO E ONDE VOCÊ ESTAVA? COM SUA QUERIDINHA. (Se exalta)

Meryl: Filha, o que eu poderia fazer? Se seu marido que estava na mesma casa com você não conseguiu evitar que você caísse da escada, imagine eu. Sinto muito, mas eu não poderia evitar. Quando seu filho nascer, você saberá que por muitas vezes vamos desejar com todas as nossas forças que as dores deles, caíam sobre nós, mas infelizmente não conseguimos. Você não imagina o quanto eu pedi aos céus para que você e meu neto ficassem bem, e meu coração pulou de alegria quando soube que vocês estavam fora de perigo.

Mamie: Você está colocando aquela mulher na frente da sua família.

Meryl: Ela é quem mais estava precisando de mim, mas sempre que você e seus irmãos precisaram eu também estava aqui. Eu estou dando o meu melhor.

Mamie: Você acha que meus irmãos e o meu pai não vão perceber? Essa sua preocupação e seu zelo com ela já está dando na cara. Eu não quero sair como insensível, nem egoísta, longe de mim,  mas nós queremos você mais presente nas nossas vidas. Temos que ser sua prioridade.

Henry: Vim o mais rápido que pude. Como você e meu sobrinho estão? (Diz entrando no quarto)

Mamie: Estamos bem, obrigada!

Henry: Mãe, que carinha é essa? Vocês estavam discutindo?

Mamie: Não, estávamos apenas conversando.

Meryl: Eu vou deixar vocês sozinhos para poderem conversar melhor, eu vou indo.

Mamie: Para o hospital de novo? (Diz irônica)

Meryl: Para minha casa, tomar um banho e descansar, será que ainda posso? (A encara, dá um beijo na testa do filho e sai)

         ........Chegando em casa.......

Don: Ainda bem que você chegou. Já foi ver a Mamie?

Meryl: Sim, eu vim de lá. (Senta no sofá)

Don: Que cara é essa? Vocês discutiram? (Senta ao seu lado)

Meryl: Mamie está muito diferente, até parece uma garotinha que precisa de mim 24 horas por dia ao seu lado.

Don: Ela não está totalmente errada. Eu entendo que se sinta na obrigação de ficar com aquela moça no hospital, até porque ela só sofreu o acidente porque veio até aqui falar com você. Mas acho que isso está lhe afetando muito. Você não é nada dela, e já fez mais que sua obrigação. Nós somos sua família e nós precisamos de você. Você é a base da nossa família. Sem você ficamos todos sem rumo. Eles sentem falta de uma mãe mais presente, e bom, eu sinto falta da minha mulher. (Depois dessas palavras, ele sai deixando uma Meryl arrasada)

Depois de tudo que ouviu do seu marido e da sua filha, ela resolve tomar um banho e tentar dormir um pouco. Estava exausta e sua cabeça parecia que ia explodir de tanta dor. Quando enfim pode descansar, seu celular anuncia uma nova mensagem de Emily.

" Adam finalmente saiu e vai demorar algumas horas para voltar, se quiser ver a Anne, esse é o momento."

Leu a mensagem, buscou forças e seguiu em frente. Ela iria ver sua amada e o descanso ficaria para depois.

Vendo Anne naquele sono profundo, se permitiu chorar livremente. Durante toda sua vida, apesar de tudo que já passou, aprendeu a não demonstrar sua fraqueza na frente das pessoas. Segurava firme, respirava fundo e seguia em frente, esse passou a ser seu lema. Quando finalmente estava a sós se permitia ter suas emoções livres. Mas agora estando apenas as duas ali, não sentia receio de ser ela mesma e de colocar para fora tudo que estava lhe corroendo por dentro.
Uma vez Meryl ouviu de uma de suas amigas, que seu marido conhecia a sua melhor versão, e por algumas vezes se pegou pensando nisso de "conhecer a minha melhor versão", mas agora ela chegou em uma conclusão...
Com Anne ela se permitia ser ela mesma, sem filtro algum. Podia chorar, ter medo, crises de risos depois de uma piada sem graça, se permitia falar das coisas mais banais as mais complexas, não tinha receio de ser só a Meryl, sem holofotes, fama, atuação, apenas Meryl, uma mulher de inúmeras versões.

Emily: Meryl? Meryl, querida, acorde. (Fala tentando chamar a atenção dela) Adam acabou de mandar uma mensagem dizendo que já está voltando para o hospital. Você precisa ir.

Meryl: Mas já? Eu acabei de chegar.

Emily: Na verdade você está aqui a algumas horas. Você pegou no sono e acabou nem percebendo. Está exausta, não é? Precisa descansar, não está sendo nada fácil.

Meryl: Por mim eu não saía de perto dela nem um minuto se quer. Me parte o coração ir e deixá-la assim. (Segura a mão de Anne e faz um carinho suave)

Emily: Eu imagino tudo que está sentido, mas você sabe que é melhor assim.

Meryl: Eu tento sempre pensar positivo e não perder as esperanças, mas as vezes sinto-me fraquejar e o medo fala mais alto. Já se passaram 4 meses, Emily... (Lágrimas percorrem seu rosto)

Emily: Vamos continuar acreditando, minha amiga. Ela há de acordar. (Faz um pequeno carinho no ombro dela) Agora venha, é melhor você ir.

        .... Algum tempo depois....

Adam: Voltei mais uma vez para esse lugar. Me irrita ficar aqui olhando para o nada enquanto ela só dorme e com certeza não imagina que estou aqui.

Emily: Quem escuta você falar assim até pensa que não quer ficar ao lado da sua amada esposa. (Debocha)

Adam: Fazer o quê se é minha obrigação de marido?! (Revira os olhos) Mais lírios laranjas? Toda semana tem essas mesmas flores. Quem é que traz? Que eu saiba só nós a visitamos.(desconfia)

Emily: Eu trago. Acho essas flores lindas e alegra o ambiente.

Adam: Flores me irritam, por gentileza não traga mais.

Depois de falar estas palavras, ele senta em uma poltrona ao lado da cama de Anne e começa a mexer em seu celular, enquanto Emily senta na cama e fica olhando a morena que ali continuava em sono profundo.
Tudo parecia exatamente da mesma forma de todos os outros 120 dias, até que....

Emily: Adam do céu... (Se espanta)

Adam: O que foi dessa vez? Ô céus....

Anne ainda de olhos fechados, consegue mover seus dedos das mãos suavemente por cima do lençol branco que cobria a cama. O aparelho utilizado para medir seus batimentos cardíacos apontam que o coração da morena ficava cada vez mais acelerado. Ela tinha pressa para voltar. E assim, em meio ao espanto dos dois que ali estavam, ela finalmente abre seus olhos, ainda tentando se situar.
Com uma certa dificuldade consegue enfim falar.

Anne: Onde... eu.... estou? Quem são vocês?

O Silêncio Das EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora