Ana Paula
Paris 23 de Janeiro de 1998.
Minhas costas doem, estou em pé desde as 4:30 da manhã, cobrindo uma matéria para o jornal, estou cansada e faminta. Guta está mal humorada como sempre, a equipe toda está esgotada, viemos de Londres para essa matéria há dias, e eu já estou esgotada. Mas no fim, sei que valerá a pena, a matéria está ficando excelente.
- Ana, vamos ver se achamos algum lugar para você colocar um pouco de sustento nesses ossos, acho que você está a ponto de desmaiar. - Guta se diverte, sempre fazendo piada com a minha falta de massa muscular.
- Muito engraçada, onde pretende achar um lugar aberto as 23:00?
- Conheço um lugar, acho que ainda está aberto, mas teremos que nos apressar.Entramos no carro com a equipe de filmagem, o motorista cortava as ruas de Paris, tentando chegar ao restaurante, que nos prometia uma refeição quente antes de deixarmos nossos corpos cairem na cama, ah eu não via a hora disso acontecer. O restaurante estava praticamente vazio aquela hora, os poucos clientes que ainda estavam lá, terminavam sua refeição, o maitre nos conduziu a uma mesa no fundo do salão, eu e Guta pegamos uma mesa a parte, para podermos conversar os detalhes sobre o fim da viagem.
Fazemos os nossos pedidos, e é rapidamente recebemos a entrada, uma deliciosa sopa fumegante, muito bem vinda para aliviar nossos corpos gelados, pelo frio castigante do inverno da cidade luz.
- Vou te dar um folga Aninha, pode dormir o quanto quiser amanhã, as passagens estão marcadas somente para depois de amanhã.
- Ah, eu nem sei como agradecer, estou tão cansada. - falei terminando minha sopa. O prato principal chega, e logo eu percebo que está errado, não foi o que eu pedi, mas estou com tanta fome que não ligo muito.
- Foi isso que você pediu? - Guta pergunta olhando para o prato.
- Na verdade não, mas dada as circunstâncias, não vou nem falar nada.
Sem que eu permita, Guta retira o prato da minha frente e chama o maitre para que ele faça a troca. O rapaz se desculpa e leva meu prato de volta para a cozinha.
- Estou com fome, não precisava trocar.
- Precisava sim. - Ela da de ombros e continua a comer.
Cerca de três minutos depois, eu vi a mulher mais sexy de toda a minha vida. Incluindo aqui qualquer artista que você possa pensar nesse momento.
E não digo isso por causa de sua aparência física ou de sua postura curvada, ou suas roupas típicas de cozinha. Ou seja, não é uma coisa física. Ela tinha uma presença, uma energia que emanava dela e me atingiu em cheio quando se aproximou com o prato na mão.
- Mil perdões senhorita. - disse ela com os olhos baixos. - Realmente sinto muito.Ela ergueu os olhos para mim, e eu fiquei presa a eles, não sei dizer se foi por um segundo ou uma hora, por mais que eu tentasse eu não conseguia desviar os olhos. Estava presa ali como se alguma força que eu não entendia muito bem na época nos mantivesse unidas. Ela tinha algo que emanava de sua pele, um calor que eu conseguia sentir queimando minha pele, como quando nos aproximamos de uma lareira acesa.
- Ana? - Guta me chama, fazendo eu sair do meu pequeno transe.
- Não precisava trocar o prato. Está tudo bem. - falei rapidamente, quebrando o contato visual.
- Obrigada. - Ela sorriu envergonhada e eu não pude evitar sorrir também.
- Me diga, qual o seu nome? - Perguntei.
- Paola Carosella. - diz ela com um meneio de cabeça. - Aproveite o seu jantar. - Ela saiu do salão um pouco envergonhada, e eu a acompanhei com os olhos, até que ela sumiu após a dobra de um corredor.
- Terra chamando querida! - Guta estalou os dedos na minha frente. - Você secou a moça que deve ter feito ela emagrecer uns 10 kilos só nesses 20 passos até a cozinha.
- Não seja idiota Guta. - falei, mas sabia que ela tinha certa razão.
Dei atenção ao prato e deixei Guta tagarelar o quanto quis, e ela quis muito.
Pulamos a sobremesa e voltamos para o hotel já passava da meia noite quando deitei na cama após um banho rápido e muito quente. Fechei os olhos e a imagem de Paola atravessando o corredor em minha direção com o prato na mão veio a minha mente, junto com sua imagem um calor percorreu meu corpo, fazendo com que minha pele ardesse sob os cobertores. É normal se sentir assim, por alguém que você só viu uma vez, por tipo 4 minutos?
Vestida de uniforme da cozinha já um pouco amarrotado pelas horas de uso, cabelos presos atrás de uma toca de chef, olhar cansado, postura curvada? Tenho certeza que não.
Mordi um lábio e respirei fundo. "Que tá rolando com você Ana Paula?" Pensei e obriguei meus olhos a se fecharem sob a imagem daquela mulher estranhamente sexy e acanhada.
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Your Eyes
FanfictionEla ergueu os olhos para mim, e eu fiquei presa a eles, não sei dizer se foi por um segundo ou uma hora, por mais que eu tentasse eu não conseguia desviar os olhos. Estava presa ali como se alguma força que, eu não entendia muito bem na época me seg...