Desespero.
Essa é a palavra que resume o que eu sinto quando ouço as palavras de Bel do outro lado da linha.
Levo o telefone ao ouvido e não chega ao terceiro toque quando ouço a voz da minha amiga.
— Oi dona Paola. — ela diz animada. — A senhora está bem?
— Alô Bel, sim estou bem, chegamos em casa, você já pode trazer a Fran para casa. — Ana segura minha mão e leva meus dedos a boca brincando com eles, me deixando excitada.
— Eu não estou com a Fran, a senhora pegou ela na escola. — ela diz com a voz confusa.
— Espera o que eu não... — digo antes de perceber que ela está brincando comigo. - Isabel, não brinque comigo, eu acabei de chegar da praia onde eu estava com a Ana.
— Dona Paola, que brincadeira de mal gosto, não estou com a pequena, quando cheguei a escola já tinham buscado ela, foi a senhora. — meus dedos ficam fracos e sinto o celular cair da minha mão e meu corpo ficar dormente.
— Amor o que aconteceu? — Ana pergunta alarmada.
— Bel não está com a Fran. — consigo dizer.
Escuridão. Por um tempo que me pareceu longo demais, saio do meu corpo e sinto que estou flutuando a cima do meu corpo, vejo a cena de cima. Ana Paula está desesperada tentando me segurar, sucumbindo sob o meu peso morto em seu frágil corpo, não sei como ela consegue me abaixar até o chão, em uma posição nada confortável para suas pernas.
— Paola, fale comigo, por favor. — ela fala com a voz de choro. — Por favor, por favor, fale comigo, o que está acontecendo? Amor.
Ana bate de leve em meu rosto, e sinto um puxão em meu umbigo que me faz voltar ao meu corpo, aos poucos abro os olhos e vejo alívio em seu rosto. Não tenho ainda controle sobre o meu corpo, meus braços pesam uma tonelada, meu coração está batendo muito rápido, em minha mente flashs de Francesca sendo levada por um desconhecido sem rosto, posso ouvir seu choro e seus gritos pedindo pela mamá, que não estava lá para lhe proteger.
— Paola o que está acontecendo? — Ana pergunta agora que finalmente consigo me sentar.
— A Bel não buscou Fran na escola, outra pessoa buscou.
— Outra pessoa quem?
— Eu não sei. — Sinto as lágrimas queimarem meu rosto, meu coração com certeza já parou de bater dentro do meu peito. — Ela só disse isso.
Meu celular começou a tocar e o nome de Bel brilhou na tela, estendi a mão e atendi.
— Bel.
— Dona Paola, essa brincadeira não teve graça nenhuma, estou desapontada com a senhora. — diz ela, assumindo a mesma postura que usa para falar com a minha filha.
— Isabel, a Fran foi sequestrada. E eu não estou brincando. — digo e a ligação cai.
— Temos que fazer alguma coisa. — Ana Paula se levanta do chão onde ainda estávamos sentadas e pega a sua bolsa procurando alguma coisa.
— Acho que você já fez o suficiente. — digo me levantando também e pegando o celular outra vez ligando para a polícia.
— O que você quer dizer com isso? — Ana também estava no celular.
— Graças a sua brilhante ideia de me levar para a praia eu não estava lá para proteger a minha filhinha. — digo sentindo a raiva crescer dentro de mim.
— Amor eu não....
— Chega Ana, eu não quero ouvir. Eu tinha que estar lá e não estava. Por que estava com você. — digo — Alô, eu quero denunciar o desaparecimento de uma criança.
— Boa noite senhora, quanto tempo faz que a criança desapareceu? — a atendente pergunta do outro lado.
— Poucas horas, outra pessoa a buscou na escola e não a babá.
— Tem algum outro parente que pode ter ido buscá-la? O pai talvez?
— Não, somos apenas eu e ela.
— Infelizmente senhora não podemos fazer nada antes de 24 horas do desaparecimento.
— COMO VOCÊS NÃO VÃO FAZER NADA? A MINHA FILHINHA DE TRÊS ANOS ESTA DESAPARECIDA.
— Desculpe senhora, não há nada que possamos fazer agora. Mantenha a calma e vá até uma delegacia amanhã pela manhã. — A raiva dentro de mim apenas aumentou e eu desliguei o telefone, Ana estava falando rápido com alguém mas, eu não prestei atenção no que ela dizia.
— Um amigo meu da polícia está vindo para cá. — Ana disse se aproximando de mim. — Vai ficar tudo bem, nós vamos acha-la.
— Eu tinha que estar lá.
— Paola você não tem culpa, e nem eu também, eu só queria passar um tempo com você, jogar a sua frustração em cima de mim não ajuda em nada, eu a amo também, acha que eu gostaria que lhe acontecesse algum mau? Eu tenho a Francesca como uma filha. Se passasse pela minha cabeça que alguma coisa poderia acontecer com ela, eu nunca teria te levado a praia, nunca.
Ficamos em silêncio por um momento, no fundo eu sabia que ela tinha razão, a única culpada pelo desaparecimento da minha filha era: eu.
Deixei ela me abraçar enquanto as lágrimas caiam sem nenhum controle, meu corpo estava tendo espasmos por conta do choro desesperado, Ana Paula não disse mais nada, não sei quanto tempo depois a campainha tocou e ela levantou atender a porta. Bel entrou quase correndo e falando muito rápido coisas que eu não fui capaz de entender.
— A minha pobre menininha. — Bel diz chorando também. — Me desculpa senhora, eu fui até a escola no horário de sempre, me disseram que já tinham buscado ela, eu tentei ligar mas, seu celular não atendia. Pensei que a senhora tinha quem tivesse ido até lá e esquecido de me avisar.
— Não é sua culpa Bel, pare de chorar. — diz Ana.
— A minha pobre menininha. — diz ela outra vez.
A campainha volta a tocar e Ana Paula volta a abrir a porta, desta vez um homem na casa dos quarenta e poucos anos, com a barba já ficando branca e tatuagens nos braços e pescoço, ele vestia calça jeans preta e uma camiseta de banda, e mesmo sendo noite estava de óculos escuros.
— Fogaça, graças a Deus. — Ana diz e o abraça. — Entre, amor este é Henrique Fogaça, detetive da Polícia Federal, ele veio para ajudar.
— Boa noite. — diz ele com a voz grave. — O que aconteceu exatamente, você disse que uma criança desapareceu?
— Sim, a minha filha. — consigo finalmente dizer.
— Me contem o que aconteceu por favor. — Fogaça senta na poltrona e tira um gravador do bolso.
— Ana e eu descemos a serra pela manhã e voltamos agora a tardinha, Bel devia ter ido pegar ela na escola, mas quando chegou lá a informaram que Francesca já tinha sido levada por alguém.
— Quem é Bel?
— A babá de Fran, ela trabalha aqui há anos, deve estar na cozinha. — respondo.
— Há quanto tempo você notou que a menina tinha sumido?
— Foi uns 10 minutos antes de eu te ligar. — Ana quem respondeu.
— Qual horário Bel devia ter pego ela na escola?
— As cinco.
— Então antes das cinco que buscaram ela na escola, vocês me ligaram e eu demorei trinta e dois minutos para chegar aqui, são 19:16 ela está desaparecida há mais ou menos 2horas e meia. Você já ligou para a polícia?
— Sim, e me disseram que não podem fazer nada antes de 24 horas. Eu não quero esperar 24 horas.
— Esse é o protocolo mas, eu não sigo exatamente o protocolo. — Fogaça diz com um sorriso travesso.
— E o que nós podemos fazer agora? — Ana está mexendo as mãos como sempre faz quando está nervosa.
— Já falaram com a escola? Você tem o contato da professora? Da diretora talvez?
Claro, como eu não pensei nisso antes? Essa devia ter sido a primeira coisa a fazer ligar pra diretora da escola e saber para quem entregaram a minha filha, procuro pelo meu celular e Ana já o está estendendo para mim.
— Obrigada cariño. — pego o celular e desbloqueio a tela com as mãos trêmulas, procuro na lista de contatos o nome da diretora da escola e faço a chamada, ela atende no quinto toque.
— Chef Paola, posso ajudar? — ela diz.
— Pode, você pode me dizer para quem entregou a minha filha? — digo com raiva. — Porque diabos você entregou a minha filha para alguém não autorizado?
— Senhora, se acalme, nos jamais entregamos uma aluna para alguém que não tenha autorização para levá-la.
— Pois vocês devem rever seus protocolos de segurança, Francesca está desaparecida. Não fui eu e não foi Bel quem a buscou. Quem foi? — agora já estou praticamente gritando e outra vez a beira das lágrimas.
— Foi a sua namorada, ela está autorizada a pegar Fran, eu me lembro que ela falou diretamente comigo.
— Ana? Ana está aqui comigo, não foi ela.
— Eu não estou entendo Paola, que tipo de brincadeira é essa?
— PORQUE TODO MUNDO FICA ACHANDO QUE ESTOU BRINCANDO? A MINHA FILHA ESTA DESAPARECIDA! — finalmente grito.
— Paola, se acalme por favor. Quem buscou Francesca hoje foi a sua namorada Mariana.
— Hija de Puta. Te llamaré más tarde.
— Paola, mas... — não deixo ela terminar e desligo o telefone.
— Esa hija de Puta de Mariana, voy a matar a ese bastardo. — digo já pegando a chave do carro de cima da mesa de centro.
— Paola, ¿Explica qué pasó? — Ana segura meu braço. — ¿Cómo logró Mariana salir de la escuela con Fran?
— Cuando estábamos saliendo, una vez que necesité que recogiera a Fran de la escuela y le diera permiso, no recordé revocarlo una vez que terminamos.
— Alguém pode por favor me explicar, e falar a minha língua? — Fogaça diz cruzando os braços eu nem percebi que estávamos falando em espanhol.
— Paola acaba de descobrir quem buscou Fran na escola. — Ana diz e explica a ele rapidamente o que acabamos de conversar.
— Você sabe quem está com a sua filha? — Fogaça pergunta. — Meu trabalho aqui está pronto? Até que foi fácil.
— O que estamos fazendo parados aqui? Vamos até a casa dela agora buscar a Fran. — Ana estava em pé e me estendendo a mão.
— Eu vou sozinha Ana, a Mariana é perigosa, se ela foi capaz de sequestrar a Fran, pode fazer alguma coisa com ela se eu aparecer lá com você. Com certeza fez isso para chamar a minha atenção.
— Você não pode ir sozinha. — É Fogaça quem se pronuncia. — Não sabemos o que essa Mariana pode ter feito, vou chamar reforços e iremos até lá buscar a menina.
— Eu vou na frente, mando o endereço por mensagem pra vocês, não posso ficar aqui parada.
— Mantenha o seu celular ligado, se eu ligar você atende, me liga a cada meia hora. — Ana diz com um olhar de preocupação.
Fogaça está ao telefone com alguém que eu não faço ideia de quem seja, Bel entra na sala com uma bandeja na mão.
— Eu fiz um café ajuda a acalmar os nervos e pensar com clareza. — ela está com os olhos inchados e as mãos tremem enquanto colocam a bandeja em cima da mesa. — Você não pode ir até a casa daquela mulher sozinha, ela é perversa. — Bel
diz me olhando.
— Ela não me fará nenhum mal, eu sei que não.
Pego as chaves e dou um beijo leve em Ana que agora está com os olhos cheios de lágrimas.
— Tenha cuidado por favor, traga a nossa garotinha para casa. — diz ela passando os braços em volta da minha cintura.
— Eu tenho pessoas prontas para irem até a casa onde você acha que a sua filha está, eles podem chegar em qualquer lugar da cidade em 15 minutos. Eu dirijo pra você. — Fogaça estende a mão e eu entrego a chave para ele.
— Não me deixem aqui, eu prometo que não irei atrapalhar, não consigo ficar aqui sentada. — Ana me olha com aqueles olhos escuros cheios de medo e nervosismo.
— Vamos de uma vez.
— Enquanto dirijo você me conta tudo sobre essa Mariana. — Fogaça passa a frente indo para o carro.~•~
Henrique estaciona o carro há uma quadra da casa de Mariana um carro passa devagar ao lado do nosso e percebo que esse é o reforço a que ele se referiu, o carro estaciona um pouco depois do portão da casa da minha ex. Fogaça continua dirigindo e estaciona em frente a casa.
— Você vai na frente, nós estaremos aqui. — ele diz, e eu saio do carro.
Atravesso a calçada e toco a campainha, uma, duas, três, quatro vezes, e nada. Ninguém atende, pelas frestas do muro de palito consigo ver que tudo está escuro. Ela não está aqui. Claro que não, esse seria o primeiro lugar que eu viria procurar.
— Elas não estão aqui. — digo entrando outra vez no carro.
— Seria muito fácil se estivesse. — Fogaça diz digitando algo em seu celular. — Vou deixar vocês em casa, depois irei fazer o meu trabalho.
Meu celular toca e é um número desconhecido, fico tensa, Ana também, Fogaça me incentiva a atender com um aceno da cabeça.
— Alô? — atendo em tom de pergunta é coloco o celular no viva voz.
— Oi meu amor. — é a voz cínica e melosa de Mariana do outro lado da linha. — Eu e Fran estamos nos divertindo muito juntas, você não quer se juntar a nós?
— Mariana, onde você está com a minha filha? Eu vou matar você!
— Que horror amor, estou cuidando muito bem da nossa menina.
— Nossa menina? Ela é MINHA FILHA! Onde você está? ME deixe falar com ela.
— Nesse tom, não vai dar certo amor, você não pode falar assim comigo. — Ela diz com a voz chorosa. — A Fran está muito bem, nós duas estamos.
— O que você quer? Me deixe falar com a Fran, por favor.
— O que eu quero, não é óbvio? Eu quero você.
— Você está ficando louca? Nós terminamos há meses.
— Isso é só um fase amor, aquela magrela desnutrida, não pode te dar o que eu posso. — A expressão de Ana se fecha quando nossos olhos se cruzam.
— O que você pode me dar Mariana?
— A sua filha. — diz ela e a ligação cai.
— Da pra acreditar nessa mulher? — Ana quebra o silêncio.
O celular toca outra vez e dessa a notificação é de uma mensagem, abro e é uma foto de Francesca sorrindo para a selfie com Mariana, elas estão com um pijama de dinossauro combinando, Fran está segurando uma boneca nova, seus olhinhos estão brilhando de alegria."Estamos tão felizes, para ficar completo só falta você meu amor."
E um áudio de Fran chega em seguida.
— Hola mamá, estou me divertindo muito aqui com a tia Mari, que horas você vai chegar? Estou com saudade mamá. Estoy esperando usted aqui mamá. A tia Mari disse que você vai chegar, ela tem até um pijama que combina para você também. Vem logo mamá.
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Your Eyes
FanfictionEla ergueu os olhos para mim, e eu fiquei presa a eles, não sei dizer se foi por um segundo ou uma hora, por mais que eu tentasse eu não conseguia desviar os olhos. Estava presa ali como se alguma força que, eu não entendia muito bem na época me seg...