Capitulo 6

1.7K 197 100
                                    

Ana Paula

Fico de molho durante cinco longos dias, até que decido que está na hora de voltar a ativa, então pego meu computador e desço para o escritório, onde tenho uma cadeira confortável. Tem infinitos e-mails na minha caixa de entrada, dou alguma atenção a eles. E mais uma vez caio de cabeça no trabalho, faço tudo o que posso fazer de maneira remota. Deixo Gabi quase louca, tendo que me mandar tudo o que acontece no escritório, ela vem até a minha casa toda manhã e todo fim de tarde. Ela é ótima, claro. E tenho quase certeza e até certa vergonha de admitir, é exatamente por isso que eu ainda não a promovi. Errado? Errado. Porém, onde eu vou achar uma assistente tão maravilhosa? Não vou.
— Aí Ana, estou morta! — Gabi entra e se joga na cadeira a minha frente. — Eu preciso de férias.
— O que?
— Eu preciso de férias. Preciso descansar estou exausta. Trabalhando pra lá e pra cá, o escritório está uma loucura sem você por lá, eu não tenho tempo pra mais nada, meu namorado está me pressionando pra ir morar com ele, e ele não entende. Hello! Estou tentando ter uma carreira aqui. Não dá. — Ela começa a chorar e eu fico me sentindo o pior tipo de pessoa do mundo.

— Ah, Gabi se acalma. — Dou a volta na mesa, e abraço. — Vou te dar as férias. E não só isso, vou te promover. — digo.
— O que? Não Ana, não estou fazendo cena pra você me promover. Só estou cansada, muito cansada. Cheia de coisa na cabeça em todo lado.
— Gabi, Deus é testemunha. Não estou te promovendo só por que você está chorando. Eu já estou pensando nisso há algum tempo. Juro.
Ela me abraça sem muita força. — Obrigada Ana. E por falar em eu já estar cheia de coisa, você pode por favor, por favor, atender a Paola ou responder as mensagens dela?
— É o que? — pergunto erguendo as sobrancelhas.
— Ela está me deixando LOUCA! Cada vez que ela te liga e você ignora, ela ME liga. Sério Ana, o que tá pegando?
— Não é nada eu só estou longe do celular, nos últimos dias.
— Mentirosa. Você fala comigo o tempo inteiro. O seu celular está bem ali. — Ela aponta o celular. — PORQUE você não atende ela Ana Paula?
— Eu não atendo, porque eu não quero. Simples.
Gabi apenas revira os olhos e me manda atender ao telefone, ou ela irá dar meu endereço para Paola, e pela quantidade de vezes que ela me ligou, e as dezenas de mensagens que eu ignorei, imaginei mesmo que ela poderia aparecer na minha porta. Guta vem me ver todos os dias também, como as coisas na vida dela são uma bagunça que só Jesus, ela não tem horário pra aparecer. É mais ou menos assim: ela pode aparecer aqui as 7h da manhã e tomar café comigo, ou ela pode aparecer as 22hrs da noite só pra me dar um abraço de boa noite. Nat vem também sempre que tem um tempo entre uma reunião e outra, sempre com uma novidade.
— Ana, você faz tanta falta meu Deus, eu não sei como eu vou viver sem você, mais duas semanas. Eu sei que você está doente e não quero que você volte. Não estou reclamando, mas estou com saudade. — Ela me abraça e faz um bico.
— Eu sou indispensável, sempre soube. — digo rindo. — Mas o que eu sinto falta mesmo, é do álcool. Com todos os remédios, não posso beber NADA! E essa é a pior parte. Home Office não é tão ruim, mas eu aposto que o álcool ia deixar tudo muito mais interessante.
— Vou te levar pra uma reunião do AA.
— Cala a sua boca. — reviro os olhos.

Já são quase 22h quando meu celular toca e na tela um nome brilha "Paola Carosella", aperto em ignorar e deixo o celular de lado.

Paola: Ana, me atende. Por favor. Eu só quero saber de você cariño. -- Mensagem de áudio ouvida e ignorada.

Celular começa a vibrar novamente. "Paola Carosella".

Respiro fundo mais de uma vez e atendo quase no último toque.

— Alô. — digo com a voz calma e o coração batendo igual escola de samba.

— Ana, ah meu Deus. Caramba. Eu achei que você nunca mais ia me atender.

Your EyesOnde histórias criam vida. Descubra agora