Capítulo 5

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Paola

Ana Paula pegou no sono, enquanto nos estávamos conversando, não acho ruim, ela estava sonolenta desde a hora que a enfermeira injetou uma nova dose de analgésicos no tubo em seu braço. Me ajeito na poltrona reclinável ao lado de sua cama e durmo um pouco, ela acordou durante a madrugada e pediu ajuda para ir ao banheiro, eu ajudei e a coloquei de volta na cama.
Eu não contei porque decidi vir passar a noite no hospital, pois bem, Gabi me ligou para me dar notícias sobre o estado de Ana, e disse estar se sentindo mal por ela passar a noite sozinha, como seus pais moram em Brasília, seus irmãos moram fora, e ela não poderia pois estava atarefada com o trabalho agora que Ana está ausente. Então ela iria ficar sozinha, e meu coração ficou tão apertado por pensar que ela poderia se sentir sozinha ou abandona que simplesmente fui.
Quando os primeiros raios do dia começaram a aparecer eu a acordei só para me despedir.
— Buenos dias Cariño, eu tenho que ir acordar Fran, mais tarde falamos si?
— Obrigada por ficar comigo. — Ela sorriu ainda sonolenta.
Peguei o carro e fui pra casa o mais rápido que consegui, e graças a Deus nos céus a Fran estava dormindo, tomei um banho rápido e fui acorda-la. Como sempre aquela preguiça pra levantar mas, logo ela concordou, tomou um banho e tomou o café, deixei ela na escola e fui para o restaurante.
— Paola! — Mariana estava com os braços cruzados na frente do restaurante as 7horas da manhã.
O que eu fiz pra merecer isso Senhor?
— Bom dia Mariana, posso ajudar?
— Claro que pode meu amor. — ela sorri e tenta me beijar, viro o rosto em tempo e ela beija meu rosto.
— Então? O que você quer?
— Você, é você que eu quero, e você sabe disso. — Ela se aproxima tentando me beijar outra vez.
— Mariana, já falamos disso. O que tivemos foi ótimo, mas já acabou. Desculpa.
— Quem é ela Paola? Quem é a vagabunda por quem você me trocou?
— O que? O que nós tivemos acabou e foi só isso, não tem ninguém.
— Você está mentindo, alguma vagabunda roubou você de mim, eu sei.
— Olha, você pode achar o que quiser, eu tenho que trabalhar agora.
Passei por ela abrindo a porta do restaurante e fechando logo em seguida, passei a chave na porta por garantia.
— Visitas logo cedo Chef. — ironiza Elisa atrás de mim. — Você está com uma cara péssima.
— Mariana é louca, você acredita que ela acha que eu terminei com ela porque tô ficando com outra e não porque ela é completamente surtada?
— Eu sempre falei pra você que ela é completamente louca, você não acreditou em mim. — Ela da de ombros.
— Me avisa sempre de acreditar em você? — digo indo pra cozinha e vestindo meu avental.
— Agora você vai me falar como foi seu encontro com a Ana Paula, melhor sexo da minha vida em uma noite fria em Paris?
— Eu não chamaria de encontro, eu só passei a noite com ela no hospital. E também só fiz isso porque fiquei preocupada, ela fez uma cirurgia na coluna e ia ficar sozinha.
— Sozinha? Em um hospital cheio de enfermeiros e médicos? Me poupe por favor Paola. — Elisa prende os cabelos cor de mel em um rabo de cavalo e os esconde em uma toca. Eu faço o mesmo, só que com um lenço.
E assim nos começamos a dança dentro da cozinha, uma música calma toca da minha playlist enquanto Elisa e eu fazemos o miss en place do dia, não falamos muito, o único som vem do bater das panelas e das facas. É lindo trás uma paz que não dá pra explicar, é uma sensação de liberdade, é estar em sintonia com o mundo, me sinto bem, me sinto viva!

Claro que tem coisas ruins, os cortes nas mãos, queimaduras, os pés cansados, as pernas inchadas, a falta de tempo, trabalhar 6 ou 7 dias na semana, tudo isso é "ruim" mas, no fim do dia, quando eu deito na minha cama, eu tenho certeza que estou fazendo a coisa que eu mais amo no mundo, o que eu sei fazer e sou muito boa, todo o vazio se preenche, e a vida faz todo sentido, quando alguém come algo que eu fiz.
Escolhi os ingredientes, cortei, dei tudo de mim por aquele prato e no fim a pessoa sorri comendo, eu me sinto quase completa.
— Paola, você está mais calada que o normal. — Elisa me tira de meus pensamentos — Pensando na Ana Paula?
— Na verdade não estava.
— Sei.
— É sério. Você fala mais nela do que eu. Se quiser te apresento.
— Ah, muito obrigada eu não tenho vocação pra talarica.
— Tala o que?
— Talarica, Paola você não é tão velha assim, talarica é quem pega a mina das amigas.
— Então você não é essa coisa aí, porque Ana Paula não é minha mina, ela é só uma garota que eu conheci quando era jovem, foi uma vez só, já passou.
— Mas pode repetir, não pode? Você quer repetir, não quer?
— Não vou negar a você que mais uma noite não seria nada mal.
— Ah, eu sabia. Você está louca pra ter mais uma noite, aposto que até sonhou com isso já.
— Um dia eu ainda vou te demitir por ser tão abusada. — Elisa apenas ri e me joga um beijinho antes de voltar a atenção a sua panela.
A grande verdade é que ela não estava errada, eu sonhei mesmo com a Ana Paula noite passada, sendo uma grande filha da Puta, quando ela adormeceu segurando minha mão, eu sentia seu calor e a maciez de sua pele, fechei os olhos e voltei a noite em que a tive nos braços.

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