Capítulo 2

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15 Anos Depois.

— Se eu tiver que ouvir mais cinco minutos algum homem querendo me ensinar a fazer o meu trabalho, eu juro que vou pular daquela janela. — falei pra Natália, minha sócia.
— Por sorte, você não têm. — Ela ri. — Sério Ana, você precisa tirar umas férias. Sua vida está muito corrida, não da pra você estar em todos lugares. — Ela tirou os óculos e me encarou. — Entre a Touareg, a Escola de Você, e o Tempo de Mulher, você está sempre correndo para la e para cá, de uma reunião para outra. Você tem um monte de colaboradores aqui, extremamente competentes, que podem cuidar de algumas coisas, você precisa aprender a delegar.
— Eu sei delegar! — falei de forma mais agressiva do que eu gostaria. — Eu estou ótima, estou trabalhando o quanto é necessário, para manter tudo funcionando.
— Você vai tirar férias, estou falando sério
— Me deixa Nat, vai para casa, você. Eu tenho que ver umas coisas.
Nat saiu da minha sala batendo a porta, puxei alguns relatórios para perto de mim e comecei a ler. Meu estômago começou a roncar de fome, e foi ficando cada vez mais forte.
— Ok, vou ter que encontrar algo para comer.
Era por volta das 21hs quando sai do escritório, já não tinha ninguém lá esse horário, todo mundo costuma sair as 18:00. Entrei no carro e sai da garagem, no caminho de casa passei em frente a um restaurante aberto e com certo movimento. Estacionei e fui ver se eu conseguia uma mesa.
O garçom me levou até uma mesa mais distante do salão, e o cheiro que vinha da cozinha era realmente muito bom. Meu estômago roncou outra vez. Ele me trouxe uma entrada com um pão que era delicioso, podia comer só aquilo para sempre.
O jantar foi silencioso para mim, eu estava no meu iPad revendo alguns contratos, quando por fim dei a última colherada da sobremesa, pedi a conta e fui até o estacionamento onde deixei meu carro. Perdi a chave do carro dentro da bolsa. "Eu não sei porque insisto em usar uma bolsa tão grande", pensei em voz alta. Finalmente achei as chaves e destravei o carro, alguém falando ao telefone se aproximou de mim, a voz feminina parecia exaltada por algum motivo, falava muito rápido e em espanhol.
— ¡Estoy tan cansada! ¡Siempre me estás cobrando por cosas que no puedo darte! Sabes muy bien cómo están las cosas. las cosas están como están, no puedo hacer mucho más que eso en este momento.( estou tão cansada! Você está sempre me cobrando por coisas que não posso lhe dar! Você sabe muito bem como são as coisas. As coisas são como são, não posso fazer muito mais do que isso agora.)

Por um momento senti que conhecia aquela voz, mas ao olhar meio por cima para a mulher que falava, tirei da cabeça, eu nunca a tinha visto antes. Entrei no carro e dei a ré para conseguir sair da vaga. Acendi os faróis do carro, e eles refletiram no carro que estava a minha frente. Olhos escuros me encaram do outro lado do vidro, e eu fui tomada por eles, transportada para dentro deles, como um força magnética que me mantinham presa ali dentro. Eu já conhecia aqueles olhos de algum lugar. Ela me encarava de volta, até que ergueu uma sobrancelha e o seu movimento por mais singelo me tirou do transe. A mulher no outro carro acionou a buzina e eu tomei um susto. Continuei dando a ré e sai com o carro para a rua.
Cheguei em casa e fui direto para o quarto, tirei o sapato de salto e soltei um suspiro ao sentir meus pés em contato com o tapete macio, uma das coisas mais gostosas do meu dia, chegar em casa e tirar o salto. Deixei minhas roupas no cesto e entrei no chuveiro quente, uma coisa sobre mim: não importa a temperatura, banho é sempre quente.
Deixei a água tirar os nós nas minhas costas, fechei os olhos enquanto a água caía com força sob a minha pele.
De súbito eu me lembrei daqueles olhos me encarando através do vidro do carro, a sensação de familiaridade invadiu minha cabeça, abri os olhos e entendi de onde eu conhecia eles, fui levada no tempo há quinze anos atrás, uma noite de aventura em Paris depois de uma reportagem para o jornal, uma vida atrás.
Senti meu corpo responder a lembrança daquela noite, o calor da sua mão passando sob a minha pele, pude sentir de novo o arrepio que percorreu meu corpo quando sua boca tocou meus seios, seus lábios passeando pelo meu abdômen, seus dedos se enroscando nos meus cabelos, o gosto de sua boca macia e doce, o quente de seus dedos entrando na minha intimidade, conseguia até mesmo ouvir os sons que saiam do fundo da minha garganta, enquanto ela me fodia e sussurrava palavras em espanhol no meu ouvido. 

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