Acordei com braços fortes em volta do meu corpo, me assustei em um primeiro momento, até lembrar onde e com quem estava. O dia estava começando a clarear, eu como sempre estou acordando com as galinhas. O relógio marca 6:40 da manhã.
— Bom dia cariño. — Paola sussurra em meu ouvido.
— Não sabia que estava acordada.
— Eu acordo cedo e na verdade estou atrasada mas não queria ir sem você acordar. — diz ela no meu ouvido.
— Tem tempo para o café?
— Sí, tenho tempo. — ela sussurra de encontro a minha pele, depositando beijos pelo meu ombro. Levanto da cama e vou ao banheiro quase correndo, lavo o rosto e escova os dentes. Esse papo de transar logo de manhã sem escovar os dentes, só acontece em filme, na vida real não dá!
Volto para a cama e Paola me recebe com um sorriso no rosto e os braços abertos, a luz da manhã que entra pela janela, me permite ve-la, completamente nua, a pele se arrepia quando passo as unhas por suas costas, ela suspira e me beija longa e profundamente.
Seus beijos mais suaves do que na noite anterior, mais rápidos e o fogo não demora a aparecer. Paola me leva ao orgasmo mais suave e irresistível que eu já experimentei, com os dedos fortes, massageando o meu clitóris de forma lenta e regulada, enquanto sussurra palavras em espanhol no meu ouvido.
— Você sussurrando em espanhol é mais do que eu posso suportar. — digo a ela com a voz rouca pelo desejo, chegando ao meu limite e me permitindo gozar intensa e lentamente.Levantamos e vamos para a cozinha, Paola toma a frente e prepara o café da manhã que compartilhamos as pressas. Ela disse que ainda precisava ir para casa, precisava levar a filha para a escola e depois ir trabalhar, depois que ela se foi, tomei um banho e escolhi uma roupa bonita para trabalhar, mesmo que em casa.
Ao olhar meu corpo no espelho vejo as marcas da noite de ontem, pequenas lembranças do sexo maravilhoso que fiz.
Assim como à quinze anos.
Minha pele clara e frágil, fica com marcas muito fácil, qualquer batida é motivo para ficar um roxo, desta vez pelo menos as marcas são por um motivo muito bom!Minhas costas reclamam o dia todo, eu não devia ter feito nada de esforço, mas tem como resistir? Não tem.
Fiquei o dia sorrindo a toa pela casa, mal consegui me concentrar no trabalho que tinha pra fazer, me dei por vencida e desisti de tentar.
Fui para a varanda acompanhada de uma garrafa de vinho e fiquei olhando a paisagem que eu tenho no quintal, a vista é bonita, a água da piscina reflete a luz do sol que está começando a ficar laranja, ao mesmo tempo que era linda, tudo era tudo tão silencioso, tão quieto, meio morno, insalubre.
Eu nunca tinha notado que minha casa era tão triste, isso me deu uma dor no peito tão grande que eu não consegui conter as lágrimas, elas escorreram pelo meu rosto sem que eu tivesse qualquer controle.
Quando foi que eu me tornei essa pessoa vazia? Quando eu me enfiei nessa vida tão solitária? Eu não tenho resposta, me sinto quebrada, meus pedaços estão espalhados pelo chão aos meus pés e nada pode mudar isso agora, essa foi a vida que eu escolhi quando abri duas empresas, pedi divorcio do imprestavel do meu marido, larguei a carreira na tv e desisti de qualquer vida social que não tivesse a ver com o trabalho, nem um animal de estimação eu tenho.
— Meu Deus, eu sou patética! — digo em voz alta.
— Realmente, você é! — alguém diz atrás de mim e eu me assusto.
— Caralho Guta, assim você me mata do coração. — digo levantando — Eu não devia ter te dado uma chave da minha casa.
— Cale a boca, e me diga como foi que você chegou a óbvia conclusão de que você é patética? — Guta senta e bebe da minha taça.
— Analisando a minha vida, com certeza. — vou até a cozinha busco outra taça e outra garrafa.
É sexta feira, o sol já está baixo no céu, se Guta está aqui, provavelmente irá ficar, e eu? Não tenho nada melhor pra fazer, eu nunca tenho.
— Paulinha, já te falei você precisa sair, beber...
— Mais? Eu já bebo o suficiente.
— Beber acompanhada trouxa, de um homem bonito, ou uma mulher gostosa.
— Eu não tenho tempo pra isso, você sabe. Neste momento eu devia estar trabalhando, só não consigo me concentrar.
— Esse é o seu maior problema você só trabalha. Você precisa começar a viver, se divertir, transar.
— Hei, eu transo ok? Inclusive eu transei ontem.
— Você o que? Foi com a Argentina de Paris? — Ela riu com a frase, e vamos combinar? Era engraçada.
— Foi. Nos dormimos juntas ontem, e foi por isso que eu não consegui me concentrar no trabalho.
— E depois de transar você chega a conclusão de que é patética? Você é realmente patética!
— Eu já mandei você a merda hoje?
— Você só me responde assim, porque você sabe que eu tenho razão.
— Só cala a boca.
— Paulinha, esse jeito que você vive não é saudável, você precisa de pessoas, arruma um namorado ou sei lá uma namorada.
— Não tenho interesse em relacionamentos, a última vez deu errado o suficiente.
— Então arrume um sexo casual.
— Sexo casual já tenho o suficiente...
— Sim, com a Argentina de Paris.
— Paola. O nome dela é Paola. — digo revirando os olhos. — Nós transamos ontem a noite e hoje pela manhã, não quer dizer que iremos transar de novo.A segunda garrafa de vinho estava quase vazia, Guta encheu minha taça e a dela fazendo que ela fosse esvaziada, já não falávamos muito, só um comentário ou outro de vez enquanto. Guta e eu chegamos a um ponto em quase 30 anos de amizade que não precisamos mais falar para que uma saiba exatamente o que a outra está pensando ou precisando ouvir.
Ela tinha razão é claro que me jogar de cabeça no trabalho dia é noite, de segunda a segunda não era a melhor forma de viver, mas minhas empresas são um sucesso, eu sou um sucesso. Mês passado eu estava na lista das 10 mulheres mais poderosas do Brasil pela revista Forbes, eu sou um sucesso. Um dos grandes. E tudo graças a muito trabalho duro, eu sou muito boa no que faço. Em tudo o que eu faço.
Quando dei por mim já passava das 22h outra vez, quatro garrafas de vinho estavam abertas e vazias, e Guta estava vindo com a quinta, meu celular tocou e a campainha tbm. Guta correu para a porta e eu atendi o telefone.
— Alô.
— Cariño, como está? — Paola disse.
— Paola, estou bem e você?
— Aninha, eu pedi comida e já chegou. — Guta grita da sala.
— Ah, você está acompanhada me desculpa.
— Não, eu tô com...Tu. Tu. Tu. Tu.
A ligação caiu, eu liguei mais duas vezes e foi parar direto na caixa postal, então deixei o celular pra lá e fui jantar com a Guta. Já quase de madrugada Guta pediu um táxi e foi para casa, e eu mais uma vez estava em uma casa enorme, vazia e sozinha. Subi para o meu quarto e tomei um banho, cai na cama sem nem colocar uma roupa.
A grande dor de cabeça foi a consequência de beber tanto vinho com a Guta, minha adega definitivamente está desfalcada. É sábado de manhã e eu preciso fazer alguma coisa da minha vida.2 semanas depois.
O trabalho estava novamente tomando cada hora do meu dia, o escritório estava em mais uma grande campanha, o cliente é exigente, a campanha é difícil, mas estamos dando conta.
Guta: Paulinha, tenho uma surpresa para você. Não chegue em casa de madrugada.
Ana: Que surpresa? Você está na minha casa?
Guta: se eu contar não é mais surpresa. Estou indo pra lá, tenho a chave.
Ana: maldita hora que fiz essa burrada.
Guta:cale a boca.
Terminei o relatório que estava fazendo, e fui para casa ver a grande surpresa de Guta para mim.
— Eu não tô acreditando, você me comprou um cachorro? — um serzinho de 30 cm de altura, pulou no meu colo assim que Guta o tirou da gaiolinha de contenção.
— Você estava precisando de um pouco de luz nesta casa.
— Muito obrigada. — disse abraçando minha amiga e o meu novo cachorrinho.
— Sabe qual o nome dele? — disse ela com uma risadinha.
— Qual?
— Mané. Igual a você.
— Esse é um ótimo nome, obrigada Guta.Ela foi embora e eu fiquei com um lindo filhote nos braços, separei um lugar para ele comer, e outro pra colocar o tapete higiênico que Guta havia trazido. Mané se tornou rapidamente a minha maior e melhor companhia, ele é alegre e brinca o tempo todo, quando está cansado deita e dorme em qualquer lugar.
Mas eu sei que vocês não querem saber sobre isso, estão mesmo interessadas em saber da Argentina, errei? Eu duvido.
Paola e eu nos falamos algumas vezes por mensagem ou ligação. Como essa aqui:— Ana, eu já tinha achado que você tinha só usado o meu corpinho! — Ela diz ao atender.
— Incrível porque eu estava pensando a mesma coisa!
— Eu não faria isso.
— Sei, quando podemos nos ver novamente?
Direta e reta.
— Essa semana estou fechando o restaurante então está um pouco corrido pra mim, mas o mais breve possível.
— Posso esperar.
Passamos duas semanas tendo conversas picantes por mensagem e ligação, algumas vezes eu tive que me dar uma ajudinha, você me entende né?Esse jogo de sedução estava me deixando louca de vontade daquela mulher, o que era extremamente novo pra mim, desde o meu divórcio com Gustavo, eu não me sentia tão desejada por ninguém! Eu também não me deixei sentir nada por ninguém, tive casos com algumas pessoas no quarto de hóspedes e em outros lugares, mas nada que me deixasse desse jeito!
Não era como se eu tivesse apaixonada, óbvio, mas esse desejo com gosto de passado e juventude me faz sentir viva e um pouco menos patética.
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Your Eyes
FanfictionEla ergueu os olhos para mim, e eu fiquei presa a eles, não sei dizer se foi por um segundo ou uma hora, por mais que eu tentasse eu não conseguia desviar os olhos. Estava presa ali como se alguma força que, eu não entendia muito bem na época me seg...