Capítulo 17

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Ana

Os últimos quatro meses foram muito intensos e deliciosos, desde que eu fiz a cirurgia de correção na coluna depois de uma crise no trabalho, comecei a trabalhar menos, me divertir mais, ter um pouco mais de tempo para outras coisas além da empresa.
Desde que eu decidi largar a bancada de um dos maiores telejornais da televisão brasileira, para me dedicar à novos projetos eu trabalhava ainda mais, e me sentia muito mais livre para fazer tudo o que eu queria, mesmo assim sentia que parte da minha vida estava incompleta, que algo sempre me faltava, eu demorei para saber o que era e só descobri quando estava dentro do carro passando pela maior dor que já senti em toda a minha vida, em um estacionamento de restaurante aguardando minha assistente.

Naquele dia eu fui salva. E não só fui salva de ir parar em uma cadeira de rodas, por conta do problema da coluna, fui salva de uma vida patética e monótona.
Paola chegou com o seu sotaque, sua firmeza e doçura e foi devagarinho ganhando espaço em mim, não apenas meu corpo ansiava por ela todas as noites, em que passamos enroladas em sua cama ou na minha, aos poucos meu coração também pedia por ela, nas horas em que estávamos perto ou longe. O medo que me dominou por tanto tempo, depois que eu me divorciei de Gustavo, me fez criar muros em volta de mim para que ninguém mais pudesse tocar meu coração, só para logo depois ir embora e me deixar com um buraco profundo, que leva anos para se fechar. Esse medo, se foi por completo no momento em que eu corri entre aqueles policiais para chegar até Francesca que corria até meus braços.
Seus bracinhos se fecharam ao redor do meu pescoço e ela me apertou com tanta força, seus dedos se prenderam no meu cabelo, enquanto ela tentava entender tudo o que estava acontecendo. A tirei do chão e olhei para a varanda, onde Paola e Mariana estavam no chão, Paola se levantou e depois de falar alguma coisa, correu até onde eu estava e nos abraçou também.
Foi nesse momento que eu senti que todos os buracos que eu um dia tive em mim, se fecharam para nunca mais se abrir, eu sabia que independente de qualquer coisa que acontece eu sempre as teria ali, para me proteger e cuidar de mim.

2 meses depois

O dia amanheceu com o sol já brilhando, era o dia perfeito para mim, sempre fui do tipo que fica de bom humor apenas por ver o sol brilhar pela janela. Mas hoje, estava ainda mais feliz era um dia especial, após muito tempo, adiar muitas vezes, finalmente eu consegui, conciliar a minha agenda com a de Paola para fazermos uma viagem de família. O destino não podia ser melhor: Buenos Aires.
Acordei animada e sorridente, cantarolando no chuveiro enquanto tomo um banho rápido, meu reflexo no espelho sorri de volta para mim, pareço estar brilhando um pouco, e talvez eu esteja, tamanha é a felicidade que sinto neste momento.
Paola ainda está dormindo, chegou tarde em casa ontem a noite, deixando tudo organizado no restaurante antes de viajar, então deixei que ela dormisse um pouco mais.
Era tão reconfortante ver Paola dormir, sua respiração serena e suave, enquanto seu peito sobe e desce no ressoar de sua tranquilidade. Os cabelos castanhos espalhados pelo travesseiro refletindo a luz do sol que entra por uma fresta na janela, toquei os fios suaves com delicadeza, e um sorriso foi impossível de conter.
Um barulho na cozinha, denuncia para mim que Bel já chegou e deve estar preparando o café, deixo Paola ainda dormindo, e entro no quarto de Francesca.
— Bom dia princesa, vamos acordar? — digo perto de seu ouvido enquanto aliso seus cabelos dourados.
— Eu não quero Mamãe. — Francesca diz ainda sonolenta, apesar de saber que ela apenas me confundiu com a Paola meu coração se enche de um sentimento bom ao ouvi-la. — Quero dormir mais pouquinho.
— Você não quer viajar? — pergunto, e ela abre os olhos.
— Sim, eu quero. — ela abre os olhos e sorri para mim, um sorriso sincero, que chega aos seus lindos olhinhos azuis. — Bom dia mamãe.
Meus olhos se enchem de lágrimas ao ouvi-la outra vez, sinto um no apertar a minha garganta, não de um jeito ruim, é felicidade genuína.
— Você me chamou de que princesa?
— De Mamãe.
— É isso que você quer, que eu seja a sua mamãe?
— Você não quer ser? — ela passa a mão no meu rosto em uma carícia, essa garota não pode ter apenas 3 anos de idade. — A mamá disse que nós somos uma família, então você é a minha outra mamãe, não é?
— Sim, eu acho que sim. — digo com a voz embargada e uma lágrima escorre.
— Porque você está chorando?
— Eu estou feliz, muito feliz.
Ela não responde nada, apenas passa os braços em volta do meu pescoço e me aperta a sua maneira, meu coração está batendo tão rápido e tão forte que eu sinto que pode explodir a qualquer momento.
Francesca é como um raio de sol, o ambiente se ilumina quando ela chega, por onde ela passa o seu brilho marca o local, é impossível não se apaixonar por aqueles olhos azuis, e aquele sorriso aberto, e isso só me faz ainda mais feliz por ela ter me aceitado em sua vida. E não somente isso, mas ter me amado de volta quando eu irremediavelmente estava apaixonada por ela.
Paola nos encontrou enquanto ainda estávamos abraçadas na cama da criança e eu chorava baixo enquanto acariciava seus cabelos.
— Cariño, o que foi? — perguntou sentando atrás de mim e nos abraçando também.
— A mamãe está feliz mamá, por isso que ela está chorando.
Me virei e encarei os olhos de Paola apreensiva por sua reação ao ver sua filha me chamando de "mãe". Pensei que ela diria a Fran que eu não era a mãe dela, apesar de me sentir assim, a cada vez que ela dorme em meu colo, eu pede que eu durma com ela em sua cama, quando procura meu colo quando está com medo, ou quando se machuca e corre para que eu a ajude. A cada dia eu me sinto mais mãe, desta criança mesmo que nunca tenha externado esse sentimento em voz alta. Tive medo da reação de Paola, seria compreensível se ela não gostasse daquilo, afinal era a filha dela, e apesar de saber que ela me amava de todo coração e eu a ela, isso era totalmente diferente.
Olhei no fundo de seus olhos que agora também estavam marejados pelas lágrimas, ela entendia o que estava sentindo, ela sabia o quanto aquilo significava para mim, e não parecia se importar, pelo contrário seus olhos me diziam que ela estava feliz e orgulhosa.
Desde a primeira vez que olhei nos olhos de Paola Carosella, fiquei presa neles, atraída por alguma forçado universo ou do destino, o calor que emanava de sua pele era o mesmo, seus olhos castanhos e profundos ainda eram os mesmos, e me prendiam da mesma forma, era difícil desviar a atenção quando ela me encarava com tanta paixão. Agora, quinze anos depois daquela noite em Paris, eu vejo o peso dos anos em seu rosto, o trabalho árduo que a transformou em uma das maiores chefs de cozinha do país, a leveza e a delicadeza que a fizeram uma excelente mãe.
Ainda vejo em seus olhos, o mesmo brilho da primeira vez que nos beijamos em um quarto de hotel, há tantos anos. Quando eu disse que não passaríamos de sexo casual, uma segunda noite de tesão e desejo, no fundo do meu peito eu sabia que não era verdade. Depois daquela noite em Paris eu nunca mais fui a mesma Ana Paula, algo em mim mudou, e eu não sabia o que.
Hoje olhando em seus olhos, eu sei que foi ali que o nosso amor nasceu, levou quinze anos e muita teimosia para que eu me desse conta, de que tudo o que eu preciso para ser completa, é estar em seus braços em noites quentes e frias, nos dias bons e ruins, entregar meu corpo ao desejo que emana de mim, toda vez em que ela me toca, perder o fôlego a cada beijo, seja ele cálido ou suave, é estar sentada nessa cama, em um quarto de criança com sua filha nos braços me chamando de mamãe, é acordar todas as manhãs e sentir o calor de sua pele junto a minha, era olhar em seus olhos castanhos e saber que ali tenho morada segura e tranquila.
Tudo o que preciso para ser completa, é exatamente tudo isso que tenho aqui e agora, é o que eu vejo agora, enquanto encaro os seus olhos.

FIM.





N/A

É isso meus amores, espero que vocês tenham amado tanto quanto eu amei.
K

ai esse é pra você, por não ter desistido mesmo quando eu não atualizei aqui.

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