Capítulo 12

1.4K 135 19
                                    

Ana Paula

Assim que cheguei em casa, soltei mané que foi correndo para a sua cama, e eu me jogo no sofá. Deixando de verdade que as lágrimas caiam por meu rosto livremente, me sinto culpada por tudo o que aconteceu mas, era o certo a ser feito.
— Meu Deus Ana Paula, o que foi que aconteceu com você? — Natália desce as escadas e senta ao meu lado. — Porque você está toda roxa? O que fizeram com você?
— Fui atacada na rua por cara, mas a polícia passou ele saiu correndo e tudo está bem.
— Você saiu daqui antes das 10h da manhã para levar mané passear no parque. Volta já está noite toda machucada e chorando igual criança que perdeu a chupeta e quer me dizer que tudo está bem?
— Paola.
— O que foi que aconteceu?
— A encontrei no parque, almoçamos juntas, a filha dela me convenceu a ficar para brincar, quando eu vi estávamos lá a tarde toda, ela me deu uma carona, nós brigamos, ela me deixou na rua, eu fui atacada, eu peguei um táxi, fui buscar o mané, nos beijamos, ela me pediu para ficar com ela, mas eu não posso.
— Calma você está falando muito rápido. — Natália riu.
— Desculpa.
Então contei toda a história do meu dia para ela em detalhes e calmamente, minha amiga era boa ouvinte, ela xinga nos momentos certos, faz piada, da risada, e até chora as vezes. No fim ela me abraça e ficamos assim por mais de uma hora antes de ela me soltar.
— Apenas me explique porque você não quer ficar com a Paola? Ela é linda, sexy, bem sucedida, gostosa, um pouco surtada, mas quem não é?
— Depois de tudo o que eu já passei em relacionamentos? Não estou preparada para sofrer isso outra vez.
— Quem disse que você vai sofrer Aninha?
— Eu não vou arriscar, fechei meu coração e não vou abrir.
— Tudo bem Ana, vamos deitar.
Tomei um banho e deitei na minha cama para dormir, Paola me mandou uma mensagem pelo celular, uma letra de música, apenas li mas não respondi. Passei a noite em claro, me virando de um lado a outro na cama sem conseguir pregar os olhos, até que desisti e me sentei em frente ao computador para trabalhar. Adiantei todo o meu trabalho dos próximos dias, até que quando percebi o dia estava amanhecendo novamente, tomei um novo banho e me vesti para enfrentar mais um dia, um vestido verde e um salto quadrado é o que escolho, entro no carro e saio com ele da garagem, releio a mensagem de Paola pela milésima vez.

"Antes de desistir do amor, testa o meu por favor."

Tentar. Transitivo direto.
Empregar meios para conseguir algo.

Depois de quase 50 anos vividos, entre viagens, trabalho, grandes reportagens, programas de televisão, e amores perdidos, eu já não acredito mais que romanticamente a minha vida tenha jeito. Com Walter tudo foi tão bonito por um tempo, até que nossas rotinas nos transformaram em grandes amigos e acabamos por deixar a vida a dois totalmente em segundo plano, o divórcio foi inevitável. Com Gustavo eu realmente pensei estar apaixonada, achei que tinha encontrado alguém com quem dividir a vida e a velhice, tantos sonhos e planos, e tudo foi por água abaixo quando ele resolveu me trocar por uma versão mais jovem, o impacto foi tão forte e avassalador que eu demorei anos para me recompor, demorou muito tempo para que eu pudesse ao menos me permitir explorar mais minha sexualidade outra vez. E agora Paola apareceu, quinze anos depois, mexendo comigo, fazendo-me sentir coisas que há anos estavam adormecidas em mim, sua pequena criança de olhos da cor do mar me faz sentir completa, emocionada quando ela corre para os meus braços e diz "tia Ana, eu estava com saudades", "me empurra no balanço mais alto" e quando Francesca ri eu sinto como se a felicidade estivesse toda em seu sorriso. E também é claro a própria Paola, com seu sotaque sensual, e sua forma de me olhar como se eu fosse a coisa mais bonita que seus olhos cor âmbar já tivessem tido o prazer de observar, suas mãos percorrem minha pele de maneira suave e delicada quase como se toca uma obra de arte, sua boca tem um gosto muito particular que eu não sei descrever, é doce e apimentado, suave e quente, frio e gelado, é algo dela. O prazer que só ela foi capaz de me proporcionar me eleva a um nível tão alto que eu quase perco os sentidos e as vezes perco. Paola se entrega para mim de corpo e alma todas as vezes, seu corpo reage ao meu toque mais suave, é sempre uma explosão estar em seus braços. Ela diz que está apaixonada, que quer estar comigo. Mas e se tudo isso for apenas reflexo do sexo incrível que fazemos?
Tentar. "Pelo menos tente Ana, por favor".
— É exatamente isso que farei. — dirijo até sua casa e toco a campainha.

Your EyesOnde histórias criam vida. Descubra agora