Noite Perdida.

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02 de Agosto de 2019.

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Noites de inverno sempre foram noite muito mais longas e solitárias para Jeon Jungkook do que noites de primavera, outono ou verão, talvez simplesmente porque era uma época naturalmente triste para ele, que trazia lembranças que infelizmente não conseguia esquecer.

Ele contava muitas histórias de inverno, como uma tentativa fugaz de esquecer o passado. E a história por trás de todas as histórias que ele costumava contar por aí eram, na verdade, muito tristes e solitárias, e nada heroicas e bravas, como ele fazia parecer.

Ele costumava contar sobre grandes pessoas que salvaram o mundo, uma nação, o dia ou uma pessoa só. A maneira com que ele envolvia qualquer um com suas palavras bem aventuradas, escolhidas da maneira certa para prender qualquer um, fazia com que Jeon tivesse a atenção de todos sempre.

Inclusive a de Park Jimin.

Não era muito claro para nenhum dos dois no começo que, desde sempre, as histórias de Jeon atraíram Jimin, assim como o sorriso e a calmaria de Park atraíram Jungkook.

Eles, desde a primeira troca de olhar, se atraíram um pelo outro.

É quase inédito quando um sentimento tão forte invade seu corpo de uma vez, triando a realidade do posto como prioridade e então, alguém que você sequer conhece corretamente toma lugar em qualquer pensamento, fala ou olhar que você é capaz de dar.

Ambos se sentiram assim quando no primeiro dia de aula, do segundo ano para Jungkook, e do primeiro ano para Jimin, se encontraram por acaso em uma roda distinta de adolescentes novatos e veteranos contando vantagem.

Desde então, na amizade, mesmo nos dias difíceis, Park Jimin e Jeon Jungkook sempre estiveram juntos.

E mesmo nas noites solitárias de Jeon, onde o silêncio ensurdecedor se fazia presente de maneira surreal, e mesmo em momentos cálidos onde Jimin questionava-se sobre a virtude de tudo o que sentia, mesmo em todos os momentos inseguros e medrosos onde ambos se tornavam seres frágeis, e suas defesas sensíveis, mesmo nesses momentos, um reconfortou o outro da melhor forma que podia.

Mas Park Jimin não sabia que as histórias heroicas eram, na verdade, tristes e solitárias.

Ele nunca imaginara que por trás do grande Jeon Jungkook, o cara no qual confiava a vida e acreditava ser invencível, estava um pobre garoto chorão.

Talvez pela surpresa de nunca ter conhecido Jeon de verdade, na noite em que tudo desmoronou, Park mal notou seu egoísmo.

Egoísmo.

Era algo que todos odiavam, de certa forma. E todos, em algum momento, foram egoístas.

Inclusive Park Jimin, que não pensou muito, porque seu coração estava machucado e ele só conseguia sentir a sua própria dor.

Suas palavras cruéis sendo proferidas como uma faca extremamente afiada, junto ao seu coração dolorido que não deu espaço para a empatia da dor das lagrimas que rolavam no rosto do homem que jurou amar.

Naquela noite, fria e cálida, onde as gotas da chuva recente deslizavam preguiçosamente pelas folhas de uma arvore no canto da casa quieta, onde o aspecto morto indicava um inverno precoce chegando com total força, a rua mal iluminada pelo único poste de luz, do lado oposto a casa, refletia a sombra contorcida de Jungkook. O cigarro acesso e a fumaça espalhada ao seu redor o cobriam por um cheiro triste, se é que cheiros poderiam expressas sentimentos. Naquela noite, parecia que sim.

A Pessoa Que Você Foi  {Jikook}Onde histórias criam vida. Descubra agora