Capítulo Cinco

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Pietro Martins Reed:

Na segunda-feira, ao sair de casa, a chuva caía incessante contra a janela do meu carro. O som das gotas batendo no vidro parecia quase melancólico, amplificando a minha frustração.

Depois de percorrer três quartos do quarteirão, encontrei o que me impediu de prosseguir: a rua principal estava bloqueada por um fogareiro e quatro cavaletes laranja. Em cada cavalete, o letreiro "Depto. de Obras Públicas" parecia uma ironia diante da situação.

Atrás dos cavaletes, a água da chuva jorrava dos canais entupidos, carregando galhos, pedras e pilhas de folhas grudadas. A força da água havia começado a abrir brechas no asfalto, e, no terceiro dia de chuva, partes inteiras da rua começaram a se soltar e descer pelo cruzamento como se fossem pequenas canoas em um rio tumultuado.

Era evidente que muitas pessoas já estavam começando a fazer piadas nervosas sobre arcas e dilúvios. O Departamento de Obras Públicas havia conseguido deixar a rua principal parcialmente aberta, mas a segunda rua, do início dos cavaletes até o centro da cidade, estava intransitável.

Meu estômago se revirou. Eu tinha saído muito tarde para voltar para a faculdade, justo num dia como este. Meus pais tinham me avisado para não sair, mas eu precisava urgentemente organizar o material para uma apresentação importante.

Suspirei profundamente, tentando acalmar os pensamentos que fervilhavam na minha mente. A sensação de frustração e a consciência da minha própria imprudência eram quase palpáveis. A chuva, o trânsito bloqueado, a confusão—tudo isso parecia uma metáfora perfeita para o caos que estava sentindo por dentro.

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Cheguei ao estacionamento do dormitório, um espaço compartilhado que se assemelha aos encontrados em hostels ou fraternidades. Esses dormitórios são espaços coletivos com várias camas, incluindo beliches e treliches, oferecendo menos privacidade e conforto. Apesar de serem a opção mais barata, a falta de privacidade é uma constante.

Peguei meu material do carro e subi para o andar do meu quarto. Ao abrir a porta, levei um susto quando vi que Giovanni estava no meio de um desabafo. Travesseiros voaram em minha direção, e eu desviei a tempo.

— Pietro, é só você? — Giovanni perguntou, abaixando um travesseiro e me encarando com um olhar arrependido. — Foi mal pelos travesseiros.

— Foi bem mal mesmo — respondi, revirando os olhos enquanto colocava minhas coisas em cima da cama. — O que está acontecendo aqui?

— O Nicolo, veio me irritar a noite toda, completamente bêbado — Giovanni explicou, e eu o observei com atenção. — Terminou comigo para sair com os amigos idiotas que ele tem.

— Sério que ele fez isso? — perguntei, incrédulo ao ver Giovanni assentir. — Nossa, não sei o que dizer.

— Vai ficar parado aí chocado ou vai me consolar? — Giovanni pediu, com um tom de desespero. — Você é o único amigo em quem posso confiar.

— Seus irmãos ficam sempre ao seu lado, querendo saber de tudo — observei, vendo a expressão triste no rosto dele.

— Você é o único fora da minha família em quem posso confiar — Giovanni disse, com os olhos brilhando. — Você é como um irmão para mim. Seus conselhos são minha religião.

Revirei os olhos e fui até o frigobar que mantemos no quarto. Peguei duas latas de refrigerante e algumas batatinhas, e me sentei ao lado dele na cama.

— Lembre-se sempre: Nós só atraímos o que transmitimos. Ame-se muito, dê-se o valor que merece e vibre coisas boas. Esqueça os fantasmas do passado e perdoe. Fique em paz com seu coração — comecei a dizer. — Giovanni, você é incrível. Não procure sua metade; você já é inteiro. Procure alguém que acrescente algo maravilhoso à sua vida. Nicolo é um grande idiota. Com esse término, permita-se viver novas experiências e olhe para quem realmente valoriza você.

Meus Príncipes Encantados (MPreg) | Spin-off Do Livro Memórias Do Seu CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora