A menina encarava a mãe com os olhos arregalados e provavelmente o rosto pálido. Engoliu em seco, pondo sua mão por cima da runa.
- Como... como consegue ver? - franze as sobrancelhas.
- Bom, você provavelmente não se tatuou com tinta invisível. - Clary cruza os braços - O que é isso, Harmony? - pergunta impaciente.
- Não é uma tatuagem, mãe. - solta um longo suspiro, fechando os olhos - Olha, é uma longa história, e eu... Se eu contar a verdade, não vai acreditar em mim.
- Não vai me falar o que aconteceu?
A menina respirou fundo e encarou a mãe, comprimindo os lábios.
"Olha, mãe, na verdade, não foi nada de mais. Eu só fui atacado por um monstro, o destruí, depois fui levada até aquela igreja lá, a abandonada, onde um homem me curou com essa tatuagem mágica, que na realidade é uma runa.".
Ela não poderia dizer isso. Estava fora de cogitação. Poderia colocar sua mãe em perigo, assim como ela provavelmente já estava. Então não pensou duas vezes antes de tomar uma extrema decisão.
- Desculpa, mãe... - disse, enquanto calçava os pés e voltava a colocar o casaco - Mas eu tenho que ir.
Sai de casa às pressas, sem olhar para trás, e começa a correr pelas ruas de Nova York, sabendo exatamente para onde tinha que voltar, mais cedo do que pensava que voltaria.
~*~*~
- Tudo bem - com as mãos apoiadas na mesa, Alec fala - O que vocês tem em mente?
- Geralmente é você quem nos diz o que fazer. - Izzy o encara.
Já fazia um tempo desde que Harmony havia ido embora, e os dois, juntamente com Jace, estavam pensando em uma maneira de trazê-la de volta, mas sem obrigá-la a ficar. Simon ainda não tinha absorvido as coisas muito bem para ajudá-los nisso.
- Então, nós podemos encontrá-la e conversar sobre tudo isso. - o moreno diz, mas os outros dois continuam o encarando, esperando por mais - Dizer que é muito, muito perigoso simplesmente fingir que nada aconteceu. Se for atacada de novo poderá não resistir. Ela tem uma runa de cura, mas precisaria de uma estela para ativá-la. E viver a vida toda sendo perseguida por demônios não me parece bom.
- Não acho que uma conversa vá convencê-la. Ela tem o gênio forte, e além do mais você já disse tudo isso, mas mesmo assim ela não ligou muito, nem ficou preocupada, e foi embora.
- Mas se conversar não adiantar, Izzy, só temos mais duas opções: deixá-la se virar ou trazê-la a força.
- Acatamos a segunda opção. - Jace se pronuncia - Quer dizer... não podemos simplesmente não fazer nada, não é? - ele estava se preocupando com a menina mais do que esperava, e talvez não só por causa de Clary...
Antes que alguém pudesse responder, percebem uma movimentação no pátio principal do instituto, e não demora muito até que um furacão de cabelos ruivos chega até eles, com o rosto extremamente rosado e a respiração escassa, buscando desesperadamente por mais ar.
- É, foi mais fácil do que esperávamos. - a morena fala, cruzando os braços - Pelo menos não deu trabalho.
- O que aconteceu? - o loiro pergunta, preocupado. Preocupado demais, Jace..., pensa.
- Ela viu. - diz rapidamente - A minha mãe viu a...
- Runa? - Alec pergunta.
- Sim. Ela começou a perguntar o que tinha acontecido e eu não soube o que fazer. Não podia contar a verdade. - tenta acalmar a respiração, suspirando forte - Vocês tem razão, eu... Eu acho que preciso de ajuda.
Harmony sabia que se mudar traria mudanças em sua vida. Mas nada se compara ao que mudou em apenas uma manhã, que deveria ter sido como todas as outras. E, apesar de não ter percebido antes, vai precisar de muita ajuda para conseguir passar por esse momento... ou lidar com isso pelo resto de sua vida.
- Tudo bem, vamos começar pelo início. Mais alguém viu a runa?
- Não. - responde - Eu estava de casaco na rua, e tirei quando cheguei em casa, então só a minha mãe viu.
- Não tinha mais ninguém com você e a sua mãe, em casa? - dessa vez é Jace quem pergunta, fazendo todos que estavam ali franzirem as sobrancelhas, não entendendo muito bem o porquê da pergunta - O que foi?
Desde o começo de tudo aquilo ele não conseguia para de pensar sobre quem mais estava vivendo com Clary, então não podia deixar de perguntar.
- Tenho certeza absoluta de que não tinha mais ninguém, eu e minha mãe moramos sozinhas.
Jace não sabia se aquilo era bom ou ruim.
- Olha, Harmony, presta atenção. - Alec diz, respirando fundo - O mundo das sombras é perigoso, e querendo ou não, você faz parte dele. Sempre fez, mas sua mãe esqueceu de tudo que é relacionado a esse mundo. Ela é praticamente uma mundana, mas você não é, e corre perigo por isso. - faz uma pausa por breves segundos, voltando a falar em seguida - Provavelmente não existe uma maneira de fazer sua mãe voltar a ser quem era, de fazê-la lembrar. Ela perdeu as memórias de todos nós, e trazê-las de volta não é uma opção, porque não é possível fazer isso.
- Mas, então...
- Espera. - faz um sinal com a mão - Me deixe falar primeiro, tudo bem? - pergunta e Harmy concorda - Clary conviveu anos com a gente. Era uma de nós, e desde que foi embora, não somos totalmente quem éramos. Ela levou uma parte de cada um de nós consigo. Mas de uns do que de outros. - encara Jace rapidamente, que possui a expressão vazia - Sentimos falta dela, mas nos convencemos de que não podemos tê-la de volta. E você... Sua situação atual não deveria afetar sua família. Eles não podem...
- Não existe "eles". - Harmony o interrompe - Sou só eu e a minha mãe. Sempre foi. Ela não tem família. A mãe dela morreu antes de eu nascer e nunca conheceu o pai, assim como eu. Somos só nós duas. E não é tão ruim quanto parece. Temos uma a outra, e minha mãe sempre diz que isso é suficiente.
Quando termina de falar, todos a encaram, estáticos. Longos instantes depois, a mulher inclina um pouco a cabeça para o lado, observando Harmony com atenção. Como eu não tinha pensado nisso antes...
- Quantos anos você disse que tinha mesmo? - engolindo em seco, pergunta, visivelmente um pouco nervosa, enquanto espia Jace de soslaio.
- Izzy... - como em um tom de repreensão, Alec diz, entendendo aonde ela queria chegar com aquilo, mas no fundo com a vontade de que continuasse.
- Anos e meses, só para eu... saber. - continua a encarando atentamente, com os olhos cerrados. - Não se parece muito com a sua mãe, pelo que me lembre dela. A não ser pelo cabelo. - ri nostálgica.
Jace estava com a mente tão ocupada lembrando de Clary depois do discurso de Alec para a menina que nem havia prestado atenção no que Izzy tinha perguntado para ela. Olhava para o nada, submerso em pensamentos.
- É... eu tenho sete anos e... - faz uma pequena pausa, tentando lembrar - oito meses...? Bom, acho que é isso. Sete anos e oito meses. Por que? - pergunta, olhando para Izzy, que depois de alguns segundos arregala os olhos e abre a boca, em choque.
- Pelo Anjo... - é a única coisa que sai de sua boca, enquanto seu olhar e o de Alec, que estavam em Harmony, vão lentamente para Jace, o fazendo se dispersar de suas memórias, levantando um pouco a cabeça e olhando para os dois com a expressão totalmente confusa.

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Little Angel
FanfictionHarmony Fray era uma garotinha aparentemente normal, vivendo com sua mãe em uma das maiores cidades dos Estados Unidos, Seattle. Porém o que as duas não sabiam era que a partir do momento em que se mudassem para Nova York, suas vidas nunca mais seri...