- Jace! - a palavra saiu dos lábios de Harmony em forma de grito, e a menina quase que automaticamente se impulsionou para frente, com a intenção de chegar até ele, mas para subitamente quando se dá conta do monstro que ainda está lá.
As mãos de Clary estavam trêmulas sobre os ombros da filha, que encarava sem piscar o demônio. Ela esperava que ele a atacasse. Estava se preparando para isso. Mas a única coisa que ele fez foi agarrar a perna de Jace com uma das garras e começar a andar para trás, se afastando. E levando o homem desacordado com ele. Porque essa era a isca perfeita.
Harmony arregalou os olhos, um pouco estática, enquanto observava a criatura arrastar o loiro pelo chão e ir embora, logo ficando fora de vista.
Não entendia. Não conseguia entender. Por que o demônio estava levando Jace? Por que não a atacou, quando nada o impedia de fazê-lo? E por que diabos ela ainda estava parada?
Tentou se soltar das mãos da mãe, que ainda estavam sobre seus ombros, mas quando finalmente o fez Clary não perdeu tempo em agarrar seu braços, com um aperto firme.
- Mãe! - ela falou, alto o suficiente para quase ser considerado um grito, e virou a cabeça para encará-la - O que está fazendo? Jace foi levado! Tenho que ir atrás dele! Me solte! - o alarme ainda soava pelo Instituto, e o tom da voz de Harmony quase se elevava à isso.
Clary estava completamente atordoada pelos acontecimentos recentes, mas isso não a impediu de olhar para a filha com firmeza. Assim como não a impediu de falar, com palavras altas e claras.
- Não vá. Por favor, não vá. - a menina olhava para a mãe com as sobrancelhas franzidas, como resultado de sua frustração iminente, e a única coisa que se passava em sua mente era que nada nesse mundo iria impedi-la de ir - Acha... acha que ele iria querer que fosse e se colocasse em perigo?
Foram palavras cautelosas, mas Harmony não mediu as suas quando segundos depois respondeu a ruiva.
- Por que está dizendo isso? - disse, com o aborrecimento visível - O que sabe sobre o que Jace iria querer de mim? Você não o conhece.
Clary não respondeu. Apenas ficou a observando, mantendo o aperto em seus braços, agora um pouco mais leve. Observando seus olhos, cheios de determinação e coragem. Seu rosto, com as bochechas coradas pela adrenalina, e os lábios cheios comprimidos. E ela teria dito algo de volta, se não fosse pelo homem que apreceu à porta. O moreno alto.
Sua respiração estava acelerada e um pouco de seu cabelo escuro havia se prendido à testa devido ao suor. Ele encarou Harmony e a mãe por longos segundos antes de franzir as sobrancelhas. Algumas pessoas estavam passando apressadamente pelo corredor, logo atrás dele, enquanto este continuava em silêncio. Foram necessários mais alguns segundos até que ele finalmente falou.
- Jace deixou vocês sozinhas? Onde ele está? - perguntou, dando uma rápida olhada no corredor, com uma expressão preocupada.
Clary soltou um rápido suspiro enquanto lentamente soltava os braços da filha, que por sua vez não conseguiu nem soltar um pio já que um grito alto soou do lado de fora da sala.
- Alec! - a menina não reconhecia a voz.
Assim que escutou o chamado, o homem saiu com passos rápidos e largos, provavelmente indo até o salão principal do Instituto. Harmony não perdeu tempo em segui-lo, já que agora conseguia fazê-lo, e Clary nem se esforçou para tentar agarrá-la de volta. Então, a única coisa que fez foi ir com ela.
Ao contrário de minutos antes, o lugar já estava cheio de caçadores de sombras novamente. Na verdade, não cheio, mas ainda havia uma boa quantidade deles lá. Harmony viu quando Alec parou na frente de um homem - o que havia gritado seu nome, certamente - e focou o olhar no tablet que ele tinha nas mãos.
Segundos depois, o rosto dele estava pálido e os olhos levemente arregalados, e Clary estava tão distraída observando a cena que não percebeu quando a filha desapareceu de vista.
Enquanto observava atentamente o salão, em busca de algo, a menina havia visto um rastro sutil de secreção escura. De fato, estava muito bem camuflado no piso, mas por algum motivo estranho Harmony tinha conseguido ver. Era como se estivesse ali apenas para que ela pudesse ver. E segui-lo.
Com passos sutis e silenciosos, ela começou a andar na direção que aquele tipo estranho de gosma havia traçado. Curiosamente, estava em um local mais afastado, de modo que as pessoas não a veriam ali. Curiosamente.
Seguindo e seguindo o rastro, não se importando com mais nada, ela foi se afastando cada vez mais, até que chegou em uma porta, escondida em um corredor escuro e estreito - mas não muito longo. Presumiu que não era usado há um bom tempo, já que a situação ali não era das melhores.
Bom, ela não se importou nem um pouco com isso.
Apenas abriu a porta - com um pouco de dificuldado, já que era um pouco pesada - e adentrou o local. Uma pequena janela no alto da parede permitia que ela enxergasse, e então viu a escada. Não perdeu tempo em descer, cautelosamente, enquanto sua respiração ficava mais descompassada ainda.
Quando grunhidos chegaram até seus ouvidos, começou a soar frio e as pernas fraquejaram por um momento. Mas não iria voltar atrás. Não quando já estava tão perto.
Deu mais um passo para o próximo degrau, mas quando uma mão agarrou rapidamente seu braço, levou um susto tão grande que teria rolado escada abaixo se não fosse pela mesma pessoa que quase a tinha feito cair. Seu coração batia descontroladamente no peito e suas pernas tremiam enquanto se virava para ver quem estava ali.
Alec estava com uma expressão nervosa no rosto, a respiração escassa como a dela, e a repreendeu severamente com o olhar antes de puxá-la levemente para fora dali, e em questão de segundos os dois estavam no pequeno corredor.
- Mas o que pensa que está fazendo? - perguntou com a voz baixa, mas firme - Não vê que é perigoso?
Harmony apenas comprimiu os lábios antes de falar.
- Como me encontrou?
- Câmeras de segurança. - ele desviou o olhar rapidamente para o lugar onde a menina estava há pouco, preocupação dançando em seus olhos - Como chegou até aqui?
- Segui um rastro. - ela disse. Não via motivos para mentir.
- Um rastro? - Alec adotou uma expressão confusa no rosto - Como assim um rastro?
- Um rastro de alguma coisa gosmenta e escura. Eu só segui e... vim parar aqui. - olhou para dentro da pequena sala - Ouvi um grunhido. Tem alguma coisa lá em baixo.
Harmony sabia que Jace estava lá embaixo. Tinha certeza disso. Assim como sabia, por alguma razão, que era ela quem deveria ir até lá. Ela... e mais ninguém. Mas temia que não conseguiria ir sozinha. Não com Alec no seu encalço.
- Alguma coisa... ou alguém? - pelo jeito como ele falou e em como seu rosto se contorceu de preocupação, Harmony soube que ele sabia sobre Jace.
- Como sabe? - suspirou antes de respondê-la.
- Câmeras de segurança... e sua mãe me contou. Mas descobri pelas câmeras primeiro.
- Que bom. - ela disse, indo até a escada com passos rápidos - Agora sabe porque tenho que ir até lá embaixo.
Quando Alec se deu conta, ela já estava fora de vista.
- Harmony! - gritou por ela enquanto descia os degraus.
No subsolo, a primeira coisa em que seus olhos focaram foi Jace, ainda desacordado, largado em uma parede de pedra, logo na entrada. Já a segunda...
Três demônios gigantescos estavam ali. Alec nunca havia visto um sequer daquele tamanho, e involuntariamente acabou dando alguns passos para trás. Até que chamativos cabelos ruivos chamaram sua atenção em meio à pouca claridade.
Harmony estava ali também - por um momento, ele havia se esquecido. Ela estava ali, e bem diante deles.

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Little Angel
FanfictionHarmony Fray era uma garotinha aparentemente normal, vivendo com sua mãe em uma das maiores cidades dos Estados Unidos, Seattle. Porém o que as duas não sabiam era que a partir do momento em que se mudassem para Nova York, suas vidas nunca mais seri...