Nosso passado

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Eu deixei praticamente toda a comida no prato, minha fome sumiu completamente. Falei pro Nathan que eu precisava ir ao banheiro e dei um beijo em sua bochecha. Saí da mesa e me tranquei no banheiro do segundo andar da casa.

Um milhão de pensamentos atormentava minha cabeça! E todas as memórias do que eu e o Paulo tínhamos vivido no passado, pareciam gritar desesperadamente para não serem esquecidas.

Bom, você não deve estar entendendo direito, então vou contar o que aconteceu:

Quando a gente estava no terceiro ano do ensino médio, eu gostava muito dele, mas eu tinha muita vergonha de contar, é claro. Nós éramos muito amigos e viviamos juntos. Quando começaram a vender os convites para o baile, eu não podia ir com o Nathan porque ele já havia se formado um ano antes. Até que um dia no almoço da escola, o Paulo se sentou na minha mesa e me convidou pra ir com ele. E é óbvio que eu aceitei na mesma hora.

O baile seria na outra semana então no outro dia fui comprar meu vestido. Depois de procurar em três lojas diferentes, finalmente encontrei. Ele era longo, dourado e acinturaro. Na parte de cima havia uma camada de brilho dourado que ia ficando mais fraca ao longo do vestido, como uma cascata de ouro. Pela descrição parece que vou para um casamento ou algo assim, mas calma, não era tão estravagante quanto parece. Eu parecia uma princesa naquele vestido!

Durante a semana inteira eu fiquei morrendo de ansiedade, até que chegou o grande dia! Meu cabelo é castanho escuro e vai até a cintura, já era desse jeito naquela época, de modo que a cabeleireira colocou ele todo pro meu lado esquerdo e prendeu com um enfeite delicado e dourado como o vestido, deixando ainda mais volumosos os cachos que ela havia feito nas pontas. Quando me olhei no espelho fiquei impressionada com o resultado, eu me sentia realmente linda.

Saí do salão e voltei pra casa meia hora antes dele vir me buscar, por sorte não me atrasei. Não demorou muito para ele chegar, assim que a campainha tocou, me despedi dos meus pais - eu ainda morava na casa deles - e abri a porta.

Ele estava usando uma camiseta social branca e paletó preto, meu coração parou de bater por um segundo e eu fiquei paralisada na porta, sério, eu não sabia o que fazer! Quando ele me viu, ficou do mesmo jeito e eu teria dado risada da cara que ele fez se eu não estivesse tão nervosa.

- Você está linda - ele disse depois de beijar minha bochecha e sorrir.

- Obrigada - Respondi, sorrindo também.

Ele abriu a porta para que eu entrasse no carro e em seguida ele entrou também e o motorista nos levou até o baile. 

Quando chegamos, ficamos de braços dados até chegar na mesa. A decoração estava espetacular, havia um globo de espelhos gigantesco no centro da pista de dança que refletia todas as luzes o salão, fazendo o lugar parecer mágico! Nós estávamos sozinhos na mesa, conversando já fazia meia hora, até que o rosto dele ganhou uma expressão um pouco triste.

- Você está bem? - perguntei, preocupada.

- Preciso te contar uma coisa...

- Claro, pode falar - respondi,c om um sorriso amigável.

Ele respirou fundo e voltou a olhar nos meus olhos.

- Esse é meu último fim de semana aqui em Curitiba - ele fez uma pausa - vou me mudar para São Paulo pra fazer faculdade.

Ouvir aquilo fez meu ocração se despedaçar totalmente, eu lembro até hoje de como me senti ao perceber que exixtia a possibilidade de eu nunca mais vê-lo.

Eu não quis que ele ficasse triste com aquele assunto, então me levantei e estendi a mão pra ele segurá-la.

- Então vamos aproveitar cada segundo!

Ele abriu um sorriso e se levantou para irmos dançar, bem no meio da pista de dança. A música era animada e nós não parávamos de rir, não sei ao certo o motivo, mas aquilo era engraçado. Depois de mais três músicas animadas, o dj resolveu começar as músicas lentas.

O Paulo olhou nos olhos e estendeu a mão esquerda para mim.

- Me concede essa dança, senhorita? - ele disse brincando, mas fingiu seriedade e depois nós dois rimos de novo.

- Claro - respondi segurando a mão dele.

Ele colocou um braço em volta da minha cintura, me trazendo para perto ao ponto de eu sentir a respiração dele em meu rosto. Meu coração estava tão acelerado por ficar assim com o Paulo que parecia que ele iria explodir a qualquer momento.

Dançamos a música inteira assim e quando ela chegou ao fim, ele não me soltou. E eu sabia o que isso significava: ele não queria me deixar. Eu podia sentir isso em cada toque dele. Ele colocou as duas mãos em volta da minha cintura e eu, os braço em volta do pescoço dele. Ele se afastou apenas o suficiente para olhar nos meus olhos.

- Tem mais uma coisa que eu preciso te contar - eu assenti - de todas as idiotices que eu já fiz, a maior foi não ter dito antes que... Eu te amo.

Ao contrário do que você está pensando agora, meu coração não quis explodir de novo. Tudo que eu senti foi um alívio por saber que ele sentia por mim, o mesmo que eu por ele.

Antes mesmo de eu responder, eu me puxou para perto de novo e me beijou. Mas não foi um beijo qualquer, foi o meu PRIMEIRO beijo.

Sim, eu já amei o Paulo. Mas lá no fundo eu sabia que nunca daria certo, não se ele fosse para São Paulo e me deixasse aqui. Não pela distância, mas sim, pela nossa idade na época e porque eu ainda morava com meus pais e eles jamais permitiriam. Não havia nada a fazer a não ser aproveitar cada segundo enquanto estávamos juntos.

Dois dias depois do baile, ele passou na minha casa antes de ir para o aeroporto. Nós caminhamos até ficarmos longe da minha casa, onde ninguém nos veria.

Nós nem falamos nada, só olhamos um para o outro, com certeza pensando exatamente a mesma coisa: "e agora?"

- Eu nunca pediria pra não ir viver o seu sonho - comecei - mas também não vou mentir dizendo que estou feliz com - ele me interrompeu. Não com palavras, mas com um abraço.

Aquele abraço significou muito pra mim, porque, de certa forma, significava que eu não seria esquecida...Nunca.

Não, não prometemos esperar um pelo outro ou qualquer coisa assim. E não houve um beijo de despedida. Tudo o que tínhamos era aquele abraço.

Depois de um tempo, ele se afastou e disse que precisava ir pra não chegar atrasado para o vôo. Eu assenti e tudo o que consegui dizer foi:

- A gente se vê um dia.

- A gente se vê - ele respondeu e deu pra perceber que ele queria chorar, tanto quanto eu.

Ele me deu um beijo na testa e saiu andando na direção do carro. A cada passo dele eu sentia mais vontade de chorar. Afinal, eu tinha certeza absoluta de que nunca mais o veria.

E agora, da maneira mais inesperada possível, aqui estamos nós.

Me sentei no chão do banheiro e apoiei a cabeça nos meus joelhos. Agora eu não sinto vontade de chorar ou fazer qualquer coisa assim. Tudo que eu quero agora é ficar longe dele e fingir que nada disso aconteceu.

My Best MistakeOnde histórias criam vida. Descubra agora