"Sempre"

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Quando ficou óbvio que eu não responderia sua pergunta, ele se aproximou ainda mais e cochicou em meu ouvido:

- Nós dois sabemos o motivo.

Como se isso não fosse o suficiente, ele me deu um beijo na bochecha e simplesmente SAIU. E me deixou lá, encarando a parede daquela droga de corredor e me sentindo a pessoa mais idiota do mundo por permitir que ele me colocasse nessa situação!

Eu não queria voltar para o lado de fora e ter que olhar pra ele, então fui para a sala, que ficava logo a minha direita. Quantas salas essa casa tem, afinal?

Fico sentada no sofá, lutando contra todo e qualquer pensamento que envouvesse Paulo Augusto Castagnoli. MAS É IMPOSSÍVEL! Parace que a voz dele entra na minha mente e fica dizendo que eu não engano nem a mim mesma quando penso que ele é indiferente em minha vida.

Não chore. Não chore. Repito sucessivamente em voz baixa.

Me sinto realmente feliz por não estar chorando quando abro os olhos e o Nathan está a cinco metros de mim. Assim que o vejo, pulo do sofá e corro para abraçá-lo. Não sei ao certo de onde surgiu essa enorme necessidade de sentir ele perto de mim, só sei que é a única coisa de que preciso agora.

Ele não me pergunta nada, apenas corresponde o abraço, me apertando contra seu peito. Sem me desprender dele, começo a falar:

- Preciso que você saiba que eu te amo e que nenhum de nós pode duvidar disso, nunca! - eu digo, antes de nossos lábios se encontrarem.

- Ei, fica calma - ele respondeu, segurando meu rosto com as duas mãos para que eu olhasse nos olhos dele - eu também te amo. E não entendo porque acha que eu duvidaria do que você sente por mim.

Balancei a cabeça, concordando com ele voltando a abraçá-lo.

É o Nathan que eu amo. Ele é meu namorado. Um fim de semana não muda nada em nossas vidas. Paulo deixou de ter importância faz anos. Pronto.

Uma das coisas que mais gosto no Nathan é que ele não me faz perguntas sobre tudo que eu sinto ou faço. Ele apenas está do meu lado e deixa que eu fale o que está acontecendo.

- Você está bem? - ele me pergunta.

- Agora estou - respondo sorrindo.

- Quer voltar lá pra fora? Estão nos esperando pra alguma coisa que o pai do Caíque quer fazer.

O pai do Caíque foi nosso professor de biologia durante todo o ensino médio, por isso todos temos um carinho especial por ele. E seja lá o que for que ele planeja fazer, não quero perder por culpa do Paulo!

- Claro, vamos lá.

Saímos de mãos dadas e assim que chegamos na varanda, todos se viram para nós. Inclusive o Paulo, que olha direto para nossas mãos e em seguida desvia o olhar.

- Ah, ótimo que vocês já vieram. Tenho uma surpresa - diz o pai do Caíque, tão empolgado quanto todos nós.

Eu eu o Nathan nos sentamos na ponta da grande mesa de madeira, junto com toda a antiga turma e escutamos enquanto o professor falava.

- Bom, agora que todas as crianças já chegaram - houve um riso coletivo - quero dizer que estou feliz por ver que vocês estão sobrevivendo a faculdade e se tornando adultos de bem. Pensando nessa fase um tanto importante pela qual estão passando, eu revirei todas as caixas que estavam guardadas lá em casa e consegui encontrar as cartas que vocês escreveram para um de seus amigos quando eu pedi para registrarem algo que gostariam que ele nunca esquecesse.

Você já sentiu a sensação de que o universo conspira contra você de todas as maneiras possíveis? Pois é.

Afinal de contas, pra quem será que eu escrevi uma linda carta, anos atrás? Isso aí, parabéns Gabriela.

Eu já não consigo ouvir o que o pai do Caíque está dizendo. Ou eu ouço e minha mente é incapaz de entender! Só volto a realidade quando recebo a minha carta. O envelope já amarelado foi lacrado com um adesivo de caderno e, na parte de trás, os nomes de quem escreveu a bendita carta e para quem ela deveria ser entregue.

"De: Paulo Castagnoli.

Para: Gabriela Duarte."

E como se já não fosse o bastante, um coração está desenhado ao lado do meu nome!

Eu não quero abrir essa carta, não preciso de mais lembranças do Paulo me atormentado. Meus olhos procuram por ele, que, na outra ponta da mesa, está lendo o que eu escrevi na carta dele.

Mesmo que tenha sido anos atrás, eu me lembro do que escrevi. Na verdade não era beeem uma carta, era um bilhete. Diferente do resto da turma, eu não precisava escrever um texto enorme dizendo o que quer que fosse. Porque na época, só havia uma coisa da qual eu gostaria que ele se lembrasse, então escrevi: "Não importa quanto tempo ou quantas pessoas diferentes passem pela minha vida. Eu sempre vou amar você".

Assim que eu terminou de ler, um sorriso tomou conta de seu rosto e ele olhou pra mim. Nos encaramos por um momento até que ele, discretamente, apontou o dedo para o papel e moveu os lábios dizendo "sempre".

Não, ele não estava jogando aquilo na minha cara por eu estar namorando outra pessoa agora, ele parece estar me perguntando se alguma coisa naquele bilhete ainda é verdade, se o "sempre" dura até hoje.

My Best MistakeOnde histórias criam vida. Descubra agora