Cap. 36

214 18 6
                                    

Um mês depois:

- Você vai demorar? - Manu pergunta, lá do quarto.

Ela não saiu da cama hoje, porque não está muito bem.

- Volto em uma hora, no máximo. Precisa de alguma coisa do mercado? - Grito de volta.

- Só os cookies.

- Tudo bem, até depois.

Pego as chaves do carro e saio do apartamento. Demoro um tempo caminhando até o estacionamento.

Entro no carro e, ao me sentar no banco, sinto meu celular vibrar.

É uma mensagem do Paulo. Estranho, achei que estivesse na aula.

"Sinto sua falta. Conversamos hoje a noite, amor?"

"Claro, eu te chamo".

Sinto tantas saudades dele, que nem sei como explicar. É como se tivessem tirado uma parte de mim e levado pra longe, e sem ela não funciono direito.

Eu e o Paulo temos lidado bem com a situação, apesar de ser difícil manter um relacionamento à distância. Conversamos pelo Skype sempre que temos tempo, o que é difícil em alguns dias porque nós dois temos muitas provas e trabalhos da faculdade.

Passo mais tempo pensando nesse garoto do que em qualquer outra pessoa, nunca pensei que me sentiria tão ligada a alguém como me sinto a ele.

O colar que o Paulo me deu está sempre comigo, exceto no banho.

Ligo o rádio e vou até o mercado ouvindo música. Não fica muito longe do condomínio, na verdade.

Ao chegar, pego um carrinho na entrada e vou às compras.

Trouxe comigo uma pequena lista de coisas que não posso esquecer de jeito algum, como os cookies da Manu, - rio ao pensar na cara que ela fez quando me pediu - ovos, arroz, leite, tomates e carne.

- Qual é a diferença entre uma marca e outra? - penso alto ao olhar para tantas marcas diferentes de arroz.

- Aquele é melhor que os outros - ouço uma voz familiar responder.

Nathan.

Ele anda me perseguindo ou o quê?

- Não preciso da sua ajuda pra comprar arroz, obrigada.

Ele finge não ter ouvido minha resposta grosseira e continua calmo.

- Vai sentir raiva de mim pra sempre?

O encaro.

- Não sinto raiva, só não quero falar com você.

- Bem, então até quando você vai não querer falar comigo?

Não respondo a isso. Apenas pego um pacote de arroz, e continuo andando com o carrinho.

Não demora para que ele venha atrás.

- Gabriela - diz, tocando meu braço.

Viro-me para ele e olho em volta, checando se não há alguém por perto.

- O que você quer, Nathan?

- Eu só quero conversar, só me dá cinco minutos.

Respiro fundo, lutando contra o impulso de sair correndo dali.

- Você tem um minuto pra falar.

- Eu sei que perdi toda a confiança que você tinha em mim, mas queria que você me desse só uma chance de mudar isso. Não to pedindo pra nós voltarmos, porque eu sei que você está com ele e... Enfim, nós não demos certo e a culpa e toda minha, eu sei disso. Mas já faz um mês que eu não te via ou falava com você, e senti falta da amizade que nós tínhamos antes de tudo aquilo acontecer. Não espero que você esqueça o que eu fiz, mas se um dia precisar de um amigo, sabe que eu vou estar aqui pra você.

- Eu sei disso, Nathan - respondo, deixando de ser grossa com ele dessa vez.

Ele me olha, como se tentasse descobrir o que se passa pela minha cabeça, mas ele não pode mais ler dentro de mim.

- Tudo bem, então.. Me liga se precisar de alguma coisa.

Concordo com a cabeça. Ele se despede com um pequeno sorriso nos lábios, e vai para o outro lado do mercado.

Penso nas coisas que ele disse, e não sei se devo confiar no Nathan mais uma vez.

Uma semana depois:

No meio da noite, escuto um barulho vindo do quarto da Manu, parece que várias coisas caíram no chão. Levanto da cama, e vou até o cômodo ao lado ver se está tudo bem.

Ao abrir a porta, encontro minha irmã tendo um ataque de tosse, e com o rosto extremamente vermelho. Ela não consegue respirar!

- Manu! - corro ao seu auxílio - Meu Deus, eu vou chamar a ambulância, fica calma!

Vou correndo para a cozinha, onde fica o telefone, e disco o número da emergência. Eles chegarão em poucos minutos.

Depois disso, ligo para a minha mãe, que de imediato fica preocupada com a filha mais velha.

- Eles já estão chegando, Manu, você vai ficar bem - digo a ela, com calma.

Não quero perguntar agora o que ela tem - lembro-me do seu desmaio meses atrás - porque não é um bom momento para exigir que gaste fôlego falando. Manoela mal consegue respirar, o que está me deixando apavorada pois a ambulância ainda não chegou!

Estamos em silêncio. Sei que ambas não querem chorar, porque ela precisa me fazer acreditar que tudo está bem e eu preciso me manter forte pra apoiá-la no que quer que esteja acontecendo.

Quando a ambulância chega, ligo mais uma vez para minha mãe e peço que nos encontre no hospital.

Manu está agora em uma maca, comigo ao seu lado sem deixar de segurar sua mão por um só segundo. Um médico a examina durante o caminho.

- Ela precisa se acalmar - ele diz, referindo-se a minha irmã - tenta conversar com ela.

Concordo com a cabeça.

O que é que eu vou dizer?

- Manu, olha pra mim - sussurro, e ganho sua atenção - lembra quando nós éramos pequenas e você me disse pra não subir naquela árvore atrás da nossa casa, porque eu ia acabar caindo e me machucando? Eu subi, e acabei quebrando o braço.Você ficou tão desesperada - rio um pouco, mas meus olhos estão cheios de lágrimas - e aí nós fomos pro hospital, e você disse ao médico pra consertar meu braço pra que eu parasse de chorar, porque você ia começar a chorar também. Você se lembra? - algumas lágrimas escorrem pela minha bochecha quando pisco.

Em resposta, ela aperta minha mão e lágrimas escorrem por seu rosto também.

E se essa for a última vez que a Manu segura minha mão? E se ela estiver tão doente que é uma questão de tempo até que seu coração não aguente mais?

Balanço a cabeça, na tentativa de expulsar esses pensamentos. Ela vai ficar bem, ela vai ficar bem, repito pra mim mesma.

Mais lágrimas escorrem. Mais horas se passam.

Médicos entram e saem do quarto de hospital. Meus pais foram procurar saber se ela ficaria muito tempo internada, e eu fiquei sozinha na sala de espera.

Mesmo que eu mande uma mensagem para o Paulo agora, ele não responderia, porque na Inglaterra são quatro horas da manhã e ele está dormindo. Aliás, o que ele poderia fazer pra me ajudar? Penso em ligar pra Jasmim, mas ela mora muito longe daqui, e não viria a essa hora.

Só resta uma pessoa pra quem ligar. Não preciso procurar seu número em meus contatos, porque foi um dos poucos que decorei em minha vida toda. Ele atende depois de alguns toques.

- Nathan? 

My Best MistakeOnde histórias criam vida. Descubra agora