Quarto

3K 356 913
                                    

O sol já havia se escondido entre as montanhas fronteiriças de Konohagakure no Sato. Bateu a mão no pequeno sino sobre a mesa de madeira, pedindo sem dizer uma palavra o mesmo pedido anterior. O dono sorriu e confirmou com o dedão, indo buscar mais uma dose de saquê. Obito suspirou e escondeu o rosto entre as mãos. Ele não era de beber muito, mas ultimamente suas emoções estavam a flor da pele e a única forma que encontrou de se acalmar era com saquê.

Uma mão apertou seu ombro com delicadeza. Obito não precisou virar a cabeça para saber que era sua melhor amiga. Ela sempre aparecia na hora certa.

– Bebendo, Obito? – Rin sentou na cadeira a sua frente. – Você não é de beber.

– Eu estava com vontade. – deu de ombros. A outra garrafinha de saquê foi colocada no seu campo de visão. – Arigatou.

Rin negou com a cabeça. O dono do bar era um amigo seu de longa data. Ele dizia que Obito estava indo frequentemente para seu estabelecimento a procura de bebida. A Nohara estava sinceramente preocupada com o Uchiha.

– Peixe grelhado? – olhou para o prato intocado.

– É bom mudar a dieta às vezes – disse, bebendo a garrafinha com tudo. Fez careta.
Saquê é realmente péssimo, pensou.

– Você odeia peixe, Obito, ainda mais com esse molho amargo. – Rin cruzou os braços. – Por que está comendo a comida favorita do Kakashi?

Obito desviou o olhar. Havia sido pego, não tinha mais como negar.

– Já disse que estou mudando a dieta.

– Conheço você desde que era um aluno da Academia, Obito, você não me engana. Já faz catorze anos.

– Eu não consigo, Rin. – empurrou o prato. Odiava aquilo, nunca comia, apenas admirava. – Eu quero manter a memória do Kakashi viva. Então, se eu fazer tudo o que ele faria, talvez eu me sinta menos sozinho.

Rin respirou fundo. Não importava quanto tempo faria desde a morte do amigo, Obito continuaria sentindo sua falta. Era de se esperar. Kakashi e Obito eram inseparáveis, mesmo que a coisa que mais faziam no tempo livre era brigar. Entendiam-se melhor do que ninguém. E quando Rin se juntava, eram um time imbatível, o melhor trio de ninjas de sua geração.

– Você sabe que não tem culpa, Obito. Não temos culpa pelo o que aconteceu. Só... – suspirou. – aconteceu.

– Como assim “só aconteceu”, Rin? – aumentou o tom de voz. Talvez fosse a bebida ou a raiva, ou os dois juntos. – Eu matei o Kakashi!

– Não diga besteiras, Obito! – falou tão alto quanto Obito. – Kakashi morreu para nos salvar.

– E eu não fiz nada! – naquele momento, Obito começou a chorar. – Fui um fraco como sempre. Não importa quanto eu cresça, eu sempre serei aquele ninja fraco que era humilhado pelo Kakashi. – soluçou. – Sou um fracasso como shinobi!

Rin se levantou e contornou a mesa, sentando-se ao lado de Obito. Abraçou o amigo e sentiu as lágrimas gordas do Uchiha molharem sua roupa de treino. Tentou se manter forte, mas logo suas próprias lágrimas se misturaram as de Obito, tanto que nem conseguia dizer quem chorava mais.

Amavam Kakashi. Muito.

– Nós não podíamos fazer nada, nem Minato-sensei podia. – sussurrou com sua voz ainda embargada pelo choro recente. – Mas o que nós podemos fazer agora é viver pelo Kakashi. Vamos ver as coisas do mundo por ele e ser feliz por ele. Isso é o que Kakashi iria querer.

Obito concordou com a cabeça e sorriu pequeno. Rin tinha o incrível dom de saber o acalmar.

– Você tem razão. – riu sem humor. – Kakashi diria que minha cara chorando é péssima.

ÊmuloOnde histórias criam vida. Descubra agora