Já repararam que a palavra magia é talvez aquela que tem mais significados? No dicionário podemos encontrar três: ela caracteriza a religião dos magos, a produção de actos extraordinários e sobrenaturais ou algo que encanta e fascina alguém. Quando era pequena sempre me perguntei qual das definições estavam corretas e sem me dar conta, criei para sempre uma conexão com a magia que iria durar a minha vida inteira. Sempre fui uma daquelas crianças que pedia aqueles kits de magia no natal ou então que era apaixonada por todas as histórias sobre bruxas, com apenas oito anos já tinha lido pelo o menos cinco vezes a melhor peça de teatro Macbeth do maravilhoso e único Shakespeare.Agora tentem imaginar uma criança de dez anos, amante do mundo fantástico, descobrir que é na realidade uma bruxa com poderes de verdade? Essa sou eu! Pensei que a minha mãe me tivesse dito isso somente para me fazer feliz mas uma semana depois descobri que era tudo verdade, eu era uma bruxa. Aparentemente o meu pai, do qual tinha poucas memórias, faz parte de uma das famílias de feiticeiros e bruxas mais antigas do mundo. Aquele foi o único momento em que me senti feliz em ser filha do misterioso Xaverius Torres, tudo o que tinha dele era uma foto que foi tirada na primeira vez em que ele me pegou no colo, aos meus cinco anos ele simplesmente disse que eu e a minha mãe tínhamos que vir para França e que ele tinha que ficar em Espanha, ele não me deu explicações e depois que entramos naquele comboio em direção a Paris nunca mais tive notícias dele. Quando eu e a minha mãe chegamos a Saint-Malo tivemos algumas dificuldades, especialmente porque nenhuma de nós as duas falava francês, foram dois anos com muitas dificuldades mas eles fizeram-nos mais fortes, eu considero-me uma cidadã francesa agora.
Então, quando soube que tinha poderes pedi que a minha mãe me ensinasse como utilizá-los e controlá-los mas tudo o que ela me deu foi um livro que supostamente o meu pai tinha deixado para mim, fiquei curiosa por saber como um livro iria me ajudar a utilizar os meus poderes mas ao abri-lo descobri que ele tinha escrito como uma bruxa ou um feiticeiro debutante podia usar a magia, e foi aí que começou a jornada no mundo mágico de Marianne Torres. Oito anos depois me transformei numa adolescente completamente normal, a única diferença que tinha era a habilidade de poder criar vento com miseras palavras ou então transformar, por exemplo, uma mesa de madeira num copo de vidro, nada demais.
Claro que dito assim, qualquer um diria que tenho a vida perfeita, aquela que todos queriam ter, e isso era verdade até quatro meses atrás. Às vezes ter poderes é uma coisa extraordinária mas outras vezes eles são apenas uma ilusão, eles fazem-nos crer que somos capazes de fazer qualquer coisa até mesmo desafiar as leis do universo. A pior coisa que poderia acontecer a uma bruxa é poder usar os seus poderes para quase tudo menos salvar a vida de uma pessoa amada...Afinal de tudo, quando um mero humano perde alguém querido já se sente culpado de não ter percebido que aquela pessoa precisava de ajuda, ou que estava doente e que isso poderia acabar com a vida dele, quando isso acontece com uma bruxa, ela não vai simplesmente se culpabilizar como vai se virar contra a magia e os poderes porque para ela, será como se uma parte dela mesma a tivesse traído.
Eu tinha apenas 15 anos quando encontrei, ou pensava que tinha encontrado,o amor da minha vida, desde que o Simon entrou na minha vida ela ganhou sentido, eu tinha finalmente percebido o que todos os personagens dos livros que lia falavam, eu tinha encontrado a minha alma gémea. Ficamos juntos por quase três anos e meio, e seriam muitos mais se ele não tivesse morrido durante a noite e tivesse me deixado sem nem me dar a oportunidade de me despedir. Quando eu descobri que ele estava com uma pneumonia e que se ele tivesse recebido o tratamento que precisava ele estaria aqui fiquei ainda mais furiosa, comecei a questionar o universo e os deuses da magia. Porquê me dar poderes se eu não fui capaz de perceber que ele estava doente? Porque ele? Se tenho poderes mas não os posso usar para salvar as pessoas para quê tê-los? Eram perguntas e mais perguntas para as quais eu não tinha as respostas.
A minha mãe tentou me convencer que eu não tinha que me culpabilizar, que nem o Simon sabia que estava com uma doença grave, que ele nunca me cobraria nada por não ter sido capaz de salvá-lo mas isso não diminuiu a minha dor e muito menos a culpa que sentia. Ninguém merece sofrer com uma perda destas tão jovem, muito menos quando estamos a planejar a vida com essa pessoa. Eu tentei amenizar a dor com os meus poderes, e estive muito perto de performar cada um desses feitiços mas desisti sempre na última da hora, porque eu sabia que a dor era uma das coisas que me fariam para sempre me lembrar dele e eu não queria perder isso. Somente um mês depois da morte dele, quando eu fiz dezoito anos, é que eu percebi que teria que reorganizar todos os planos para o meu futuro porque o que já tinha imaginado não ía acontecer.
Como podem ver, a magia nem sempre é fantástica ou algo incrível, ela pode ser muitas das vezes um segundo lembrete que nós continuamos incapazes de impedir que ente-queridos partam e nos deixem aqui sozinhos, ela é somente mais um lembrete para a incompetência dos seres humanos quando se trata do destino e da morte. Ela lembra-nos que ninguém à face da Terra tem esse poder, ninguém pode escolher quem fica e quem parte, ela mostra-nos que não é porque podemos curar uma gripe com apenas algumas rimas que podemos salvar alguém do destino que lhe foi traçado. Eu aprendi que os poderes que tinha podiam ser definidos como uma bênção ou uma maldição, a pergunta é: Qual das definições eu vou escolher?
Oláaa! Bem vindos ao prólogo da nossa nova história. Espero que gostem do que estou a escrever, foi tudo escrito do fundo do coração ❤️
Gostem, comentem isso ajuda muito e encoraja-me a continuar...
Até à próxima 😘
(Capítulos às Sextas feiras, Sábados e às vezes domingos)
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Uma Vida Magicamente Ordinária
ParanormalUma bruxa debutante, Marianne Torres, após a morte do namorado vai encontrar um desafio perigoso e difícil com o retorno do pai ausente. E como se isso não fosse suficiente, Peter Graham, um bruxo um quanto pouco arrogante e convencido vai chegar pa...