Olhei para a minha mãe e para o homem que estava ao lado dela e esperei que alguém dissesse alguma coisa, mas tudo o que obtive foi silêncio. Puro silêncio. Os olhos cor de âmbar do homem olhavam para mim como se eu fosse alguma aberração, já os cabelos do mesmo voavam...eu devo estar cansada demais porque tinha algumas das mechas do cabelo castanho que sobrevoavam a cabeça dele, como se fosse uma espécie de aura. Abanei a cabeça para sair dos meus próprios pensamentos e pousei o olhar sobre a minha mãe novamente, quando olhei para os olhos esmeralda dela vi medo, receio mas não consegui decifrar o porquê de toda aquela inquietação. Estava um pouco constrangida com aquela quietude, a minha mãe parecia uma estátua e a figura ao lado dela não estava melhor, tinha uma enorme vontade de bater as mãos na frente deles mas contive essa ânsia e mantive-me em pé na entrada da nossa sala de estar intercalando o olhar entre os dois adultos à minha frente. Após uns cinco minutos, decidi que era melhor se eu reagisse então num movimento calmo comecei a ir em direção à cozinha, não foi preciso muito tempo para uma voz familiar ressoar pelo o cômodo.
—Filha? Será que podes te sentar, precisamos falar— Olhei em direção à minha mãe e fiz o que me pediu.— Então...er...eu não sei como dizer isto.— Olhei para as mãos da minha mãe e vi que ela estava a tremer.
—Podes falar mãe— Pûs as minhas mãos sobre as dela para lhe dar coragem, ela deu um suspiro e limpou a garganta antes de falar.
—Eu creio que não reconheces o nosso convidado?— De relance voltei a olhar para o homem, mas mesmo de perto não sabia de onde conhecia aquele rosto tão familiar, neguei com a cabeça e vi um pequeno sorriso nos lábios da minha mãe.— Eu vou ir direta ao assunto, Marianne, este é o Xaverius...— Senti o meu sangue congelar no mesmo momento— O teu pai.
Afastei as mãos da minha mãe e juntei-as sobre o meu colo. O meu mundo tinha acabado de cair, não queria acreditar que o homem que odiei por tantos anos estava na mesma casa que eu, pior, a apenas alguns centímetros de distância de mim. Examinei em pormenor o homem que a minha mãe diz ser meu pai, mas como isso pode ser verdade se sempre que olho para ele tudo o que sinto é repulsividade, tristeza, repugnância. Estava a olhar para o homem que dizia amar a minha mãe, dizia me amar para depois nos enviar para longe sem nenhuma explicação, era incrível como o choque fazia tudo à nossa volta ficar mais vivo. Neste exato momento eu sentia cada batida que o meu coração dava, eu ouvia cada expiração dada pela a minha mãe, eu via as pequenas gotículas de suor que escorriam pela a testa de Xaverius. Eu estava em choque mas ele estava ansioso, impaciente, inquieto.
—Marianne?— A minha mãe tentou me tocar mas eu afastei-me— Por favor diz alguma coisa
—Eu não tenho pai, não desde que ele me abandonou com apenas 5 anos de idade— Ganhei coragem e olhei Xaverius nos olhos— Um pai protege, cuida, ama, não abandona como tu fizeste. O meu pai morreu quando tinha cinco anos, lamento informar-lhe mas eu não sou a filha que procura.
—Eu-
—Não quero ouvir desculpas— Não o deixei acabar de falar, olhei para a minha mãe e disse o que devia ter dito desde que este pesadelo começou— Eu não quero saber as razões para este covarde nos ter abandonado mas eu não vou perdoá-lo, agora eu vou sair e espero que quando voltar para casa este desconhecido já tenha ido embora.— Não deixei a minha mãe responder e saí disparada de casa, não sabia onde ia mas precisava de sair dali, não aguentava continuar a partilhar aquele ambiente com o homem que pensava ter direito em se pronunciar meu pai.
Vaguei pelas as ruas por quase uma hora até parar em frente a um parque, eu costumava vir aqui quando era mais pequena e por alguma razão tive uma súbita vontade de entrar. Abri o pequeno portão azul e adentrei, ao andar em direção ao baloiço avistei uma sombra sentada num dos baloiços, caminhei mais e quando estava a alguns metros do mesmo surpreendi-me ao conhecer o dono da sombra. Ele estava de costas para mim, parecia longe nos seus pensamentos, com cautela comecei a recuar para trás. Não precisava de mais um confronto já tive que chegue por hoje. Quando tornei o corpo a pensar que ele não me tinha visto a voz que tem o poder de fazer o meu corpo tremer pronunciou-se.
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Uma Vida Magicamente Ordinária
ParanormalUma bruxa debutante, Marianne Torres, após a morte do namorado vai encontrar um desafio perigoso e difícil com o retorno do pai ausente. E como se isso não fosse suficiente, Peter Graham, um bruxo um quanto pouco arrogante e convencido vai chegar pa...